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08 de março de 2016 - 18:08

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Por: Felipe Marques e Vinícius Pinheiro

À espera da aprovação da compra pelo Bradesco, a unidade brasileira do HSBC dá sinais de deterioração. Vulnerável ao ataque da concorrência enquanto o novo dono não pode assumir o controle, o banco sofre com resgates em fundos de investimentos e previdência. O HSBC Brasil também registrou piora na qualidade das operações de crédito, com impacto sobre os números da matriz no fim de 2015.

Os fundos do banco registraram resgate líquido de R$ 15,7 bilhões no ano passado, o equivalente a 19% do patrimônio total, segundo dados da Anbima, associação que representa as instituições que atuam no mercado de capitais. O resultado só não foi pior que o do BTG Pactual, que teve seu então controlador preso, e foi na contramão da indústria como um todo, que apresentou uma captação líquida de cerca de R$ 500 milhões em 2015.

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Parte da saída de recursos foi causada pela investida da concorrência. “Uma de nossas estratégias no ano passado foi atacar a base do HSBC”, afirmou o executivo de um grande banco que apresentou captação positiva em fundos em 2015.

Procurado, o HSBC informou, via assessoria de imprensa, que o aumento de resgates em seus fundos foi concentrado no primeiro semestre do ano passado, mas que a situação se normalizou no segundo e está em recuperação em 2016.

No centro da questão está o tempo para a aprovação do negócio, pelo qual o Bradesco pagará US$ 5,2 bilhões. Quando anunciou o negócio, em agosto do ano passado, a expectativa do banco era ter as aprovações tanto do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) como do Banco Central (BC) até o fim de 2015. O regulador do sistema financeiro aprovou a compra no começo de janeiro, mas o órgão antitruste exigiu dos bancos nova leva de informações – incluindo todas as propostas que o HSBC recebeu por seus ativos no Brasil e por que foram recusadas. Em fevereiro, o Cade pediu a elaboração de um estudo quantitativo sobre os impactos concorrenciais do negócio.

Segundo fontes ouvidas pelo Valor, a expectativa de Bradesco e HSBC é que a aprovação agora venha em abril – com chance de o caso ir ao plenário do órgão antitruste. Depois, o banco da Cidade de Deus estima levar mais três meses fazendo complexas integrações e adaptações de sistemas tecnológicos. Só então vai “virar a chave” no HSBC para dentro do Bradesco. Ou seja, há boas chances de que a operação conjunta dos só comece mesmo no segundo semestre. O HSBC disse esperar aprovação no primeiro semestre.

O “ok” do Cade é importante pois antes dele o Bradesco é proibido de atuar no HSBC. É essa espécie de limbo em que fica o banco britânico que favorece o ataque dos concorrentes ao ativo que o HSBC Brasil tem de mais valioso: seus correntistas de alta renda.

Segundo dirigente de um banco rival, os clientes de previdência têm sido um alvo preferencial. O banco registrou pouco mais de R$ 1 bilhão em resgates de fundos de previdência de julho a dezembro e encerrou o ano com R$ 13,1 bilhões em ativos.

Ao mesmo tempo em que enfrenta ataques dos concorrentes, o balanço do HSBC sofre com o aumento da inadimplência que pressionou os resultados dos bancos como um todo em 2015. No quarto trimestre, o balanço global do banco chamou atenção para deterioração do portfólio de varejo pessoa física da unidade brasileira. Na comparação com mesmo período de 2014, as despesas com provisão para pessoa física no balanço global do banco cresceram em US$ 231 milhões – sendo que US$ 100 milhões foram atribuídos à operação do Brasil. O HSBC informou que sua inadimplência entre junho e dezembro ficou “abaixo da média do mercado”, mas não forneceu o percentual.

A deterioração da qualidade da carteira é apontada como um problema menos grave do que uma eventual perda de clientes. Isso porque o acordo de compra prevê um ajuste de preços após as aprovações, que engloba todas as provisões para devedores duvidosos que se fizerem necessárias naquele momento. Já a base de clientes é um ativo mais complexo de se ajustar. A avaliação, contudo, é que a saída de recursos se arrefeceu.

Executivos ouvidos pela reportagem também dão como certo que o Cade exigirá algum tipo de compromisso do Bradesco, com o objetivo de preservar a concorrência. Na aprovação do BC, o Bradesco se comprometeu a assinar um acordo para manutenção do valor de tarifas e de agências, além de melhorar métricas de atendimento a clientes. A expectativa é que o Cade faça exigências similares ou mesmo proíba o banco abandonar a atuação em determinados segmentos. Interlocutores do Bradesco, porém, esperam que as restrições não impactem o preço. Procurados, Bradesco e Cade não comentaram.

O HSBC Brasil ainda não divulgou os números referentes ao quarto trimestre. Em 2014, o banco encerrou o exercício com prejuízo de R$ 549 milhões. Até setembro de 2015, o prejuízo acumulado era de R$ 209 milhões. A carteira de crédito cresceu 8,5%, a R$ 71,1 bilhões até setembro – no mesmo período, a do Bradesco avançou 15,3% (R$ 434,4 bilhões).

O balanço global da instituição financeira traz um capítulo dedicado ao Brasil, mas os números lá mostrados não estão ajustados pela variação cambial (o dólar Ptax acumulou alta de 47% ante o real no ano passado) e são apresentados em padrão contábil distinto do brasileiro. De acordo com esses dados, o HSBC Brasil encerrou 2015 com lucro líquido de US$ 5 milhões, ante prejuízo de US$ 247 milhões em 2014, antes de impostos. As despesas com provisão caíram 35,6%, de US$ 1,5 bilhão para US$ 965 milhões. Já a carteira de crédito no período saiu de US$ 23,75 bilhões para US$ 17 bilhões, com queda de 28,4%.

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