Por: Karin Parodi
Após trabalhar por seis anos na área de marketing de uma empresa, aceitei a proposta para assumir um cargo de gerência no e-commerce de uma grande varejista. Além de representar um salto de hierarquia e de remuneração, vi nesse emprego uma oportunidade de aprender mais sobre um viés que ainda não domino da minha profissão. O problema é que já se passaram seis meses desde a mudança e não estou nada satisfeito. O trabalho não era como eu havia imaginado e o clima organizacional é pesado. Estou confuso e arrependido dessa mudança, mas acho que pedir demissão com tão pouco tempo pode manchar meu currÃculo. Devo insistir ou assumir que não deu certo e partir o quanto antes para uma nova empreitada?
Gerente, 34 anos
Resposta:
Todos os dias aumenta o bloco dos que fazem uma mudança de empresa em busca de novos desafios e se arrependem. A falta de alinhamento com a cultura da organização é o segundo motivo para as pessoas talentosas irem embora – o primeiro é a sobreposição de funções e posições em momentos de fusão ou aquisição. A cultura e o ambiente de sua nova organização dificilmente mudarão no curto prazo. No entanto, a atividade que você está realizando pode ser melhorada, talvez com uma mudança de cargo. Antes, é importante entender o que aconteceu para aprender com as falhas.
Você analisou em profundidade a posição oferecida, investigou quais seriam suas novas responsabilidades e descobriu tudo sobre as expectativas da empresa quanto ao profissional a ser contratado? Você confirmou que tinha o perfil e as competências para a nova posição – não estou falando em experiência -, conversando, por exemplo, com algum ex-ocupante do cargo? Mais ainda, você sondou a respeito do intangÃvel e complexo universo da cultura organizacional?
Vou supor que as respostas a essas três perguntas sejam, na ordem, “sim”, “mais ou menos” e “não”. Acertei? Sei que tenho grande probabilidade de êxito, porque a cultura organizacional é algo intangÃvel, difÃcil de ser decifrada rapidamente. Ela é ancorada em um conjunto de elementos que pauta e direciona os comportamentos de seus colaboradores. É dinâmica, modificando-se com o tempo, pois sofre influências do mundo externo, em especial da sociedade, e também influencia a sociedade no sentido contrário.
Edgar Schein, especialista no assunto, afirma que a cultura organizacional é formada por três tipos de elementos: 1) Artefatos, comportamentos e produtos tangÃveis, como vestuário, linguagem, rituais, comemorações, piadas e outros exemplos visÃveis. Esses elementos podem ser facilmente reconhecidos por quem não é da cultura em questão.
2) Normas e valores que se referem às hierarquias de valores na cultura e seus códigos de conduta. Elas costumam ser expressas em declarações públicas da identidade do grupo e, em alguns casos, são projeções do que os membros da cultura desejam se tornar no futuro. Esses elementos são mais detectáveis pelo público interno.
3) Assunções básicas, que são comportamentos e crenças profundamente enraizados na mente e na programação dos membros da cultura, geralmente inconscientes. Tendem a ser tão bem integradas na dinâmica interna que chegam a ser difÃceis de detectar pelos próprios membros da cultura.
A cultura vai sendo moldada pelos lÃderes de uma organização e, uma vez criada, define os critérios de continuidade e sucesso de uma pessoa naquele ambiente.
Adaptar-se a uma cultura pode ser desgastante. Caso escolha esse caminho, poderá ter sucesso, embora as chances sejam pequenas. Só tome cuidado para não pagar o alto preço emocional de não ter uma vida autêntica. Isso vale a pena? Agora, se você escolher deixar a empresa, isso pode demandar paciência e algum tempo de procura. Você deve se preparar para a transição sem pressa e analisar com profundidade a próxima cultura.
O importante é fazer uma reflexão sobre suas insatisfações e responder a essa pergunta: Se tivesse todas as informações de agora no momento em que recebeu a proposta da empresa, você a aceitaria? Caso a resposta seja não, sem hesitações, sugiro que busque uma nova cultura.
Se você falhou na análise, a empresa que o contratou também falhou na dela.
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