Especialista dá dicas de como se relacionar se você é do time dos quietos
Em muitos ambientes de trabalho, se a pessoa for mais quieta e reservada, acaba não sendo o profissional de destaque da companhia, uma vez que as empresas costumam valorizar mais profissionais que gostam de aparecer e de se relacionar. Mas o que fazer se você for uma pessoa introvertida? E como saber se você faz parte do time dos introvertidos?
“Alguns de nós preferem observar, refletir, falar em tons moderados e frequentar ambientes mais calmos. Esses são os introvertidos”, afirma a coaching executiva, Milena Brentan.
Não tem nada de errado com as pessoas que possuem um jeito mais discreto, mas muitos trabalhos podem exigir o famoso networking, em que você precisa se relacionar com profissionais de diferentes áreas, empresas e até culturas. E por onde começar?
Um artigo da revista The Economist apresentou esse dilema e chegou a citar alguns conselhos que costumam ser comuns para as pessoas que são introvertidas se relacionarem no trabalho, como fazer contatos em filas, na escada rolante ou até nos banheiros, ou trazer informações pessoais para as conversas – essas são algumas das estratégias recomendadas, mas o próprio texto deixa claro que isso não pode ser uma receita a ser seguida para todas as pessoas em todos os ambientes.
“Para que uma pessoa introvertida se relacione com sucesso ela precisa ter um propósito para sair da sua zona de conforto. É possível um introvertido ter sucesso em comunicação com o público, por exemplo, mas depende da sua motivação,” afirma Brentan.
A origem do termo introversão
O perfil humano é construído por suas características genéticas e pelo ambiente em que vive, afirma a coaching.
“O ambiente pode ajudar você a desenvolver melhor as suas habilidades ou não, e isso também inclui a comunicação, a forma como você prefere se relacionar com as pessoas. Mas nunca será só a sua essência, sempre será uma combinação da genética com o ambiente em que vive e trabalha.”
As teorias do psicólogo Carl Jung deram origem ao termo introversão no início do século 20. Para Jung, enquanto extrovertidos se voltam para o mundo exterior para obter estímulo e energia, os introvertidos geralmente se sentem mais confortáveis e recarregados em ambientes tranquilos, muitas vezes preferindo a companhia de um pequeno grupo de amigos próximos.
“O extrovertido gosta de muita gente, falar muito e normalmente alto, ou seja, ser o centro das atenções. Já o introvertido gosta de ficar mais no canto dele, prefere lugares mais tranquilos e se relacionar com amigos mais próximos,” afirma Brentan.
A tendência dos introvertidos em refletir mais profundamente sobre as coisas é respaldada por pesquisas, diz a coaching. “Essa profundidade de processamento os leva a buscar conversas com significado e profundidade, em vez de interações superficiais.”
Ser introvertido é ser tímido e reservado?
Engana-se quem pensa que o introvertido é necessariamente uma pessoa tímida ou reservada.
“A timidez pode ser descrita como o medo ou ansiedade em situações sociais; enquanto a introversão é sobre onde uma pessoa encontra sua energia, seja no mundo exterior ou interior”, afirma Brentan.
Ser uma pessoa reservada, por sua vez, é simplesmente escolher não divulgar muito sobre si mesma ou pode ser hesitante em compartilhar suas opiniões, especialmente em contextos ou com pessoas desconhecidas (o que pode acontecer com introvertidos e alguns extrovertidos).
“Ou seja, você pode ser uma pessoa introvertida e aberta sobre o que acontece com a sua vida com um grupo pequeno de pessoas,” diz Brentan.
Como as empresas/sociedade veem o introvertido?
O perfil do introvertido pode ser mais bem aceito ou melhor compreendido dependendo da cultura onde a pessoa vive, diz a coaching.
“Quando me perguntam sobre a extroversão ser mais valorizada no ambiente corporativo, o primeiro aspecto que gosto de ressaltar é o aspecto cultural. Isso porque a valorização da introversão ou da extroversão pode variar com base na cultura e história de uma região.”
