Por: Adriana Mattos
Se avançar o projeto de abertura de capital do Carrefour no Brasil – alternativa confirmada ontem pelo comando da empresa na França – o grupo fará uma oferta primária de ações (os recursos obtidos são aplicados na empresa), e uma secundária (o valor vai para o bolso dos controladores). A emissão secundária será num volume menor do que a primária, segundo uma fonte a par do assunto. Se as condições de mercado se mostrarem favoráveis, o plano é fazer a oferta pública inicial (IPO) neste ano, apurou o Valor.
Os coordenadores da operação, que havia sido informada pelo Valor em setembro, devem ser Credit Suisse e Itaú BBA. Os bancos não comentam. Avaliações preliminares calculam uma oferta de até R$ 4 bilhões, segundo fonte que acompanha as discussões, mas as análises ainda estão sendo elaboradas.
Ontem, o diretor financeiro do Carrefour, Pierre-Jean Sivignon admitiu, pela primeira vez, que a varejista estuda a possibilidade de fazer uma oferta de ações na BMF&Bovespa. “Vamos nos expandir no Brasil e um IPO é uma das opções que temos em nossa caixa de ferramentas para financiar essa expansão nos próximos anos”. Ele não deu detalhes sobre a possível operação. Procurada, a empresa informou que não faria novos comentários.
Pelo que já foi discutido internamente, a maior parte do valor captado deve ser investida na abertura e reforma de pontos (dos hipermercados Carrefour e do Atacadão) e, em segundo lugar, em aquisições, segundo fonte a par do assunto. Abrir mais lojas no Brasil é uma prioridade determinada pelo presidente mundial Georges Plassat. Em sua análise, a tímida expansão orgânica da rede teria feito o Carrefour perder mercado na área de varejo alimentar para o Grupo Pão de Açúcar e Walmart no período. A rede francesa não abriu nenhum hipermercado em 2013. Também não faz nenhuma aquisição desde 2007, quando comprou o Atacadão.
É preciso retomar alguns investimentos, mas como o Carrefour não quer financiar a expansão no país com recursos do seu caixa – após Plassat iniciar um delicado processo de cortes de despesas e redução de dívidas – o caminho mais provável acaba passando pela abertura de capital. A decisão ganha importância estratégica pela dependência em relação à operação local – o país é o segundo maior mercado da rede no mundo. China e Brasil são os dois países onde a empresa pretende ampliar mais rapidamente a receita nos próximos anos, já disse Plassat.
Para isso, a rede precisa aumentar a área de vendas, ou vender mais por meto quadrado. Existem hoje 238 lojas do grupo no país, apenas nove pontos a mais do verificado há cerca de um ano e meio. Atualmente, são 98 pontos do Atacadão e 140 unidades do Carrefour no total (100 Carrefour Hipermercado e 40 Carrefour Bairro). Em julho de 2012, eram 229 pontos no total, sendo 85 lojas do Atacadão e 144 pontos do Carrefour.
Últimos números são pouco animadores em relação ao desempenho da varejista no país. A receita das lojas do Carrefour Brasil abertas há mais de 12 meses cresceu 5,6% de outubro a dezembro (no GPA Alimentar, foi 8,8%). A taxa no terceiro trimestre foi de quase 9%, portanto, houve desaceleração. Queda na inflação das commodities, que reduz preço, explica em parte a receita menor, informa em relatório de resultados. A empresa não informa o valor das vendas no Brasil no ano passado.
Segundo o relatório, as vendas mundiais do Carrefour somaram € 84,3 bilhões em 2013, queda de 1,2% sobre os €86,6 bilhões em 2012. As vendas orgânicas, que desconsideram oscilações cambiais e vendas de gasolina, subiram 2,5%. De outubro a dezembro, a soma atingiu €22,2 bilhões, redução de 1,5% (com vendas orgânicas subindo 3,2%).
Crise econômica europeia ainda afeta a demanda, mas resultados fracos no Brasil e na China também explicam, em parte, o número geral – assim como a depreciação das moedas latino-americanas. A varejista ressalta como fatores positivos no trimestre o desempenho do Atacadão e a melhora de resultados dos hipermercados no país.
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