Por: Karin Parodi
Sou supervisor da área comercial de uma empresa há dois anos e meu chefe, embora competente, é extremamente inseguro e até mesmo paranoico. Ele sempre tem alguma “teoria da conspiração” sobre o que poderia estar acontecendo nos bastidores, acha que tudo o que vem do alto escalão é uma indireta, bronca ou recado, e está sempre disseminando medo e pânico de forma desnecessária. Com a crise, isso piorou muito. Reconheço que a comunicação não é um dos pontos fortes da companhia, o que ajuda a alimentar esse comportamento. Costumo responder que é melhor manter o foco no nosso trabalho e não gastar energia com fofocas, mas não adianta. O que devo fazer?
Supervisor, 29 anos
Resposta:
Não vou dourar a pílula: o que você está vivendo é uma das situações mais desgastantes do universo organizacional. Já vi um estudo mostrando que mais de 75% dos funcionários consideram relacionarse com os chefes imediatos a parte mais estressante de seu trabalho. Em outro, pesquisadores suecos acompanharam mais de três mil profissionais durante dez anos e descobriram que os que tinham chefes ruins sofriam em média 30% mais ataques cardíacos do que os que tinham chefes bons.
Chefes inseguros como o seu drenam as energias de qualquer ser humano, e a perspectiva de mudança da situação é mínima. Chefes paranoicos como o seu têm extrema dificuldade em construir relacionamentos, pois as pessoas tendem se afastar desse perfil. Pior: a experiência nos mostra que insegurança e paranoia podem ser atenuadas, mas é difícil mudar por completo pessoas com características tão marcantes.
Como escreveu o professor de Stanford Robert Sutton, no livro “Bom Chefe, Mau Chefe”, “a maneira como os líderes tratam seus subordinados diretos tem vários efeitos que reverberam ao longo da hierarquia, moldando a cultura e o desempenho da empresa”. Ou seja, chefes definem o jeito de se comportar da equipe, podendo criar um ambiente tóxico e um clima tenso.
A primeira coisa a fazer é não entrar nesse jogo doentio. A segunda é conscientizarse de que não terá de suportar isso para sempre basta que o mercado de trabalho tenha uma retomada e você vai tocar a vida. Não sei se você já teve a oportunidade de dar um feedback cuidadoso ao seu chefe, mostrando com fatos e dados o quanto esse comportamento afeta a vida de todos. A sinceridade, às vezes, surte efeitos inimagináveis.
Se não se sentir à vontade para tanto, você pode tomar iniciativas que passem a seu chefe uma sensação maior de segurança em relação a você. Crie um canal de comunicação com ele, com rotinas de atualizações sobre seu trabalho, inclusive copiandoo nos emails de que ele gostaria de estar a par e sendo muito, muito assertivo. Por enquanto, isso é tudo o que você pode fazer. Não é o momento de sair da empresa, pois o mundo lá fora não está nada fácil.
Aproveito para fazer uma recomendação a todos aqueles que “lideram líderes” e, quem sabe, a dica chegue aos chefes do seu chefe. Perguntam se: vocês identificam traços como arrogância, sede de punição, comunicação agressiva, humilhação, gestão por conflitos, instabilidade emocional, falta de escuta ativa, gestão pelo medo e até o uso corriqueiro de ameaças de demissão em alguém da sua equipe? Vocês têm líderes que não gostam de liderar pessoas?
Se sim, sugiro que essa pessoa passe por um programa de coaching, que traga à tona suas diversas questões comportamentais e os respectivos impactos delas nos colaboradores, no negócio e nos clientes. A pergunta que gosto de fazer aos “líderes de líderes” é: se soubesse antes como esse líder age, você o contrataria hoje? Essa reflexão é fundamental para que a organização comece a melhorar sua liderança.
Em uma época em que um líder deve ser desenvolvedor de sua equipe, a prevalência do perfil “comando e controle” ainda é assustadora. Analisando o fenômeno ao longo do tempo, contudo, vejo um dado reconfortante: é cada vez mais frequente a decisão das empresas de se livrarem de líderes tóxicos, porque uma equipe mais harmoniosa é muito mais interessante para o negócio.
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