Em novo livro, consultor financeiro Mauro Calil ensina a salvar o dinheiro das bobagens financeiras do dia a dia para transformá-lo em um verdadeiro gerador de felicidade
Por: Julia Wiltgen
Simplesmente ganhar dinheiro com o fruto do trabalho não é garantia de felicidade a ninguém, ainda que a renda seja alta. E não se trata do clichê de dizer que dinheiro não traz felicidade, mas sim que é preciso fazer com que ele trabalhe para a sua felicidade. Em seu novo livro “Separe uma verba para ser feliz” (Ed. Gente), o consultor financeiro e gerente geral do Instituto Nacional dos Investidores (INI) Mauro Calil explica seu método de planejamento financeiro apelidado de FAST, que ensina ao poupador a direcionar seu dinheiro aos objetivos que de fato levam à felicidade e ao enriquecimento, resgatando-o das finalidades que nada lhe acrescentam.
Desafiando alguns dos mitos e das desculpas que as pessoas usam para não começarem a enriquecer, Calil ensina que o que leva à felicidade financeira é direcionar o planejamento financeiro a grandes objetivos geradores de felicidade, “salvando” o dinheiro das situações que o desvirtuam.
“O que é gasto inútil ou não é uma questão pessoal. Mas é preciso haver uma hierarquia do que é importante para a sua vida. Se você consegue priorizar as grandes conquistas, elas começam a se tornar corriqueiras. Por que algumas pessoas conseguem passar quase todo fim de semana em Buenos Aires e para outras este é um sonho distante? Não é tanto uma questão de poder aquisitivo quanto de prioridades”, diz o consultor.
Para exemplificar seu ponto, Mauro Calil conta, no livro, uma série de histórias reais, como a do amigo que tinha todo tipo de eletroeletrônico em casa, mas não punha vidros nas janelas, pois só era possível parcelar essa compra em poucas vezes; ou ainda da senhora que sempre fora dona de casa e que acabou transformando seu hobby de crochê e tricô em uma formidável fonte de renda.
Por isso, para ele, antes de mais nada é preciso definir o que traria felicidade e, a partir de então, traçar um plano para alcançá-la. Em seguida, é preciso começar a “salvar” o dinheiro dos gastos corriqueiros que fazem pouca diferença na qualidade de vida. Não se trata, portanto, de abrir mão de prazeres e viver espartanamente para enriquecer e acumular bens, mas sim de concentrar os gastos apenas no que gera felicidade real e duradoura.
“Uma pessoa que volta todos os dias do trabalho em um trem ou metrô lotado e compra sempre um pão de queijo e um café com leite durante a espera do transporte pode se perguntar: o que me traz mais felicidade, o lanche ou sair desse aperto? Se a resposta for sair do aperto, ela pode começar a salvar dinheiro para comprar seu próprio carro abrindo mão do pão de queijo com o café com leite”, exemplifica.
Quebrando mitos
Acontece que no meio do caminho do enriquecimento existe uma pedra: uma série de mitos – ou até de desculpas – para não começar a traçar objetivos e salvar dinheiro. Calil se preocupa em quebrar alguns deles no livro, como, por exemplo, o de a riqueza virá repentinamente após uma “tacada de mestre” ou uma grande ideia de negócio; o de que ser rico é o mesmo que ter bens ou dinheiro acumulado; ou ainda de que quem tem um bom emprego com altos salários está garantido para o resto da vida.
Por meio de suas histórias, o consultor mostra justamente que não é nada disso. Um conhecido que apenas queria aproveitar grandes oportunidades de negócio – que muitas vezes pareciam furadas – dizia que não conseguiria comprar nada se não fossem os financiamentos; ter um patrimônio que só se deprecia e dá trabalho não é sinônimo de riqueza, mas de gastos e dor de cabeça; e mesmo um alto executivo pode estar endividado por sempre tentar viver um degrau acima do que seu salário permite.
O método FAST
Partindo do princípio de que qualquer pessoa que aufere renda pode ter felicidade financeira – e de que mesmo os mais abastados precisam repaginar as finanças de vez em quando – Calil também apresenta o que chama de método FAST de enriquecimento, uma sigla que representa os quatro passos básicos de planejamento financeiro. Numa tentativa de recriar conceitos financeiros, Mauro Calil nomeou-os da seguinte maneira:
Fazer dinheiro: o autor pega a expressão emprestada da língua inglesa (“to make money”) para mostrar que dinheiro não se “ganha”, como se fosse algo dado de presente; dinheiro se faz. Nos países de língua inglesa se usa a expressão fazer dinheiro, ou ainda o verbo “to earn”, que tem mais a ver com merecer do que simplesmente com ganhar. Com isso, Calil quer mostrar que é possível fazer tanto dinheiro quanto necessário, inclusive precificando serviços que normalmente você faria de graça, por serem frutos de seus talentos ou da sua expertise. “Esse verbo mostra que o dinheiro é infinito, e não um recurso natural limitado”, diz Calil.
Antever: envolve todo ato de planejar algo. A mente humana funciona de modo a tentar achar padrões em tudo – até nos eventos aleatórios – para conseguir fazer planos com base em previsões, ainda que falhas. Para Mauro Calil, a capacidade de o poupador conseguir se precaver contra emergências ou fatalidades, ou mesmo visualizar as más consequências de uma conduta financeira irresponsável deve ser tão corriqueiro quanto olhar para os dois lados da rua ao atravessar, já antevendo um possível atropelamento.
Salvar: mais uma expressão emprestada do inglês, “to save money”, equivalente ao nosso “economizar”. O autor acha a palavra “salvar” mais adequada, pois a ideia é justamente de salvar o seu dinheiro de gastos laterais e menos importantes por um objetivo maior. “É mais poupar do que economizar. É a mesma palavra usada para, por exemplo, ‘salvar uma vida’”, diz Calil.
Turbinar: finalmente, não adianta salvar o dinheiro e deixá-lo embaixo do colchão ou até na caderneta de poupança. “É preciso buscar uma rentabilidade maior que a média, que é a taxa de juros CDI”, afirma o consultor financeiro.
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