Para simplificar, a coach analisou de uma maneira geral a introversão X extroversão em diferentes partes do mundo.
No caso das culturas latino-americanas (como no Brasil), por exemplo, eles tendem a valorizar a socialização e a expressividade. A cultura norte-americana tem também uma forte inclinação para o “ideal extrovertido” – embora com uma crescente valorização da introversão até mesmo pelo cuidado com a inclusão e diversidade geral.
Já as culturas orientais tradicionalmente valorizam a harmonia, a reflexão e o coletivismo, o que as deixa mais próximas de valorizar pessoas – digamos – mais introvertidas, afirma Brentan.
“O estereótipo dos orientais, por exemplo, costumam falar no mesmo tom de voz e jamais interrompem uma pessoa no meio da fala.”
Apesar dessa análise cultural, o mundo já está globalizado e saber se relacionar com diferentes culturas é importante para uma carreira de sucesso. Neste cenário, além dos profissionais, a empresa também ganha um novo desafio, segundo Brentan.
“Todas as culturas enfrentam mudanças à medida que interagem com um maior número de países diferentes em ambientes de trabalho. A tendência é que quanto mais globalizada uma empresa é, mais preocupada ela fica em incluir diferentes culturas, e mais neutra ela precisa ser na valorização de introvertidos e extrovertidos.”
Há dicas para introvertidos fazerem contato?
Em um mundo cada vez mais tecnológico, as habilidades humanas estão sendo cada vez mais valorizadas e o “saber se comunicar” é uma das soft skills que as empresas mais valorizam atualmente.
Além das dicas que a The Economist apresentou em seu artigo de como começar uma conversa, a coaching recomenda que investir nas habilidades de comunicação é um bom caminho.
“Muitas vezes a pessoa não fica energizada por estar em todos os happy hour, de ser visto o tempo todo, mas se ela tiver uma motivação intrínseca, ela irá se relacionar, seja fora ou dentro do ambiente de trabalho,” afirma Brentan.
A habilidade de comunicação, diferente da extroversão que é algo relacionado à personalidade. é algo que pode ser aprendido, segundo Brentan. “Cada pessoa terá uma demanda e uma forma certa de se desenvolver, seja por meio de terapia, curso de apresentação em público, coaching, fonoaudióloga, entre outras formas. Fato é que o ponto inicial é sempre pela autopercepção.”
Quais são as contribuições?
Apesar de as qualidades dos introvertidos poderem ser subestimadas em contextos que valorizam mais os extrovertidos, diversas pesquisas comprovaram que eles possuem características que são importantes para diversas situações, afirma Brentan, que destaca as seguintes qualidades com base nos estudos:
Possuem conexões mais fortes quando envolvem tomada de decisão e planejamento;
“A capacidade natural de pensar profundamente sobre assuntos permite aos introvertidos uma compreensão detalhada e uma abordagem meticulosa aos problemas.”
São pessoas que tendem a ser ouvintes excepcionais;
“Eles dão espaço para que os outros se expressem, e processam as informações de uma maneira que muitos podem não perceber superficialmente,” afirma Brentan.
Costumam ter habilidade para comunicação escrita;
“Além de serem normalmente metódicos, a habilidade inerente dos introvertidos de se concentrarem e se dedicarem a tarefas, combinada com sua preferência pela comunicação escrita, os tornam comunicadores habilidosos em plataformas que exigem reflexão e precisão,” diz a coaching.
Capacidade de trabalhar sem necessidade constante de aprovação externa;
Tendem a ser profissionais calmos;
“Sua empatia e capacidade de sintonizar as emoções dos outros os tornam conselheiros e amigos confiáveis. Seu olhar atento aos detalhes e a capacidade de trabalhar sem a necessidade constante de aprovação externa são ativos em muitos ambientes, especialmente no mundo corporativo. Além disso, sua calma inata em situações de crise é uma força a ser reconhecida.”
CADASTRE-SE no Blog Televendas & Cobrança e receba semanalmente por e-mail nosso Newsletter com os principais artigos, vagas, notícias do mercado, além de concorrer a prêmios mensais.