Por: Gilberto Guimarães
Trabalho há cinco anos em uma empresa de grande porte e, com a crise, tenho sentido que o clima está cada vez pior.
Embora cortes de pessoal e de investimentos já tenham sido feitos, os rumores sobre novas demissões continuam. Todos passam o dia especulando sobre isso pelos corredores, enquanto os chefes fingem que nada está acontecendo. Por mais que eu tente, já não consigo disfarçar meu nervosismo e minha ansiedade. Assim como muitos colegas, não tenho mais ânimo para fazer nada, pois fico achando que a qualquer momento vou ser demitido. O que devo fazer?
Analista, 29 anos
Resposta:
Não se deixe abater. Tente manter uma atitude ativa e produtiva. A angústia que você vive é a que quase todos os brasileiros estão vivendo. O desemprego deixou de ser um problema específico de setores mais vulneráveis.
A atual falta de trabalho e renda está longe de ser apenas um problema momentâneo e conjuntural, resultante da implementação de modelos econômicos inadequados. Tampouco é característico de um determinado Estado ou região. O desemprego passou a ser o grande assunto e as reestruturações não poupam ninguém, nem mesmo os executivos de topo.
Com o medo do desemprego, vem a redução das despesas e das compras a prazo – ou seja, o comprometimento da sua renda futura, que é a grande força motora do mercado. A consequência imediata é a criação de um círculo vicioso: menos consumo, mais desemprego. Isso passou a exigir das empresas muito mais esforço para sobreviver.
As companhias são obrigadas a se reestruturar, o que sempre gera a extinção de cargos e a redução de quadro. Em um contexto de racionalização de custos, o emprego constitui a despesa mais fácil de ser controlada e que permite um retorno mais rápido. Os dirigentes têm a tendência de ver “na eliminação do excesso de empregados” o método mais rápido de reduzir custos.
Para os empregados, no entanto, esse processo é visto como coercitivo e traumatizante. Uma reestruturação, por mais responsável que seja, irá frustrar expectativas, gerar inseguranças, desconfianças e insatisfação generalizada, podendo contribuir para a queda no clima organizacional e na produtividade.
Esse processo deixa sempre uma marca profunda na história individual e coletiva. Nem mesmo a possibilidade de recebimento de verbas rescisórias importantes afasta o temor de ficar desempregado. Para tentar diminuir essas resistências e a consequente perda de produtividade, os profissionais de recursos humanos precisam estabelecer uma estratégia eficaz. O esforço de comunicação é fundamental para mostrar o caminho escolhido a todos os envolvidos.
O impacto do programa de demissões, a possível perda de credibilidade junto aos clientes e a degradação da imagem da empresa devem ser avaliados no início do processo. No entanto, por falta de tempo e, sobretudo, de motivação, a tentação ainda é grande de impor uma mudança ao invés de explicá-la.
Poucas empresas optam por preparar o terreno antes de executar a reestruturação. A comunicação aos empregados deve ser a prioridade. O objetivo é tornar compreensível para aqueles que são os primeiros atingidos o contexto em que se encontra a empresa, fazê-los conhecer as diferentes soluções possíveis, e justificar o que vai ser feito.
Comunicar significa tornar comum, ou seja, informar a todos os empregados sobre planos, direitos, valores, ajudas das quais podem se beneficiar, e sobre o que vai acontecer com seu emprego. É preciso entender o medo dos empregados, manter um diálogo diário e próximo, dar o máximo de informações possível, ser claro e conciso.
Uma atitude aberta com os empregados aumenta a compreensão e a aceitação, enquanto um projeto imposto, sem preparação, corre o risco de catalisar todas as frustrações sentidas pelos empregados.
É importante criar um programa de apoio para os empregados desligados, dar continuidade a certos benefícios como plano de saúde e, sobretudo, apoiar a busca de uma recolocação no mercado ou uma nova fonte de renda. Os líderes sempre ganharão ao procurar conhecer o sentimento real dos seus interlocutores para ajudá-los ao invés de apostar na resignação dos empregados.
Para os liderados que, como você, continuam na empresa, o melhor é tentar controlar o medo e ser mais ativo e produtivo, para assim contribuir com a sobrevivência da empresa.
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