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07 de julho de 2015 - 18:09 - atualizado às 20:17

HSBC-com-receio-de-demissoes-curitiba-se-mobiliza-diante-de-venda-televendas-cobranca

Por: Ligia Guimarães

Planejar os negócios do fim do ano está mais difícil para o gerente comercial Gilson Rodrigues, que administra um hotel no centro de Curitiba, na Rua XV de Novembro. No Hotel L’avenue, que funciona há 15 anos em frente ao Palácio Avenida, Rodrigues gerencia 60 quartos que são, ao longo do ano, ocupados em grande parte pelo turismo de negócios. Em dezembro e janeiro, época em que cai o movimento de executivos e políticos, o principal filão do setor hoteleiro passa a ser o movimento em torno do show do Natal HSBC, projeto patrocinado pelo banco e que atrai anualmente mais de 200 mil pessoas, pelas estimativas da própria instituição.

“O Paraná adotou o HSBC como a continuidade de uma empresa que começou no Estado, e o banco faz parte da identidade da cidade”, diz Rodrigues.

Em 2014, calcula-se que turistas atraídos pelo show do HSBC tenham movimentado R$ 52 milhões na cidade. Além disso, os clientes, funcionários e executivos do banco que vão a Curitiba ao longo do ano respondem por 15% da ocupação do hotel, afirma o gerente do Hotel L’avenue.

O evento de fim de ano do HSBC é apenas um símbolo do quanto as negociações para a venda da filial brasileira do banco inglês no Brasil têm mobilizado a sociedade paranaense e resultaram até num périplo de políticos do Estado a Brasília na semana passada.

A torcida geral entre bancários, empresários e o poder público em Curitiba é para que o banco fique nas mãos de um comprador estrangeiro, que ainda não tenha estrutura física no Brasil e mantenha a sede em Curitiba, a exemplo do que se viu quando o HSBC comprou o Bamerindus.

Presente há 18 anos na capital paranaense, a marca tem forte relação econômica e afetiva com a cidade, já que se trata de um grupo estrangeiro que manteve os vínculos firmados com o Estado pelo antigo banco regional. Três dos cinco centros administrativos que o banco tem na cidade empregam 5,5 mil funcionários em três bairros (Hauer, Água Verde e Portão), que desenvolveram polos de serviços e comércio em torno das atividades da instituição financeira.

“Para nós, a aquisição por um banco internacional, de preferência que não tenha rede, o que não seria o caso do Santander, seria mais interessante, porque ele dependeria dessa estrutura administrativa e da rede de agências”, diz Elias Jordão, presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba.

Dos 21,5 mil empregados diretos do HSBC no país, 7 mil estão em Curitiba, e chegam a 8,5 mil quando se contabiliza os terceirizados. “Nessa conta entram apenas os que prestam serviços bancários terceirizados, nem entra o vigilante ou a moça do cafezinho”, diz Jordão. “Esses 8 mil empregos que poderiam ser perdidos em uma tacada só é o que o município não consegue gerar em um ano todo em todos os segmentos da economia”.

Uma vez demitidos, a percepção é que os funcionários do HSBC teriam dificuldade para manter seu padrão de renda. O salário médio dos empregados no banco é de R$ 5 mil, bem maior que os R$ 1.200 da média da oferta de empregos curitibana.

A vice-prefeita da capital e secretária municipal do Trabalho e Emprego, Mirian Gonçalves, estima que a venda do HSBC e a eventual mudança da sede do banco para outra capital acarretaria a perda de mais de R$ 80 milhões na arrecadação do município, ou 1% do orçamento da capital, de acordo com a prefeitura. “Quando o Banestado fechou no bairro de Santa Cândida, tudo o que tinha ao redor faliu. Não é diferente, é quase a mesma coisa. A situação é assustadora”, diz a vice-prefeita. Para o caixa do governo federal, a prefeitura calcula que a perda com o pagamento de seguro-desemprego aos demitidos chegaria a R$ 9,7 milhões por mês em Curitiba e R$ 30 milhões por mês caso sejam dispensados, numa situação extrema, os 22 mil bancários que o HSBC tem no país.

Mirian, que antes de ocupar o cargo na prefeitura trabalhou por 30 anos como advogada trabalhista, com muitas causas no setor bancário, empreendeu na semana passada uma série de visitas em Brasília para buscar apoio à causa curitibana. Foi recebida pelo presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinicius Marques de Carvalho, e saiu de lá com o compromisso de que a venda do banco no país será avaliada, além da sugestão de que a prefeitura e o sindicato dos bancários participem do processo formalmente, como terceira parte interessada no negócio. No dia seguinte, o encontro foi com o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini.

Para as duas autoridades, Miriam entregou uma carta em que lista as preocupações e detalha as perdas que o negócio pode gerar para Curitiba. O objetivo é pleitear que o Cade e o BC imponham ações que restrinjam o impacto social da venda. Miriam cobrou a participação dos senadores paranaenses e contou com a companhia da senadora Gleisi Hoffman na sua ronda. “Havendo a demissão insuperável, que haja ao menos um escalonamento, um tempo de garantia para os trabalhadores”.

A cidade, a exemplo do país, vive um 2015 desaquecido. Depois de gerar 9 mil empregos em 2013 e 5 mil em 2014, acumula o fechamento líquido de vagas este ano. Jordão, do sindicato dos bancários, conta que, entre os funcionários do banco atualmente, o clima é de ansiedade e insegurança.

O sindicato também defende que as negociações para a venda do banco incluam garantias para evitar demissões em massa.

“Quando o HSBC veio ao Brasil, em 1997, o banco teve benefícios do Proer”, diz Jordão, referindo-se ao plano do governo de socorro aos bancos na época. “Então para nós não justifica que ele saia do Brasil cortando empregos e nem que as autoridades brasileiras deixem a sociedade curitibana na berlinda.”

A empresária africana Elisa Li Wu tem um restaurante em frente ao Palácio Avenida há mais de 20 anos e torce para que o futuro comprador da subsidiária do grupo inglês no país não tire os empregos e nem sua estrutura de Curitiba, já que a marca faz parte da história da cidade e ajuda a atrair turistas. “Torço para que a tradição continue.”

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