O exercício de diagnosticar perfis, portanto, requer cuidados, ainda que seja válido como oportunidade de reflexão
Por: Conrado Navarro
Entender e usufruir de nosso potencial são duas ações bastante difíceis, especialmente porque dependem de um grau de autoconhecimento elevado, bem como de um norte (princípios e valores) muito claro. O exercício de diagnosticar perfis, portanto, requer cuidados, ainda que seja válido como oportunidade de reflexão.
Assim, minha intenção neste texto não é generalizar, nem tampouco rotular ninguém, mas apenas discutir de forma mais profunda o comportamento humano diante do eterno conflito entre desejos, necessidades, expectativas e pressões sociais. Em uma rápida conversa com um mentor, identificamos dois grupos de pessoas, a saber:
Pessoa “IA”
Aquele tipo que costuma ficar preso no passado e costuma falar coisas tipo: “Na sua idade, eu corria 10km em 40 minutos” ou “Eu fazia cada coisa legal antes de trabalhar nesta empresa”. Trata-se de um sujeito predominantemente defensivo, desconfiado da capacidade dos demais, especialmente se um dia ele já foi bom no tema em discussão. Acaba que fica sempre difícil executar tarefas ao seu lado.
Esse perfil geralmente comemora pouco as vitórias dos demais por sustentar um desejo de ter sido mais disciplinado e persistente nas suas tarefas de excelência do passado. A sensação que tenho é que dói saber que há capacidade (a realização passada prova isso), mas pouca motivação.
Pessoa “SE”
Aquele tipo que depende de algum evento (ação, pessoa, aprovação etc.) para se mexer. É um sujeito que justifica a inércia com um acontecimento. Suas falas costumam ser “Se eu não tivesse me casado tão cedo, teria aberto meu próprio negócio” ou “Quando eu finalmente conseguir ganhar mais, vou começar a guardar dinheiro” e por ai vai. Ou diz “Sim” pra tudo, ou o contrário. O equilíbrio sempre depende de algo “fora de seu controle”.
Esse perfil vive ancorado em expectativas dos outros, o que gera angústia e ansiedade, ainda que não aceite (ou até mesmo refute!) essa realidade. Tratam a falta de ação na exploração do próprio potencial como produto do sistema, tendendo sempre a criar desculpas e justificativas para metas não alcançadas. São vítimas da vitimização, que por sua vez é parte da cultura predominante no modelo de inclusão pelo consumo.
Qual seria o perfil ideal?
Que tal aquele tipo que responde aos seus desejos e/ou problemas com otimismo, ações e atitudes? Ele diz “Sim” para o que precisa ser feito e sabe definir e respeitar prioridades, ainda que isso cause certo desconforto – temporário, é preciso frisar – a si mesmo e aos mais próximos.
O ponto chave é que a pessoa “OK” é capaz de dizer “Não” com a mesma personalidade e diligência com que diz “Sim”, o que é essencial para manter em dia o senso de urgência e, consequentemente, a lista de afazeres e responsabilidades do dia a dia. Costumam ser bons ouvintes, porque afinal gostam de serem ouvidos. Além disso, lidar com pessoas não é visto como uma tarefa, mas como parte do processo.
Ora, todos temos momentos e decisões tomadas com base nesse “perfil ideal”, mas agir assim o tempo soa um pouco artificial demais, não é mesmo?
Generalizações merecem cuidado!
O ser humano perfeito, direto dos livros de autoajuda, não parece factível. Mas deve ser perseguido se quisermos ir mais longe, creio eu – e viver majoritariamente, e inflexível, como “IA” ou “SE”, bem, não vai ser muito útil.
Os perfis apresentados aqui podem se misturar e aparecer em maior e menor grau em todos nós. Não tenho nenhuma pretensão de batizar tais “descobertas”, mas como venho enfrentando certa dificuldade com os grupos “IA” e “SE” em meu dia a dia como empresário, achei por bem abrir a discussão para aprender mais e melhor sobre o tema.
Você já vivenciou alguma dessas situações? Outros perfis, derivados ou não, devem constar de uma avaliação que envolva principalmente comportamento e atitude diante de desafios? Gostaria de sua opinião para aprimorar a conversa. Obrigado e até a próxima.
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