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Reconhecimento agora pode vir dos chefes ou dos colegas

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
22 de maio de 2019 - 17:01

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Por: Adriana Fonse

Desde agosto do ano passado, funcionários da Votorantim, gestora do portfólio do grupo, podem indicar colegas de qualquer área que mereçam reconhecimento por suas atitudes ou projetos. Todo mês os funcionários votam nas indicações que julgam melhores e os autores das três atitudes ou projetos mais votados são reconhecidos em um evento rápido de celebração onde ganham medalha e troféu. Ali explicam melhor o projeto aos participantes e essa informação também é incluída nos veículos de comunicação interna da empresa.

Alessandra Tucci, gerente de RH da Votorantim, explica que o programa de reconhecimento da gestora foi desenhado de forma voluntária pelos funcionários da empresa. “A demanda surgiu em nossa pesquisa de clima e a partir daí um grupo de trabalho estabeleceu as diretrizes”, conta a executiva. “A ideia principal é dar luz a atitudes do dia a dia e projetos que muitas vezes não são grandiosos e, por isso, outras equipes não tomam conhecimento.”

O programa não tem uma recompensa financeira – esta só acontece de acordo com atingimento de metas -, mas a pesquisa de clima mais recente mostrou que a avaliação do pilar reconhecimento subiu três pontos percentuais desde que o projeto foi implementado. “Todos podem indicar e ser indicados. É um programa espontâneo e leve, nada burocrático”, diz Alessandra.

Elaine Saad, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), diz que os programas de reconhecimento são muito comuns em empresas grandes, mas nas pequenas ainda são exceção. “As pessoas se motivam por coisas diferentes, mas todos gostam de reconhecimento”, afirma.

Em épocas de crise, segundo ela, é uma forma viável economicamente, sem custo ou com custo baixo, para as empresas reconhecerem suas equipes. “Aumenta a chance de reter o funcionário”, acredita Elaine. É uma via de mão dupla. “Quando o colaborador se sente motivado, a empresa se beneficia.”

No Buscapé, o programa “Você faz a diferença” também nasceu para desburocratizar o processo de reconhecimento. Por isso, inclusive, é que a companhia passou a permitir que funcionários – e não apenas os gestores – indiquem colegas. Dessa forma, qualquer um que fez algo que vá além de seu escopo de trabalho pode ser indicado. “É muito simples”, diz Claudia Palaikis, responsável pela área de gestão de pessoas da empresa.

A executiva conta que o funcionário que faz a indicação entra no sistema e preenche um formulário contando os benefícios trazidos pela atitude do colega. Para evitar a banalização das indicações, é preciso fazer a descrição de forma detalhada e, depois, o departamento de recursos humanos entrevista os envolvidos para ver se a atitude foi, de fato, além do que era esperado daquele funcionário e se fez mesmo a diferença para a empresa ou para um colega.

Em dois anos de programa, cerca de 25 funcionários foram premiadas. “Reprovamos apenas uma indicação, que era atividade do dia a dia e o funcionário só tinha feito mais rapidamente”, diz Claudia. Quando o reconhecimento é aprovado, há um evento para apresentar o indicado e a pessoa recebe um voucher de R$ 300 para fazer compras na internet. “Acreditamos que estimula as pessoas a quererem fazer a diferença”, diz. Todos podem participar, desde o aprendiz até os diretores. Claudia lembra de um estagiário que foi premiado. “Por iniciativa própria, ele desenhou um projeto que teve impacto financeiro de R$ 2,4 milhões na empresa”, conta a executiva.

Outro exemplo é de um profissional do departamento financeiro que aplicou uma fórmula no Excel para facilitar a leitura das avaliações de desempenho que ela recebe. “A fórmula compilou em minutos o que eu levaria uma semana para fazer.”

Entre os premiados teve ainda uma analista contábil júnior que montou um curso de contabilidade para não contadores e tirou dúvidas de diversos colegas. “É uma forma de reconhecer esse tipo de atitude, de coisas que o funcionário faz a mais”, diz Claudia. “Se o reconhecimento fica apenas na mão do gestor, talvez ele não veja atitudes assim por conta da rotina do dia a dia, e são atitudes que fazem grande diferença na vida de outros funcionários.”

Na SAP, o programa de reconhecimento abrange os escritórios da empresa no mundo todo. Quando o funcionário é indicado por uma contribuição ou projeto que fazia parte de seu escopo de trabalho, mas realizou de forma diferenciada, o reconhecimento não envolve prêmio, apenas um agradecimento público. Já quando a contribuição vai além do que é esperado, ele recebe uma quantidade de pontos.

Esses pontos podem ser trocados imediatamente por um prêmio em um dos parceiros – loja de móveis, de roupas e de utilidades domésticas – ou o funcionário pode acumular pontos para trocar por um item de maior valor. “Queremos manter uma cultura onde as pessoas se sintam reconhecidas pela sua contribuição”, diz Marcelo Carvalho, diretor de RH da SAP. “O reconhecimento é muito divulgado dentro da empresa, os chefes ficam sabendo e ele também ajuda a integrar as áreas e melhorar as relações. Todos se sentem dentro do mesmo barco.”

Elton Moraes, consultor sênior da Korn Ferry Hay Group, diz que compartilhar as ideias ou atitudes premiadas entre os funcionários da empresa faz com que mais pessoas saibam o que está sendo feito na organização. “Dá visibilidade ao projeto e o reconhecimento público mostra como aquela pessoa está trazendo resultados e inovações para a organização”, afirma Elton.

Na Bemis, o programa de reconhecimento foi criado com um objetivo muito específico: estimular os funcionários a pensarem em melhorias para a empresa. Por isso ele engloba quatro categorias: melhoria na produtividade, desempenho acima das expectativas, redução significativa de custos e inovação. Nesse caso, as indicações podem ser feitas tanto por colegas como por gestores, e o funcionário que tem um projeto que se enquadre em alguma categoria também pode indicar ele mesmo. Feita a indicação, um comitê avalia se o projeto vale ou não reconhecimento.

Gesiel Batista, diretor de RH da fabricante de embalagens, explica que todos os projetos indicados foram aprovados, com exceção daqueles incluídos na categoria de redução de custos. “Porque precisava ser comprovado com números e nem sempre a redução foi significativa”, explica Batista.

Dos 5.500 funcionários da Bemis, 542 foram reconhecidos em três anos. Agora o programa está passando por adaptações. Segundo Batista, o programa trouxe bons resultados para a empresa, mas daqui para frente a intenção é ir além de melhorias para a companhia. “Queremos incentivar a evolução pessoal na próxima etapa, por isso a nova versão vai trazer mais a questão da conectividade entre as pessoas, como o comportamento individual impactou no resultado, compartilhamento de conhecimento, além de ideias e melhorias implementadas”, diz.

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