Um dos principais private equities do mundo abre escritório em São Paulo e diz não temer “soluços” de curto prazo na economia do País
Por: Marcio Juliboni
A Apax Partners, uma das maiores empresas de private equity do mundo, abriu nesta semana seu escritório em São Paulo. À frente da equipe de sete pessoas, está Walter Piacsek. Ele é o dono da caneta que pode assinar cheques de até US$ 500 milhões para comprar empresas por aqui e na América Latina.
O dinheiro sairá dos US$ 7,5 bilhões que o private equity levantou globalmente por meio do fundo Apax VIII, cuja captação fechou em junho. Agora, o private equity tem uma janela de dois a três anos para alocar os recursos em compras de controle ou participações.
Embora tenha aberto seu escritório no Brasil nos últimos dias, a Apax começou a chamar a atenção do mercado local em 2010, quando comprou o controle da Tivit, empresa de serviços de tecnologia então controlada pela Votorantim e pelo Pátria Investimentos. O negócio saiu por quase R$ 900 milhões.
Piacsek falou à DINHEIRO sobre os planos para o Brasil, por telefone, de Nova York. Leia os principais trechos da conversa.
DINHEIRO – Como será a estrutura do escritório de São Paulo?
WALTER PIACSEK – É um escritório modesto, que contará com sete pessoas. Mais do que o tamanho, vamos trabalhar com pessoas que conhecem as áreas de negócios que estudamos. Por isso, sempre haverá equipes de outras partes do mundo nos ajudando em São Paulo.
DINHEIRO – A Apax fechou escritórios neste ano e reduziu a equipe. Como justificar a abertura da unidade aqui no Brasil?
PIACSEK – Temos olhado e feito negócios no Brasil há muito tempo. Compramos a Tivit em 2010. Nossa decisão não é repentina. Sobre o fechamento de outros escritórios, é preciso contextualizar a situação. A Apax só fechou duas operações, na Espanha e na Itália, mas deslocou a equipe para a sede, em Londres, porque era mais racional.
DINHEIRO – A Apax reforça a aposta no Brasil, em um momento de desconfiança com a economia local. Como os senhores avaliam o cenário brasileiro?
PIACSEK – Ao contrário de alguns tipos de investidores, que precisam olhar muito o curto prazo, somos um private equity. O curto prazo é desafiador, mas olhamos negócios para o longo prazo. Nos próximos sete, dez anos, as tendências fundamentais do Brasil continuarão, como o crescimento da classe média, a busca das empresas por produtividade e a expansão dos serviços B2B (prestação de serviços para empresas). É isso que justifica nossa presença no País. Não tememos soluços de curto prazo.
DINHEIRO – Os srs. buscam negócios entre US$ 100 milhões e US$ 500 milhões, mas não descartam até US$ 1 bilhão em parcerias. Que tipo de empresas buscam?
PIACSEK – Os números são esses mesmos. Até US$ 500 milhões, podemos assinar o cheque sozinhos, mas ninguém assina um cheque de US$ 1 bilhão. Só em parceria com outros investidores. Não investimos em commodities, nem em empresas muito intensivas em capital. Olhamos consumo, varejo, saúde, tecnologia, telecomunicações e serviços B2B. São setores muito interessantes no Brasil.
DINHEIRO – Os srs. buscam compra de controle, como na Tivit, ou também participações minoritárias?
PIACSEK – Estamos bem dispostos a fazer aquisições minoritárias, desde que seja uma participação razoável e que possamos influenciar na gestão. Não adianta comprar uma fatia que não nos dê direito a falar nada.
DINHEIRO – Cheques de até US$ 500 milhões permitem olhar empresas grandes, não? Qual é o porte dos negócios que buscam?
PIACSEK – Sim. Tipicamente, buscamos empresas médias e grandes. Não dá para falar em tamanho de faturamento, porque o que importa é olhar a lucratividade da companhia. Uma empresa pode faturar R$ 1 bilhão, mas dar menos retorno que outra com receita menor. Aí, ela vai valer menos pra nós.
DINHEIRO – Qual é o prazo médio de investimento que os srs. buscam?
PIACSEK – Cerca de cinco anos.
DINHEIRO – E qual será a estratégia de saída desses investimentos? Bolsa? Venda para outros sócios?
PIACSEK – A bolsa é uma boa alternativa, mas temos de olhar caso a caso. Às vezes, podemos ser surpreendidos por uma proposta.
DINHEIRO – A Apax vai usar o Brasil como base para buscar negócios na América Latina?
PIACSEK – Sim, meu mandato é para o Brasil e a América Latina. Os países que mais nos interessam são a Colômbia, Peru, Chile e México.
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