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Praticidade digital não substitui a velha agenda de papel

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
02 de novembro de 2015 - 18:00

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Por: Lucy Kellaway

Na semana passada, caí de amores novamente pelo meu diário Moleskine violeta. Por um determinado período neste verão europeu eu entrei na era moderna e comecei a organizar minha vida eletronicamente, mas voltei ao método antigo.

Quando se trata de agendas, as versões em papel são imensamente superiores às eletrônicas em praticamente todos os aspectos. Não consigo pensar em outra coisa em que isso seja tão verdadeiro. O e-mail é melhor que as cartas, uma vez que você não precisa ficar correndo atrás de envelopes e selos. O Google Maps é melhor que os guias de papel tradicionais, uma vez que nestes a rua que você procura inevitavelmente está na ponta da página, provocando confusão. E o eBay supera o comércio tradicional por um número de razões grande demais para listar aqui.

Para começar, quando se trata de diários eletrônicos há algo meio preocupante em ter seus compromissos armazenados na nuvem da computação. A grande vantagem do papel, conforme observa o especialista em organização David Allen, é que ele está na sua frente. Quero que meus compromissos estejam na minha frente – ou pelo menos em minha bolsa. Quero vê-los em minha própria caligrafia, com promessas solenes de que vou fazer tudo o que escrevi ali.

Em segundo lugar, os diários eletrônicos são umas “carroças” quando comparados com a ligeira versão em papel. Para provar isso, reuni dois grupos de pessoas e perguntei a elas o que elas vão fazer em 30 de outubro. O primeiro grupo sacou seus smartphones, digitou senhas e iniciou um embate. A pessoa mais rápida chegou lá em 17 segundos, a mais lenta em 32. A turma do papel abriu seus diários e foi direto à página de agendamento em uma média de oito segundos.

Quando pedi a eles que agendassem um almoço, a diferença foi ainda maior. Minhas cobaias da ala do papel demoraram cinco segundos para fazer o agendamento, enquanto que as do iPhone levaram seis vezes mais que isso.

As agendas eletrônicas são tão incômodas que uma terapeuta que conheço proibiu seus pacientes de usá-las em seu consultório. No fim de cada sessão ela diz que passará a eles um e-mail com a data da próxima consulta, para evitar perder o intervalo de dez minutos que ela faz entre os pacientes enquanto eles lutam com suas agendas eletrônicas.

Outra grande vantagem do papel é que você sempre sabe exatamente onde está. Posso vislumbrar um dia inteiro, ou uma semana inteira, de uma só vez, e assim não preciso daqueles lembretes irritantes que o Google adora me enviar.

O papel é mais rápido, não exige senha, não fica com a bateria descarregada e nele as coisas não desaparecem misteriosamente. Melhor ainda é a satisfação proporcionada pelo próprio objeto físico.

Todo Natal compro uma nova agenda, de uma cor diferente. Suas páginas vazias me dão uma sensação de possibilidade, uma emoção que nenhuma página digital pode recriar, não importa quão vazia. No fim do ano, o volume surrado se junta aos seus antecessores em uma estante, esperando por um momento no futuro quando fico pensando no que andei fazendo no passado.

Mas, para mim, a maior das vantagens do diário no papel é que ele é particular. Todo mundo sabe que é deselegante meter o bedelho no diário de alguém. Todo mundo menos o Google. Os diários compartilhados que a maioria das companhias (incluindo a minha) hoje insiste em nos impor são uma invasão de privacidade mais repugnante que as câmeras de TV de circuito fechado e o Facebook juntos. Os colegas podem ver quando você está livre e se deliciam dando um jeito de preencher esses momentos com reuniões.

Os defensores do sistema alegam que é muito mais fácil e rápido agendar reuniões dessa maneira, em vez do inconveniente antigo de ter de avisar as pessoas uma a uma. Eles estão certos. Mesmo assim, por ser fácil, o resultado é mais reuniões com mais pessoas participando delas, o que desperdiça mais tempo do que o economizado pelo agendamento mais rápido.

Compartilhar diários em casa – como fazem muitas famílias modernas – é o “avanço” mais triste de todos, por dispensar a necessidade de conversa. Sentar e discutir o que cada um está fazendo me parece ser tão importante para o vínculo familiar como ocasionalmente repartir o pão.

Não estou só nesse desdém à tecnologia digital. Quase todos os meus colegas mais velhos ainda recorrem às agendas de papel, bem como alguns mais jovens – mesmo assim, todos parecem estranhamente encabulados por fazer isso. Não vejo qual o motivo. Não há por que ter vergonha de preferir algo que tem uma aparência melhor, é mais rápido, mais confiável e que coloca você no controle.

Minha pequena agenda Moleskine violeta tem apenas um defeito. Se eu a perder, estarei encrencada. Não tenho uma resposta para essa possibilidade, exceto que na prática isso raramente acontece. Tenho uma tendência de perder coisas em geral, mas nunca perdi minha agenda. Seria uma conclusão triste para esta coluna assumir um risco desnecessário.

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