Por: Claudia Gasparini
É com essa frase que o consultor inglês Greg McKeown resume as promessas da filosofia que batiza seu recente best-seller, “Essencialismo: A disciplinada busca por menos” (Editora Sextante).
O profissional “essencialista”, explica McKeown, é aquele que vê claramente a diferença entre o desnecessário e o indispensável.
A teoria soa simples: ao dizer “não” a tarefas irrelevantes, você investe toda a sua energia só naquilo que é essencial. Como resultado, o seu desempenho vai às alturas.
A prática pode ser mais complicada, mas McKeown, nomeado um dos “Jovens Líderes Globais” pelo Fórum Econômico Mundial, procura viver o que prega.
Para escrever o livro, ele trabalhou por nove meses em “modo monge”, isolado num escritório privado no quintal de sua casa em Menlo Park, Califórnia.
“Escrevia sem distrações das 4 da manhã até o meio dia, mas fazia intervalos, dormia oito horas por noite, tinha tempo para os meus filhos. Foram meses muito felizes”, conta o autor em entrevista por telefone a EXAME.com.
A capacidade de se concentrar apenas no essencial, defende o britânico, é o segredo para o sucesso em um mundo hiperconectado e cada vez mais abarrotado de informações, opiniões e tarefas.
Veja, a seguir, os principais trechos de nossa conversa exclusiva com McKeown, que entrou para a lista dos autores segundo o jornal “The New York Times”:
EXAME.com: Muitos profissionais têm se sentido, ao mesmo tempo, sobrecarregados e improdutivos. O que explica esse paradoxo?
Greg McKeown: Na última década, a humanidade se deparou com uma explosão de escolhas. Mais do que isso, também se criou um excesso na oferta de opiniões sobre todos os assuntos na internet. Diante disso, as pessoas estão deixando de ser seletivas, elas tentam fazer um pouco de tudo. O resultado é que elas sentem que estão sempre trabalhando, mas que também estão sempre atrasadas.
EXAME.com: Então o problema não é a falta de tempo, mas a dificuldade de fazer escolhas?
Greg McKeown: Exatamente. Existem recursos finitos que podem ser encaixados em possibilidades infinitas. Ora, quando você é funcionário de uma empresa, o que você espera do seu CEO? Que ele faça escolhas estratégicas e invista naquilo que pode fazer a empresa se desenvolver. Mas aqui está uma provocação: como CEO da sua própria vida, será que você está alocando os seus próprios recursos de forma inteligente?
EXAME.com: Isso permite “fazer mais com menos”, um lema típico do discurso corporativo atual?
Greg McKeown: Permite fazer menos, mas melhor. Essas são as três palavras mágicas do essencialismo: “menos, mas melhor”. Não é só uma frase bonita para lembrar de vez em quando, é toda uma filosofia de vida e de carreira. Ela permite que você use melhor os recursos de que dispõe.
EXAME.com: Fazer menos não é, de certa forma, contrariar uma norma cultural do mundo empresarial, que normalmente premia quem faz mais?
Greg McKeown: Sim. O essencialismo é uma espécie de contracultura. Passei o último ano trabalhando essa filosofia em diversos países, e me espantei com a imensa diferença entre a minha proposta e a mentalidade reinante nas empresas. Mesmo assim, é possível ser um essencialista num ambiente não-essencialista. Mas é um processo que demanda tempo e paciência.
EXAME.com: Como funciona esse processo?
Greg McKeown: Antes de tudo, é preciso mudar a sua própria mentalidade. Depois de um longo período de pesquisa, quando você finalmente descobre o que é essencial e traz valor para o seu trabalho, então você se torna apto a negociar com seu chefe, com o seu CEO, até com a sua sogra.
Quando sabe o que é essencial, você conquista o direito de recusar tarefas irrelevantes. De forma educada, claro, porém firme. Não se deve dizer simplesmente: “Não, não vou fazer isso”. É melhor dizer: “Veja, esta tarefa que você me passou é interessante, mas acho que aquele outro caminho pode trazer mais resultado”. Antes de negociar, você precisa saber, com propriedade, o que é essencial. Ter essa clareza traz um grande empoderamento.
EXAME.com: Como saber o que é essencial?
Greg McKeown: Você precisa revisar toda a sua vida, desde o início, pensar no legado dos seus avós, dos seus pais. Do dia em que nasceu até hoje, quando a vida foi boa? Quando a vida foi ruim? Quais são os seus objetivos a longo prazo? Como você quer que os seus netos se lembrem de você?
Pensar com uma perspectiva longa, tanto na direção do passado quanto do futuro, é o segredo para perceber o que é essencial. Esse distanciamento do olhar é o que está por trás do pensamento do essencialista. Quem não tem essa mentalidade está apenas reagindo ao próximo email que recebe, está apenas respondendo à agenda das outras pessoas.
EXAME.com: A filosofia do essencialismo também é válida em tempos mais vulneráveis, como os de uma crise econômica?
Greg McKeown: Se você tem medo de uma demissão, realmente é uma estratégia arriscada para tempos difíceis. Mas só se você executá-la mal. Se fizer as coisas do jeito certo, você pode ter uma grande vantagem profissional em qualquer ambiente econômico. Na verdade, a vantagem é ainda maior num ambiente de crise.
O ganho está em aprender a se comunicar com o seu chefe e dizer: “Estou fazendo isto, mas é mais valioso fazer aquilo”. Quando eu falo com CEOs, percebo que eles gostam disso, querem profissionais que estejam pensando em formas mais eficientes de se chegar a um objetivo. Se você não souber implementar a mentalidade essencialista, ela pode ser perigosa. Mas, se souber usá-la bem, ela pode ser um grande impulso para a sua carreira.
É com essa frase que o consultor inglês Greg McKeown resume as promessas da filosofia que batiza seu recente best-seller, “Essencialismo: A disciplinada busca por menos” (Editora Sextante, 2015).
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