Por: Felipe Marques
Caçula dos grandes shoppings de São Paulo, o Iguatemi JK aspira virar sinônimo de tudo que há de chique na cidade. Em meio ao glamour das grifes lá instaladas (que incluem Emporio Armani, Yves Saint Laurent e Gucci) é quase impossível esperar que alguém repare na maquininha POS (“Point of Sales”, em inglês) em que passam os cartões de crédito e débito da “high society” paulistana.
Quem se der ao trabalho de olhar, porém, vai notar uma particularidade. No Iguatemi JK, as maquininhas normalmente onipresentes da Cielo e da Redecard no comércio são raridade. Lá, a preferência é por uma maquineta vermelha, estampada com as marcas Santander e GetNet. Não por acaso, o shopping é vizinho da Torre Santander, a sede do banco espanhol no Brasil.
O Iguatemi JK é um exemplo do que vem fazendo o Santander na área de credenciamento de cartões. Criada em janeiro de 2010, a “joint venture” entre Santander e a gaúcha GetNet vem ganhando pouco a pouco espaço em um mercado quase integralmente dominado por Cielo e Redecard. Porém, é em 2013 que a aliança vai enfim mostrar a que veio.
Até o fim do ano, o banco vai precisar quase duplicar o volume de transações que captura, se quiser cumprir a meta de ter 10% do mercado no fim de 2013. A projeção foi firmada pouco depois da criação da joint venture, em 2010. Hoje, o Santander responde por cerca de 5% do volume financeiro transacionado em cartões, segundo fontes do mercado. No terceiro trimestre do ano passado, dado mais recente do banco, era 3,8%.
“A meta está mantida e vamos ao longo do ano chegar perto dela. A arrancada final vai depender de conquistarmos um dos cinco maiores varejistas do país”, diz Cassius Schymura, diretor de meios de pagamentos do banco.
O alvo inicial do banco foram os pequenos e médios lojistas, via um pacote que combina os serviços de credenciamento com outros produtos bancários, como o adiantamento de recebíveis e outras formas de financiamento, na batizada “conta integrada”. Desde o começo do ano passado, o banco começou a mirar o grande varejo e hoje trabalha, por exemplo, com Riachuelo e, mais recentemente, C&C (que era parceira do Itaú Unibanco em cartões até meados do ano passado). No fim de setembro, eram 364 mil estabelecimentos com a maquininha do banco.
Além do grande varejo, o Santander conta com uma nova parceria para atingir a meta: a francesa Sodexo, que faz gestão de benefícios de vale-refeição e alimentação (chamado também de voucher). O acordo fará com que os cartões da Sodexo passem a ser aceitos na maquininha do Santander, ao mesmo tempo em que o banco passará a oferecer os produtos da gestora de benefícios no balcão de suas agências. A operação entra em vigor em meados deste ano.
Com isso, o Santander faz o seu próprio casamento para o mercado de vouchers. Nesse segmento persistem até hoje exclusividades entre bandeiras e credenciadoras, à semelhança do que ocorria no mercado como um todo antes de 2010. “Com isso, aumentamos o valor da maquininha em um segmento muito importante, que é o de restaurantes”, diz Schymura.
Hoje, na prática, os cartões de benefícios emitidos pela Alelo (antiga CBSS, que administra o Visa Vale), são capturados somente pela rede da Cielo, com quem partilha os principais acionistas, Bradesco e Banco do Brasil. Já os cartões da Ticket passaram, no ano passado, a ser capturados apenas em maquininhas da Redecard, em um acordo que envolveu como contrapartida a prestação de serviços da Ticket para folha de funcionários do Itaú Unibanco, controlador da credenciadora.
A Sodexo opera de forma diferente do usual no mercado de cartões. A companhia conta com uma rede própria de maquininhas, que fazem a captura dos cartões de vale-refeição e alimentação da marca em restaurantes e supermercados, sem conexão com internet. No fim do dia, o lojista passa uma espécie de extrato das transações para a Sodexo. Procurada, a empresa não comentou a parceria.
Outro acordo vai aproximar mais o Santander e o grupo de empresas controladas pelo empresário gaúcho Ernesto Corrêa da Silva Filho, do qual a GetNet faz parte. O banco vai passar a usar suas agências para distribuir produtos da Embratec, que fornece cartões para abastecimento e manutenção de frotas de veículos. A Embratec também tem a divisão Ecobenefícios, que comercializa cartões vale-alimentação e refeição com a marca Good Card.
Em contrapartida, o Santander espera que a Ecofrotas sirva de porta de entrada da maquininha do banco em postos de gasolina, segmento extremamente pulverizado, mas que tem grandes volumes transacionados. Paralelamente, o banco estuda uma forma de entrar no mercado de carta-frete, que serve de pagamento a caminhoneiros por transportadoras, e cogita firmar parceria para tanto.
Embora crescente, o Santander é nanico em comparação a Cielo e Redecard, que têm juntas 95% do mercado, em volumes financeiros. Nos primeiros seis meses do ano passado, último dado informado pela associação do setor de cartões (Abecs), a indústria movimentou de R$ 369,7 bilhões.
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