Por: Ciara Nugent
Gauthier Charrier, estudante de design gráfico, entrou em uma livraria de Paris e ficou se perguntando onde estavam os livros.
“Vi aquele enorme espaço aberto, com apenas um par de banquinhos, e fiquei imaginando que tinham esquecido alguma coisa”, conta.
A escassez de estoque da Librairie des Puf, operada pela editora Presses Universitaires de France, não é um problema com distribuidores e sim o seu modelo de negócio.
A loja vende livros impressos na hora, de acordo com o pedido do cliente e diante de seus olhos. Eles são feitos na Espresso Book Machine (algo como máquina expressa de livros em inglês).
A On Demand Books, empresa americana que fabrica a máquina, escolheu seu nome inspirada por uma atividade que dura o mesmo tempo que fabricar um livro: tomar um cafezinho.
A máquina fica nos fundos da loja e zumbe discretamente ao transformar arquivos PDF em livros de capa mole.
Os clientes usam tablets para selecionar os títulos que desejam e podem ainda acrescentar dedicatórias.
Alexandre Gaudefroy, diretor da livraria, confessa que, no começo, os clientes ficam desconfortáveis com a ausência das obras físicas para olhar e folhear. Mas, no fim, “todos os fregueses se surpreendem.”
Do ponto de vista dos negócios, a economia é evidente. “Não me preciso preocupar com estoque. Estamos em uma loja de menos de 80 m² e posso oferecer todos os títulos que quiser”, diz Gaudefroy.
E são muitos títulos. O catálogo da Les Pufs inclui 5.000 obras, além de outras 3 milhões compiladas pela On Demand Books.
Entre elas, algumas antigas que não estão em livrarias convencionais. “Graças ao modelo de impressão a pedido, podemos reviver velhos títulos que não seriam reimpressos pela editora porque venderiam apenas cinco ou dez cópias por ano”, explica Gaudefroy.
TRANSFORMAÇÃO
A impressão na hora é uma reinvenção radical de uma loja que foi inaugurada em 1921.
A Librairie des Puf original ocupava diversos pavimentos e tinha vitrines repletas de livros, atraindo uma multidão de leitores das universidades parisienses.
Por muito tempo, ela foi um símbolo cultural e acadêmico. Até que se viu forçada a fechar, há cerca de dez anos, devido à queda dos lucros e alta dos aluguéis.
Não foi a única. De 2000 a 2017, 28% das livrarias de Paris fecharam as portas, de acordo com levantamento da Agência de Planejamento Urbano da capital francesa.
O aumento dos aluguéis na região central densamente povoada da cidade foi o principal responsável pela crise. Outro grande fator foi a crescente concorrência dos sites de comércio eletrônico.
A Librairie des Puf reabriu em março passado, beneficiada por um programa municipal que oferece aluguel de espaços no bairro parisiense de Quartier Latin a preços abaixo do valor de mercado para empresas consideradas culturalmente significativas.
“Imaginávamos que venderíamos 10 a 15 livros por dia, mas estamos vendendo 30 ou 40″, diz Gaudefroy. “Já estamos pensando em abrir lojas em outras grandes cidades universitárias da França, como Lille, Bordeaux e Lyon.”
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