Pesquisa mostra que, para funcionários, seus gestores sabem atuar em situações de crise, mas têm dificuldades para se relacionar com a equipe
Indivíduo que chefia, comanda e/ou orienta, em qualquer tipo de ação, empresa ou linha de ideias, diz o dicionário no verbete “líder”. Profissional que, em 55% dos casos, sabe atuar mesmo em situações de crise e pressão, mas que também, para 47% dos funcionários, é alguém com pouca habilidade de se relacionar e se comunicar com a equipe. Os números são resultado da pesquisa “O líder e a liderança”, feita pela Unicarioca, com exclusividade para o Boa Chance, que ouviu 676 trabalhadores. O estudo indica, ainda, a percepção de que a liderança tem papel fundamental para o cumprimento de metas por parte da equipe e que há, pelo mercado, distintos perfis de líder — alguns mais e outros menos bem-vistos pelos subordinados.
Perguntados sobre a melhor frase que define seu líder, 23% dos entrevistados disseram que “ele delega tarefas, acompanhando de perto e cobrando resultados”, 21% afirmaram que é “alguém que inspira confiança, obediência espontânea e envolvimento emocional da equipe” e 4% alegam que “exerce a liderança via coerção e pressão verbal e/ou física” (veja as outras respostas ao lado).
— Há uma ‘predisposição natural’ a falar mal do chefe. Porém, é surpreendente, na pesquisa, o fato de que a maioria dos respondentes considera que as características do líder atual influenciam positivamente o alcance das metas. Ou seja: eles reconhecem tanto as falhas de seus líderes, como, por exemplo, a falta de habilidade em lidar com pessoas, quanto a capacidade que os líderes têm de obter resultados — avalia Jalme Pereira, coordenador da pesquisa da Unicarioca.
‘Liderado tem expectativa alta’
Já para Ylana Miller, professora do Ibmec e sócia-diretora da Yluminarh, atualmente, não há mais o senso comum de “falar mal do chefe”.
— O que existe é uma expectativa alta por parte do liderado em relação ao líder. Os profissionais buscam superiores que invistam no desenvolvimento, deem autonomia, escutem, respeitem e acreditem — diz Ylana, que explica a diferença entre um líder e um chefe. — O chefe está mais focado nas ações e na entrega, não se preocupa em desenvolver a equipe. Já o líder inspira e tem a inteligência emocional necessária para desenvolver os talentos de sua equipe. Alguém que não vai ter, por exemplo, receio de ter um profissional melhor que ele no grupo.
E qual seria o líder ideal? Aquele com habilidade para lidar com as pessoas (item apontado por 41% dos entrevistados) e que, ao mesmo tempo, fosse íntegro e ético (34%), com iniciativa (28%), capacidade de direcionar e controlar (25%) e de tomar decisões (21%).
— O problema é que, na maioria das vezes, o foco do líder está muito mais no desenvolvimento das competências instrumentais e gerenciais. O que não está errado. Porém, para exercer a liderança, atualmente, ele precisa, e muito, das competências comportamentais. É uma das principais reclamações e, também, um desafio para empresas e líderes — diz Pereira.
O estudo diz que existem seis perfis de líderes. São eles: carismático (que inspira confiança e obediência), distributivo (delega tarefas e acompanha de perto), executivo (obtém a ordem pela competência técnica), educativo (dá exemplo e troca conhecimentos humanos e técnicos), coercitivo (faz pressão e intimida) e inspirador (que motiva a equipe).
— Não há um perfil ideal de líder: isso varia muito porque cada organização é um ser vivo com suas idiossincrasias próprias. O líder deve interpretar essas variáveis e criar um ambiente mais equilibrado para as pessoas se sentirem satisfeitas e saciadas pelo trabalho realizado — acredita José Rezende, professor da pós-graduação em Administração da Unigranrio.
Gestor deve ter diferentes estilos
O que mais falta aos líderes cariocas, na opinião dos entrevistados ouvidos pela pesquisa da Unicarioca, é habilidade para lidar com pessoas (23%), direcionamento e controle (21%), justiça nos julgamentos (19%), iniciativa (16%) e ainda real capacidade de influenciar sua equipe (15%).
Características que, segundo Ylana Miller, professora do Ibmec/RJ e sócia-diretora da Yluminarh, podem chegar a ser responsáveis por uma troca de emprego:
— Muitas vezes, quando uma pessoa pede demissão, ela pede demissão do chefe, e não da empresa. O papel do líder impacta cada vez mais não apenas na produtividade, mas também na retenção de talentos.
O que passa, também, pela responsabilidade da empresa, que deve treinar seus líderes para corresponder às expectativas — cada vez mais altas — dos funcionários, alertam especialistas.
— Enquanto, na Era Industrial as máquinas eram o centro do negócio, hoje, na Era do Conhecimento, as pessoas são os meios para alavancar e sustentar o crescimento das empresas. As organizações devem desenvolver seus líderes para que eles estimulem ao máximo o potencial criativo e de inovação das equipes — destaca Jalme Pereira, coordenador da pesquisa da Unicarioca, cujos resultados, segundo ele, apontam para estas necessidades de desenvolver competências comportamentais.
Resiliência, adaptabilidade e flexibilidade
Pereira lembra, porém, que é preciso que cada companhia encontre a melhor forma de promover treinamentos e desenvolver a liderança:
— Não existe uma receita mágica. Cada empresa tem suas peculiaridades, que devem ser consideradas na tomada de decisão.
Afinal, a discussão entre qual é o “mix” ideal entre competências comportamentais e técnicas para cargos de gestão é um dilema, lembra José Rezende, professor da pós-graduação em Administração da Unigranrio.
— A melhor prática é ter alguém que veja estrategicamente o estilo de liderança necessário a cada momento — afirma Rezende, acrescentando que, para tal, a característica mais necessária é a resiliência. — É a palavra da moda, não porque é bonita, mas porque é mesmo necessária. Ser resiliente significa ter noção exata de até onde se pode alongar a aplicação de um recurso, método, prática etc. sem que aquilo deforme a organização, as equipes ou os indivíduos. Vivemos em crise e em estresse, portanto precisamos saber alongar e desalongar…
À resiliência, Ylana MIller acrescenta mais duas habilidades essenciais ao líder contemporâneo: flexibilidade e adaptabilidade.
— Hoje em dia, com mais multinacionais vindo para o Brasil, aparecem questões relacionadas às culturas diferentes. É comum o líder se deparar com perfis totalmente distintos dos brasileiros com os quais ele vai ter que negociar e se comunicar — afirma Ylana.
Apesar de a pesquisa apontar quais são as falhas do líder carioca, também mostra que muitos estão no caminho certo, diz Jalme Pereira.
— O líder está na direção certa, usando estilos diferentes para contextos diferentes, apesar da predominância do estilo mais autocrático. Mas ainda há um bom caminho para percorrer, visto que os respondentes citam a necessidade deste líder desenvolver competências comportamentais e de relacionamento.
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