Por: Chris Taylor
Kay Phillips teme esse momento há muito tempo. Aos 59 anos e natural de Elon, Carolina do Norte, ela sempre se pergunta quanto gastou com o transporte para o trabalho ao longo dos anos. Decidiu, então, fazer as contas.
Mais especificamente, os quatro anos em que dirigiu 2,5 horas por dia para ir trabalhar, e depois a mesma coisa para voltar para casa, todos os dias de semana. Da pequena Granite Falls, nas montanhas do condado de Caldwell, na Carolina do Norte, até Chapel Hill, para seu trabalho na Aliança para a Prevenção da Gravidez em Adolescentes da Carolina do Norte.
A conta total: US$ 43 mil. E isso apenas com gasolina – sem contar as trocas de óleo e os reparos no automóvel. “Eu sempre imaginei que ficaria doente se soubesse, e de fato fiquei”, diz ela.
Aí é que está o problema. Mesmo em circunstâncias menos extremas, a locomoção até o trabalho provavelmente está lhe custando mais do que você imagina – em despesas relacionadas ao carro, no número de horas que você passa no trânsito e nos problemas à saúde que isso causa.
Na verdade, 10,8 milhões de americanos passam mais de uma hora no trânsito a caminho do trabalho (só de ida). E 600 mil demoram pelo menos 90 minutos e percorrem 80 quilômetros para chegar ao trabalho, segundo o Census Bureau.
Mas isso não deveria acontecer. Na verdade, segundo algumas visões utópicas, não deveríamos mais nos preocupar com o transporte até o trabalho, pois em algum momento todos nós estaríamos trabalhando confortavelmente em casa, dedilhando nossos laptops e iPads enquanto tomamos um chá de camomila.
“Em termos do tempo de traslado, o tempo que gastamos para ir trabalhar continua ridiculamente estável”, diz Alan Pisarski, autor da série de reportagens “Indo para o trabalho na América”. Segundo ele, “em 2000, o tempo médio de traslado era de 25,5 minutos. Em 2011 era de 25,5 minutos. Literalmente, a variação foi uma fração diminuta de um único minuto.”
Temos a tendência a não considerar os custos com o transporte, classificando-o como o preço a ser pago para ter um emprego. Afinal, especialmente em um momento econômico difícil, nem todo mundo consegue encontrar um emprego perto de casa, a ponto de poder ir trabalhar a pé ou de bicicleta.
Na verdade o Gallup-Healthways Well-Being Index, que consultou os americanos sobre o tempo que eles gastam para chegar ao trabalho e seus efeitos, descobriu um verdadeiro show de horrores. Ele constatou que quanto maior o tempo gasto até o trabalho, maiores os níveis de obesidade, colesterol, dores, fadiga e ansiedade das pessoas.
E mais: os custos do transporte afetam de maneira desproporcional aqueles com renda mais modesta. Para os mais pobres que trabalham, o transporte abocanha cerca de 6% de suas rendas – o dobro do percentual daqueles que levam salários melhores para casa, segundo afirma Robert Puentes, pesquisador do Programa de Políticas Metropolitanas da Brookings Institution de Washington.
Para aqueles com renda mais baixa que vão de carro para o trabalho, esse percentual sobe para 8% a 9% sobre os rendimentos. “Esses custos são tão altos que na verdade estão mudando os cálculos de onde as pessoas querem morar”, diz Puente.
Outra maneira útil de calcular o quanto você gasta para ir trabalhar é pela quilometragem. Mr. Money Mustache, um blogueiro de 39 anos especializado em finanças pessoais – cujo nome verdadeiro é Pete, mora no Colorado, prefere ficar no anonimato por prezar a privacidade da família, mas alardeia 4 milhões de visitas ao seu popular site na internet – diz que se você fizer as contas vai descobrir que a viagem prolongada para o trabalho “é a coisa que mais contribui para manter a maior parte das pessoas na pobreza”.
“A Receita Federal americana permite ao contribuinte deduzir [do imposto de renda] cerca de 55 centavos de dólar por milha percorrida quando você está a trabalho, e isso se baseia em um cálculo realista do aumento dos custos”, diz ele. “É possível superar a média dirigindo um carro menor e mais confiável, mas o custo é sempre muito maior do que apenas o preço da gasolina. Portanto, se você dirige 20 milhas [32 quilômetros] até o trabalho, multiplique: 40 milhas por dia a 50 centavos de dólar por milha. E há 2,5 mil dias desses em cada década. Assim, você gasta pelo menos US$ 50 mil a cada dez anos.”
Quanto a Kay Phillips, ela passou tanto tempo a caminho do trabalho que acabou sendo premiada pela companhia de reparos automobilísticos Midas em sua competição para encontrar o americano que percorre a maior distância até o local de sua atividade profissional. Ela só perdeu para um participante que percorreu pouco mais de 20 milhas a mais que ela.
De lá para cá Kay se mudou e agora percorre diariamente uma distância mais modesta, de 70 milhas ida e volta, ou 40 minutos de ida e 40 minutos na volta. Mas não pergunte a ela quanto os custos anteriores que ela teve para ir trabalhar contribuiriam para seus anos de aposentadoria.
Afinal de contas, se você colocar US$ 43 mil em um IRA (sigla para individual retirement account, um tipo de plano de previdência americano com benefícios fiscais) ou em um 401(k), que prevê contribuições da empresa e do empregado, mesmo a uma taxa de retorno modesta, você teria um pé-de-meia muito bom. “Meu Deus! Não quero nem pensar nisso!”, conclui Kay.
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