Como a paulista PagCom — cuja tecnologia permite que smartphones e tablets aceitem cartões de crédito e débito — está crescendo ao vender serviços de pagamento a quem trabalha fora dos escritórios
Por: Fábio Peixoto
O que uma vendedora de cosméticos, um taxista e um personal trainer têm em comum? Os três andam para lá e para cá para atender os clientes e geralmente só aceitam dinheiro ou cheque. Essas características formam o perfil básico dos clientes da paulista PagCom.
A empresa ganha dinheiro com uma ferramenta que permite a esses e outros profissionais “móveis” receber pagamentos com cartão de crédito e débito — basta que tenham um smartphone ou um tablet conectado à internet. A PagCom entrou no mercado em dezembro de 2012 e, em três meses, conseguiu 5.000 usuários.
“Neste ano, poderemos chegar a 3 milhões de clientes e a cerca de 10 milhões de reais de faturamento”, diz Gabriel Abdalla, de 21 anos, um dos fundadores da PagCom.
As receitas vêm de taxas cobradas a cada operação feita com seu sistema (elas variam de 3,75% a 7% do valor da venda) e de mensalidades. Os assinantes optam por uma das modalidades de pagamento que a empresa oferece. A mais simples é um aplicativo que só aceita cartão de crédito. Há outros dois sistemas. Um lê tarjas magnéticas de cartões de crédito. O outro, recém-lançado, também aceita débito.
A ideia de montar a PagCom surgiu poucos anos atrás, numa viagem aos Estados Unidos. Abdalla estava com o primo Caio Davidoff, de 28 anos, e o amigo Thomas Farah, de 21, que eram seus sócios numa pequena empresa de tecnologia. Davidoff fez uma compra numa loja da Apple e, ao pagar com cartão, viu todo o processo ser feito no iPhone de um vendedor.
“Foi nosso primeiro contato com pagamentos móveis e percebemos que aquilo poderia ser uma tendência”, diz Abdalla. “Decidimos abrir uma empresa que atuasse nesse mercado.” Os três levaram dois anos para estruturar a PagCom — nesse período, receberam investimentos de um capitalista de risco.
Os sócios enfrentaram um desafio comum a todo empreendedor no início do negócio — encontrar os primeiros clientes. “O produto era novidade e havia uma barreira cultural a ser vencida”, diz Abdalla. “As pessoas precisavam se adaptar a essa tecnologia.” Durante um mês, 500 representantes de vendas e motoristas de táxi, entre outros profissionais, usaram os sistemas da PagCom sem precisar pagar mensalidade.
“Quase todos se tornaram clientes”, afirma Abdalla. Para crescer rapidamente, os sócios têm montado parcerias com vantagens para os membros de entidades de classe, como a Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta e o Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo — os taxistas filiados não pagam mensalidade.
Os sistemas de pagamento móveis são um negócio promissor no mundo todo. A americana PayPal, uma das maiores do mercado, deverá obter 20% do faturamento deste ano com esse tipo de tecnologia. “A participação era quase zero há três anos”, diz Mario Mello, diretor da PayPal para a América Latina.
No Brasil, a PayPal já começou a se mexer, ao selar no ano passado uma parceria com a Vivo para pagamentos por mensagem em celular. “Pretendemos também trazer o PayPal Here, que permite usar cartões.”
Para fortalecer a PagCom num mercado que deverá atrair ainda muitos competidores, Abdalla e seus sócios estão desenvolvendo aplicativos que acrescentem mais serviços aos sistemas de pagamento.
É o caso de um catálogo digital em que é possível cadastrar produtos do estoque e controlar o volume de vendas. “São aplicativos gratuitos que vão ajudar nossos clientes a gerir seus negócios”, afirma Abdalla.
Esse pode ser um caminho para aumentar a presença da empresa junto a profissionais que não necessariamente precisam de dispositivos móveis.
“Nossos sistemas têm sido procurados por dentistas, advogados e pequenos comerciantes”, diz Abdalla. Recentemente, parte dos 45 funcionários da PagCom estava demonstrando os produtos a camelôs autorizados pela prefeitura de São Paulo a trabalhar no centro da cidade.
Boa parte do público cobiçado pela PagCom também é alvo das credenciadoras de cartões, como Redecard e Cielo. “Não temos a intenção de concorrer com elas”, afirma Abdalla. “Queremos conquistar quem ainda não aceita cartões, em vez de convencer quem já os aceita a trocar de tecnologia.”
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