Por: Aline Oyamada e Talita Moreira
Ao liderar captações externas que movimentaram US$ 29,057 bilhões em 2013, o HSBC voltou ao primeiro lugar do “Ranking Valor de Captações Externas”. A retomada da liderança é resultado da presença nas maiores operações e da ampla oferta de produtos do banco, que atraiu clientes em um ano de bruscas mudanças nas condições dos mercados de capitais
O HSBC volta ao topo depois de ter caído para a terceira colocação na classificação do ano anterior, quando seu desempenho refletiu o fato de ter ficado de fora de uma grande captação da Petrobras. De 2010 a 2014, o banco britânico esteve por quatro vezes no primeiro lugar da lista.
A reconquista da liderança, segundo Alexandre Guião, chefe da área de atacado (global banking) do HSBC, é resultado da vasta gama de produtos que o banco oferece, tanto no mercado de capitais como em parceria com agências multilaterais. “Quando conversamos com os clientes, oferecemos várias opções de uma vez”, afirma.
Com flexibilidade e presença global, o HSBC encabeçou o ranking de bônus, ficou em primeiro lugar nas emissões de títulos para o setor público e em segundo lugar na lista de bônus corporativos. Foi, ainda, o quarto colocado no ranking de empréstimos. O banco também liderou as captações em outras moedas que não dólar, com um total de US$ 1,815 bilhão em operações.
O britânico também se destacou por sua atuação em captações com produtos elaborados, que permitem mais flexibilidade. “Um fator para superar o desempenho do mercado foi a especialização do banco em produtos que não são ‘plain vanilla’ (básicos)”, afirma o diretor de mercado de capitais do HSBC, Alexei Remizov.
A emissão de bônus realizada pela República em outubro – que envolveu uma parcela de troca de títulos – se encaixa nesse perfil. Na ocasião, o Tesouro captou US$ 3,25 bilhões com a oferta de notas com vencimento em 2025. Desse volume, US$ 1,7 bilhão foi utilizado para trocar bônus de emissões anteriores que pagavam cupons mais altos e eram menos líquidos. Investidores dos papéis antigos tiveram preferência na compra dos novos. Uma parcela de US$ 500 milhões foi usada para recomprar bônus de quem não quis aderir à nova colocação. A diferença foi para o caixa do Tesouro. O desenho da operação ficou conhecido como “switch” e passou a ser adotado por outros bancos em captações de outros países, diz Remizov – um banqueiro russo que mora em Nova York, mas vive na ponte aérea com o Brasil.
Outra operação relevante para o HSBC foi a emissão de US$ 2 bilhões em bônus perpétuos feita pelo Banco do Brasil. Com essa operação e outra em 2012, o BB foi a primeira instituição do país a ter instrumentos de dívida subordinada considerados pelo Banco Central (BC) elegíveis a compor seu patrimônio de referência sob as regras de Basileia 3.
Emissões como a do BB, de capital híbrido, devem se tornar mais frequentes a partir deste ano. Isso, diz Remizov, é bom para o HSBC, que tem atuado em operações desse gênero ao redor do mundo. “Temos muitos precedentes globais”.
A instituição também começou a obter resultados da estratégia de atender empresas sem histórico de captações externas, que entraram para o radar do banco em 2012. Para isso, o HSBC fez mudanças em sua estrutura. Os maiores grupos são atendidos pela área de atacado, enquanto o segmento logo abaixo fica a cargo do banco corporativo.
“Em 2013, colhemos os frutos do esforço para atender empresas médias”, disse Guião, citando as operações feitas com Minerva e OAS Investimentos no ano passado. Assessorado pelo HSBC, o frigorífico captou US$ 850 milhões com uma emissão de bônus e usou US$ 648,9 milhões do total para recomprar títulos antigos. A subsidiária do grupo OAS, por sua vez, levantou US$ 375 milhões para refinanciar dívidas.
Com essa aposta diversificada, o HSBC conseguiu ser ágil para vencer o maior desafio de 2013, a guinada nos custos das captações via bônus a partir do fim de maio. Na ocasião, o então presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, sinalizou que o banco central americano poderia começar a reduzir os estímulos monetários nos meses seguintes.
O inesperado anúncio pegou o mercado de calças-curtas, já que a expectativa era que as compras de ativos durassem mais tempo. “O ‘tapering’ [como é chamada a retirada dos estímulos] causou um rebalanceamento nos rendimentos”, diz Guião. Com a aversão ao risco, os investidores correram para os ativos mais seguros. O retorno dos Treasuries subiu e captar via bônus ficou mais caro.
Os tomadores, então, voltaram a olhar o mercado bancário como fonte de financiamento e os empréstimos ganharam força. Guião explica que, embora os títulos de dívida permitam a tomada de recursos em prazos mais longos, as operações mais curtas podem mais ser atraentes em algumas circunstâncias. Em decorrência desse cenário, os empréstimos não bilaterais em moeda estrangeira feitos pelo HSBC subiram 40% no ano passado, alcançando US$ 6,153 bilhões de acordo com o levantamento do Valor.
No mercado de bônus, selecionar o melhor momento para captar ficou ainda mais importante. Remizov diz que o HSBC esperou as melhores janelas para lançar as operações de seus clientes. “Não vamos colocar a empresa [no mercado] de qualquer jeito”.
Essa cautela continua sendo importante em 2014. O calendário carregado de eventos, diz Guião, tende a desacelerar as captações externas no segundo semestre, em que há Copa do Mundo e eleições. “Será um ano de janelas de oportunidade. O segundo semestre terá muita volatilidade”, observa.
Segundo os executivos, as companhias já estão antecipando suas captações para evitar a instabilidade do segundo semestre. “O começo deste ano foi muito bom”, afirma Remizov, destacando a participação do banco nas duas emissões de bônus feitas pela Petrobras em 2014. A petroleira captou € 3,05 bilhões e 600 milhões de libras em uma operação em janeiro e outros US$ 8,5 bilhões em março.
O HSBC também participou da megaemissão de US$ 11 bilhões da estatal em 2013, a maior já feita por uma empresa de um país emergente. A liderança nessa operação foi importante para garantir o primeiro lugar no ranking de 2014. No levantamento do ano passado, a instituição caiu para o terceiro lugar após ter ficado de fora de uma captação de US$ 7 bilhões da Petrobras em 2012.
A expectativa, dizem os executivos do banco, é que os custos de captação externa continuem subindo daqui para a frente. É por isso que esperam ver mais operações de gestão de passivos neste ano, com as empresas tentando alongar prazos e diminuir custos, melhorando sua curva de rendimentos. “Se os bônus foram emitidos em um momento ruim, ainda vale a pena recomprá-los”, diz Guião.
Para driblar essa alta no custo das captações em dólares, o HSBC está de olho em outras moedas. Além do preço, um atrativo é a diversificação do passivo, algo de interesse das companhias brasileiras. Segundo Remizov, a vasta presença geográfica do banco ajuda muito nesse sentido. A única dificuldade é que muitos mercados ainda não estão bem estabelecidos, o que deve tornar o processo lento. “Faltam prazo e volume”, afirma.
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