Proposta feita pelo Bradesco garante que ele se aproxime, em termos de ativos totais, de seu concorrente Itaú
O HSBC anunciou ontem que vendeu sua operação brasileira para o Bradesco. O preço acertado foi de US$ 5,186 bilhões, que equivale a aproximadamente R$17,6 bilhões, a maior aquisição na história do Bradesco.
A venda faz parte da estratégia do HSBC de reestruturar suas operações globais e eliminar ativos considerados de maior risco.
Do ponto de vista do Bradesco, a aquisição deve ser um bom negócio no longo prazo. Com R$ 160 bilhões em ativos, o HSBC faz com que ele se aproxime do Itaú, seu principal concorrente, que ganhou uma vantagem grande após a fusão com o Unibanco em 2008.
Segundo o professor William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV, o primeiro interesse do Bradesco na compra era garantir que o Itaú não ganhasse a disputa. O segundo é que não sobra qualquer instituição desse porte para ser comprada no país. Em termos de varejo, há ainda bancos como o Banrisul e o Banco do Nordeste, mas eles são menores e com atuação mais regional.
“Em um momento em que o sistema parou de crescer, o crédito está andando de lado, a bancarização já dá sinais de esgotamento e a possibilidade de crescimento orgânico é baixa, eles ganharam alguma coisa entre 10 a 20 anos de crescimento em uma só tacada”, afirma o economista Roberto Troster.
Foi mais ou menos essa análise que o próprio presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, fez em teleconferência na manhã desta segunda-feira. “Essa proposta [de aquisição do HSBC] representou um ativo único. Ela significa um atalho para o crescimento”, afirmou.
Segundo Troster, além de escala, o Bradesco também ganha escopo com a aquisição. Há uma baixa sobreposição entre os serviços dos dois bancos, ou seja, eles têm atuações diferentes e poderão se complementar. O HSBC, por exemplo, possui uma carteira de clientes de renda mais alta.
Em comunicado, o Bradesco afirmou que a aquisição também permitirá o aumento da gama e do diferencial dos produtos que são oferecidos no Brasil, especialmente nos mercados de seguros, cartão de crédito e administração de fundos (asset management).
Uma curiosidade é que, se em total de ativos o Bradesco ficará quase empatado com a Caixa Econômica Federal e mais próximo do Itaú, em número de agências ele chegará muito perto do Banco do Brasil, — ainda que algumas devam ser eliminadas, caso haja superposição.
No curtíssimo prazo, no entanto, a compra não agradou aos investidores. As ações do Bradesco caíram nesta segunda-feira porque, na avaliação de operadores, o valor acertado para a aquisição ficou acima do esperado pelo mercado, que era de cerca de US$ 4 bilhões.
A conclusão da transação está prevista para o segundo trimestre de 2016 e está sujeita à aprovação dos órgãos reguladores.
Até lá, nada muda para os clientes HSBC, segundo os bancos. “Os clientes continuarão a ser atendidos da forma habitual e, após a conclusão da operação, passarão a contar com todos os produtos, serviços e comodidades oferecidos pelo Bradesco”, diz o comunicado assinado por Luiz Carlos Angelotti, diretor de Relações com Investidores do Bradesco.
Segundo Eid, o Bradesco deve eliminar a marca HSBC mais rapidamente em comparação ao processo de fusão do Itaú e Unibanco. E apesar de o HSBC afirmar que “segue operando normalmente e precisa dos seus talentos para alcançar os seus objetivos de negócios”, o professor da FGV diz que a demissão de alguns funcionários é natural em casos como esse para que haja ganho de eficiência.
Em termos de concentração, apesar de haver um aumento, a avaliação é de que a mudança não altera de maneira significativa o cenário do sistema bancário nacional.
Estrangeiros no varejo brasileiro
A venda do HSBC é mais uma evidência para a tese de que bancos estrangeiros não conseguem prosperar no varejo brasileiro. Não há um consenso sobre por que isso acontece, mas o fato é que ganhar das grandes empresas nacionais é complicado. A exceção é o Santander, que foi ajudado pela aquisição do quase centenário Banespa.
Após anunciar a venda, o HSBC confirmou que planeja manter uma pequena presença no Brasil para atender grandes clientes corporativos em suas necessidades internacionais.
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