Por: Felipe Marques e Carolina Mandl

A troca de comando do segundo maior banco privado do país, o Bradesco, chega à reta final com um desenho bastante diferente do que se delineava há menos de um ano. Um trágico acidente e uma operação da Polícia Federal alteraram o equilíbrio de forças e o favoritismo dos candidatos a assumir o posto de Luiz Carlos Trabuco Cappi. Pelo estatuto do banco, o executivo terá de deixar o cargo por atingir a idade limite, de 65 anos.

Dois candidatos que eram menos cotados, responsáveis por áreas de apoio do banco, ganharam espaço na disputa e são agora citados como favoritos por executivos da casa. São eles Alexandre da Silva Glüher, vice-presidente executivo responsável pelas áreas de jurídico e controles internos, e Maurício Machado de Minas, também vice-presidente executivo do banco, encarregado da tecnologia da informação da instituição. Entre os dois, Glüher se destaca mais, apurou o Valor, por melhor satisfazer um dos pilares da cultura corporativa do banco da Cidade Deus: o tempo

Nem de longe a escolha de um sucessor para Trabuco passou sem percalços. Um dos favoritos a assumir o cargo, Marco Antônio Rossi, presidente da Bradesco Seguros, morreu em novembro do ano passado em um trágico acidente de avião. Com uma trajetória semelhante à de Trabuco no banco e apoiado no bom desempenho da seguradora da instituição, era visto por muitos como o sucessor natural do executivo na presidência da instituição financeira.

Outro candidato forte na disputa, Domingos Figueiredo de Abreu, perdeu força ao ser indiciado em maio pela Operação Zelotes, da Polícia Federal, que apura manipulação dos julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Trabuco e Luiz Carlos Angelotti, diretor de relações com investidores do banco, também foram indiciados no mesmo caso. À época do indiciamento, o Bradesco negou interferência para manipular os resultados do Carf e ressaltou que a instituição perdeu o julgamento em questão.

Embora a expectativa de executivos do Bradesco seja de que as acusações da Zelotes se mostrem improcedentes, analistas e colegas de banco avaliam que o incidente reduziu as chances de Abreu. Mesmo porque, afirmam tais interlocutores, o resultado final das investigações da Zelotes deve ser conhecido depois de decidida a sucessão do Bradesco.

O processo de sucessão de Trabuco será formalmente disparado no dia 6 de outubro deste ano, data em que o executivo completa 65 anos. Pelo estatuto do banco, essa é a idade limite em que ele pode permanecer na presidência da instituição. O rito se encerra na primeira assembleia ordinária do banco de 2017, que deve ocorrer por volta do começo de março, quando o nome do escolhido será submetido aos acionistas. Há expectativa, porém, a julgar pelas últimas trocas de comando do banco, de que o Bradesco não vá esperar até a assembleia para anunciar o sucessor de Trabuco. Assim, o nome pode ser conhecido ainda neste ano.

Os planos para que Trabuco assuma o comando do conselho de administração do Bradesco depois de deixar a presidência-executiva permanecem, por ora, inalterados. A vaga é hoje de Lázaro de Mello Brandão, com 90 anos. É pouco cogitada a possibilidade de que alguma manobra adie a sucessão no banco.

No Bradesco, sucessão é tema quase nunca discutido abertamente por executivos do banco. Uma das poucas certezas desse processo, que é conduzido diretamente por Trabuco e Brandão, é que o nome será escolhido entre os seis diretores vice-presidentes do banco. No grupo, além de Abreu, Glüher e Minas, estão também Sérgio Clemente (atacado), Josué Pancini (rede) e Marcelo de Araújo Noronha (cartões).

Alexandre Glüher e Maurício Minas representam candidaturas de perfis diferentes. Glüher, que iniciou sua carreira aos 16 anos no Bradesco, em 1976, representa uma escolha mais conservadora para o banco, alinhada à cultura que valoriza o tempo de casa na instituição. Juntamente com Abreu, Glüher teve papel central nas negociações para a compra da unidade brasileira do HSBC, maior aquisição da história do Bradesco. Sua passagem por áreas semelhantes às de Lázaro Brandão no banco garantiu-lhe a simpatia do presidente do conselho.

Já Minas ingressou no Bradesco em 2009, vindo da CPM Braxis, empresa de TI que era controlada pelo banco. Foi trazido por Trabuco, que no mesmo ano assumiu a presidência do banco, e sua nomeação como presidente representaria uma quebra de paradigma. O Bradesco já teve um presidente que não começou a carreira por lá, Marcio Cypriano. No entanto, o executivo tinha mais de 25 anos de casa quando assumiu o posto.

Minas comanda os esforços para criar no Bradesco um banco digital, projeto visto como chave para manter a competitividade frente os rivais nos próximos anos. Também supervisiona as áreas de inovação do banco, além de ter comandado a Scopus, fornecedora de serviços de TI que o Bradesco divide com a IBM.

Ao escolhido, não vão faltar desafios adiante. Além de terminar a integração com o HSBC Brasil, o que envolve um longo processo de adaptação à peculiar cultura corporativa do Bradesco, o sucessor de Trabuco vai precisar conduzir o banco por um 2017 em que os calotes nos empréstimos ainda darão trabalho.

Por outro lado, a compra do HSBC dará ao banco oportunidade única de brigar com o Itaú Unibanco para recuperar o título de maior banco privado brasileiro. Com a aquisição, o Bradesco passou a ter R$ 1,277 trilhão de ativos. Já o rival, comandado pelo acionista controlador Roberto Setubal, tem R$ 1,398 trilhão em ativos, também graças a uma compra recente, a do chileno CorpBanca. Assim como o Bradesco, o Itaú também terá um processo de sucessão em 2017, quando Setubal fará 62 anos.

Procurado, o Bradesco não comentou o assunto.

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