Por: Gilberto Guimarães
Trabalho há cinco anos em uma empresa de tecnologia de médio porte. Há cerca de seis meses, meu chefe deixou a companhia por razões pessoais e fui escolhido para assumir seu lugar. Como sempre me dei bem com a equipe, minha promoção foi até festejada.
Dentre esses funcionários, está um amigo bem próximo – inclusive fora da empresa. O problema é que sua atuação mudou para pior depois que me tornei seu chefe. Ele agora atrasa projetos, chega tarde e até fala com outros funcionários como se estivesse acima deles. Tudo porque acha que, em nome da nossa amizade, agora que sou chefe devo protegê-lo e favorecê-lo. Já tentei conversar e mostrar que as coisas não são assim, mas ele apela para o lado emocional. Estou incomodado e sinto que isso já está manchando minha reputação. O que devo fazer?
Diretor, 37 anos
Resposta:
Qualquer grupo organizado se coloca instintivamente sob a influência de um líder e se submete a quem se impõe como tal. Em geral, isso acontece por meio de ideias e por um poder misterioso e irresistível chamado prestígio. Todo prestígio, contudo, pode ser perdido em caso de fracasso. Nos grupos, os indivíduos estão ligados por laços afetivos ao líder e aos demais membros. Além disso, quase toda relação emocional contém sentimentos de aversão e hostilidade. Isso aparece claramente nas relações entre sócios ou nas reclamações de subordinados sobre superiores.
A atuação principal do líder é conciliar os objetivos gerais da organização com os de cada indivíduo ou equipe. Liderar é influenciar as pessoas a fazerem o que deve ser feito, organizando, coordenando, controlando e buscando rentabilidade. O fato de alguém ser amigo ou até parente não deve ser salvo conduto para uma relação privilegiada.
A liderança é fundamental para garantir a realização de esforços rumo aos resultados. Chefes não podem ser permissivos nem culpar os outros. Líderes eficazes assumem a responsabilidade final e não temem os subordinados. Não importa o quanto sejam pessoalmente vaidosos ou humildes, eles valorizam a equipe e se cercam de pessoas independentes e autoconfiantes. Liderança é confiança e respeito.
O líder eficaz sabe que a sua tarefa suprema é a criação de um significado. O líder terá que se adaptar e utilizar modelos e estilos diferentes de acordo com a situação, tarefa, momento e liderado. O exercício da liderança pressupõe que ele seja resiliente, o que lhe permite modificar o estilo a cada situação com o objetivo de conseguir a melhor produtividade e uma evolução mais rápida dos subordinados.
A escolha do estilo mais adequado para cada pessoa e situação depende da maturidade profissional e psicológica do líder e dos liderados.
Maturidade profissional significa competência técnica e experiência. Simplificando, é o saber fazer. Maturidade psicológica é a disponibilidade e vontade de assumir responsabilidades inerentes à execução de tarefas na busca do atingimento de objetivos.
Considerando essas duas definições, pode-se distinguir quatro níveis de maturidade do liderado. Maturidade baixa, quando o colaborador tem necessidade de receber indicações precisas sobre o que fazer, como métodos, normas e procedimentos.
Maturidade média/baixa, na qual os colaboradores têm necessidade de desenvolvimento e supervisão próxima do líder. Maturidade média/alta, quando os colaboradores são capazes para executar, mas não demonstram determinação para fazê-lo por falta de motivação ou insegurança – tem necessidade, portanto, de segurança e encorajamento. E, finalmente, existe a maturidade em que os colaboradores são autônomos e querem apenas que lhes sejam estabelecidas linhas gerais de referência e limites.
Com base no nível de maturidade, o líder deve conformar sua atuação ao modelo mais adequado para cada caso e situação. Um ponto importante é que a maturidade geral de um indivíduo pode mudar de acordo com projetos, tarefas ou chefias. Pessoas podem ser competentes e disponíveis em um projeto e incompetentes e não disponíveis em outro, porque não conhecem a tarefa ou se sentem inseguras ou desmotivadas.
Claramente, seu amigo se transformou em um subordinado com um grau de maturidade mais baixo. Você deve tentar trazê-lo para um grau superior de maturidade mostrando, em uma reunião formal e objetiva, que ele está sendo inadequado e contaminando o grupo.
Você deve consagrar um tempo para escutar e compreender os problemas dele e tentar ajudá-lo a resolver assuntos profissionais ou pessoais. Em princípio ele deveria alterar o comportamento e voltar a ser eficiente e produtivo. No entanto, caso isso não venha a ocorrer, você não poderá mais hesitar. Você deve encaminhá-lo para outro setor ou demiti-lo, sob pena de, se não o fizer, perder a confiança dos demais membros da equipe. Os subordinados se sentem mais motivados e produtivos na medida em que o comportamento do líder comprova, de forma objetiva, que contribui em favor dos objetivos do grupo e expectativas de cada um.
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