Por: Stela Campos
Um estudo realizado com quase 500 executivos do alto escalão das maiores empresas do país revela que 77% esperam um desempenho apenas mediano de suas empresas nos próximos quatro anos. Entre os demais, apenas 11% acreditam que a performance de suas companhias será excepcional e outros 12% que ela será sofrível. O quadro não é sombrio, mas segundo a professora Betania Tanure, responsável pelo levantamento, representa um pensamento vigente, que é aceitar o que ela chama de “subdesempenho satisfatório”.
Os fatores que levam os dirigentes a serem tão conservadores ao projetar o futuro de suas organizações estão relacionados ao ambiente externo e interno. “O quadro macroeconômico não é amigável, mas algumas questões estão erradas também da porta para dentro”, diz. Segundo a pesquisadora, a cultura organizacional no país ainda é baseada no autoritarismo, o que não cria entre os subordinados a necessidade de se ter um desempenho excepcional. “Não existe prontidão para realizar mudanças, os processos são burocráticos e as metas conflitantes. Falta clareza e um modelo de gestão consistente.”
O cenário econômico foi citado como o principal entrave externo por 26% dos respondentes. O presidente do Citibank, Helio Magalhães, prevê grandes desafios para o seu setor nos próximos quatro anos. “Os bancos caminham lado a lado com o desempenho da economia. Se ela não cresce, eles entram em crise.”
A política é citada por 18% dos pesquisados como um empecilho para o desenvolvimento das empresas, portanto, é outra variável importante para o negócio. “O nível de otimismo das pessoas e a percepção externa também têm peso importante”, diz. O banco emprega seis mil funcionários no Brasil.
Para o presidente do Banco Votorantim, João Roberto Teixeira, as questões macroeconômicas são as que mais preocupam no curto prazo, tanto no Brasil como globalmente. “Temos o desafio da tendência de alta dos juros americanos e a liquidez diminuindo. Isso terá um impacto sobre todas as economias do mundo”, diz.
O executivo afirma que o crescimento limitado do país é o grande desafio, mas acredita que a situação vai mudar. “O ano que vem será melhor e o Brasil vai voltar a crescer, mesmo com taxas pequenas.” Teixeira, que comanda cinco mil colaboradores no banco, recomenda cautela no curto prazo, mas vê boas perspectivas no médio. “Não sou do grupo dos pessimistas.”
Chieko Aoki, presidente da rede de hotéis Blue Tree, espera manter no ano que vem a taxa de crescimento deste ano, que deve fechar em torno de 15%. A rede de 23 hotéis emprega 2.500 funcionários diretos. Um cenário macroeconômico ruim nos próximos anos, no entanto, pode prejudicar o fluxo de clientes e complicar as empresas do setor hoteleiro. “Sem dinheiro, ninguém viaja”, diz. A executiva, porém, concorda com as mudanças que devem acontecer com a posse da nova equipe econômica do governo. “Será uma política econômica mais ortodoxa e austera. Precisamos fazer isso primeiro, para depois termos um crescimento arrojado”, afirma.
Teixeira, do Banco Votorantim, também acha que as mudanças propostas no novo governo de Dilma Rousseff serão positivas. “Vejo uma equipe altamente qualificada, que pode superar os atuais desafios”, diz. Para Magalhães, do Citibank, a visão de longo prazo do banco em relação ao país continua a mesma. “Sabemos que 2015 será um ano de ajustes.”
Outras questões que tiram o sono dos gestores no país, segundo 21% dos pesquisados, são os encargos tributários. Outros 15% destacaram os custos trabalhistas. “Temos uma legislação antiga e inflexível, que acaba causando uma enorme pressão sobre o empregador e também sobre o empregado”, diz o presidente do Citibank. “São pagos mais de R$ 26 bilhões de indenizações trabalhistas anualmente no país. É um número astronômico.”
Dentro dos muros das organizações, o que chama atenção no estudo é que o maior entrave nos próximos quatro anos é o chamado “subdesempenho satisfatório”, citado por 19% dos respondentes – sendo que 11% atribuem esse item à organização e 8%, aos indivíduos. Em seguida, vem a busca por sinergias entre as diversas áreas da companhia. “O desafio é buscar essa cooperação para ter mais eficiência operacional”, diz o presidente do Banco Votorantim.
Chieko Aoki, da Blue Tree, ressalta que a busca por maior produtividade tem sido o objetivo da rede há quase dois anos. “Montamos um programa específico e estamos bastante focados nisso.” Ela diz que hoje tem uma equipe mais enxuta e melhor preparada para enfrentar esse momento do país. “Nossa reestruturação trouxe resultados positivos”, diz.
Outro desafio citado pelos dirigentes para os próximos quatro anos é a inovação. “Somos um banco complexo, presente em mais de 160 países” diz Magalhães, do Citibank. “Precisamos acompanhar as inovações de empresas menores, que são mais ágeis e têm uma capacidade digital bem maior, como o PayPal.”
Teixeira, do Banco Votorantim, diz que chega um momento em que só se consegue ter mais eficácia ao intensificar os processos de inovação internamente. “É fundamental superar os desafios de curto prazo para manter a visão positiva e a motivação.”
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