O presidente do banco Santander Brasil, Marcial Portela, disse que os juros do cartão de crédito no país devem cair pela metade nos próximos dois anos.
Essa queda deve ser estimulada pela redução da taxa básica da economia, a Selic, e pela pressão do governo por juros mais amigáveis. Hoje, o consumidor pode pagar juros superiores a 10% ao mês no rotativo do cartão.
“Os bancos precisam dar um resposta à sociedade”, afirmou Portela nesta quinta-feira em evento promovido pelo banco na cidade de Santander, na Espanha.
Ele avaliou que, além da queda na taxa básica de juros, a redução no preço do crédito depende ainda de medidas do governo –em especial a regulamentação do cadastro positivo (central de dados que permitirá aos bancos e instituições avaliarem a capacidade de pagamento dos clientes).
“Isso é muito relevante para colocar os preços do crédito no lugar adequado.”
Outra medida que segundo ele deve deixar o custo do empréstimo mais barato deve ser tomada pelos bancos: a mudança no modelo de negócios da indústria bancária no país.
Hoje os bancos trabalham com um modelo chamado de crédito cruzado –quando um consumidor paga os juros de outro. Ocorre, por exemplo, nas compras parceladas sem juros. Na verdade, o custo dessa operação pode estar embutido nos juros cobrados no rotativo do cartão de crédito.
“Isso deve mudar em uns dois ou três anos”, afirmou. Segundo ele, para que mudanças nesse modelo de negócio realmente sejam alteradas, será necessária pressão por parte da sociedade. “Muitas vezes é preciso ter estímulo de fora”, afirmou.
CRESCIMENTO
O Santander estima que a concessão de crédito no Brasil possa crescer a taxas de 15% ao ano pelos próximos três ou quatro anos.
“E sem problemas de bolha”, disse Portela.
Na avaliação do banqueiro, a expansão do crédito deve ser estimulada pela expansão da classe média.
Hoje metade das cerca de 60 milhões de famílias do país não toma crédito. Com a redução nas taxas de juros, o acesso a empréstimos deve ser mais fácil a parte dessas famílias.
Portela afirmou, ainda, que os prazos para pagamento do crédito deverão aumentar. “Isso deve der feito, construído ao longo do tempo. Quando se alonga o prazo de pagamento, as parcelas ficam menores.”
INADIMPLÊNCIA
O banco espera que a inadimplência, que tem aumentado nos últimos meses, recue até o final do ano.
Atualmente, afirma, cerca de 7,5 milhões famílias estão com um nível de endividamento acima do considerado bom. “Mas isso não é grave, porque no Brasil o prazo médio do financiamento é baixo, de cerca de um ano e dois meses”, disse Portela.
A queda na inadimplência, afirmou, é esperada devido ao baixo desemprego no país. “As famílias dependem de emprego [para pagar o empréstimo], e o nível de emprego está bom.”
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