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16 de junho de 2019 - 12:01

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Pesquisadora diz que quem se vê como pessoas diferentes em casa e no trabalho pode ter mais propensão a comportamentos antiéticos

Por: Jyoti Madhusoodanan

A maioria de nós sabe que não é a Mulher Maravilha ou o Super-homem no seu dia a dia. No entanto, temos algo em comum com os famosos super-heróis: todos lidamos com diferentes identidades.

Uma pessoa pode ser mãe de manhã, triatleta competitiva na academia, médica empática no trabalho, ávida chef na hora do jantar, e depois mãe novamente na hora de dormir. No entanto, a maneira como vemos esses papéis variados difere dependendo da pessoa.

Algumas se consideram essencialmente como tendo as mesmas características em todos os papéis que desempenham. Por exemplo, uma pessoa pode se achar compassiva tanto ao gerenciar outras pessoas no trabalho ou cuidar do seu jovem sobrinho. Outras, no entanto, se veem como pessoas diferentes em papéis diferentes – juíza intimidadora no trabalho, mas vovó amorosa em casa.

Maferima Touré-Tillery, professora assistente de marketing da Kellogg School, refletiu sobre como essas distinções influenciam a tomada de decisões morais.

“A meta de ser uma pessoa boa é um motivador poderoso”, diz ela. “A maioria das pessoas tem um forte desejo de manter uma visão positiva de si mesmas”.

Em uma nova pesquisa, Touré-Tillery e sua coautora descobriram que as pessoas que considerem suas personalidades como constantes em todos os seus papéis tendem a se comportar de maneira ética mais do que as que acreditam agir de forma diferente em cada papel.

Ser bom é mais importante para este primeiro grupo, porque ao se comportarem de maneira imoral, essas pessoas se veem como pessoas más, explica Touré-Tillery. Querer evitar essa autoimagem negativa pode servir como motivação para as pessoas se comportarem melhor.

“Todos nós temos identidades diferentes com as quais nos rotulamos”, diz Touré-Tillery. “O que observamos em nosso estudo não é tanto o que esses rótulos são ou quantos são, mas sim se as pessoas pensam ser as mesmas nessas identidades”.

Sobreposição de traços e ações éticas

Estudos anteriores mostraram existir um vínculo entre os traços de personalidade em nossas identidades e na forma como lidamos com a angústia.

Por exemplo, os pesquisadores descobriram que os estudantes universitários que dizem ter um menor número de facetas em suas identidades – e cujos traços sejam semelhantes nessas identidades – tendem a apresentar mais sofrimento físico e mental depois de eventos da vida penosos do que os estudantes que se definem com maior número e maior diferença de identidades.

No entanto, grande parte dessa pesquisa não analisou como a autoimagem de um indivíduo pode predizer suas ações futuras. Em uma série de experimentos, Touré-Tillery e Alysson Light, da Universidade de Ciências da Filadélfia, mediram as ideias das pessoas a respeito de si mesmas e como esses conceitos afetaram seu comportamento.

No primeiro experimento, os pesquisadores pediram a cerca de 250 participantes on-line para listarem palavras que descrevessem suas identidades, como “jogador de videogame” ou “pai”.

Em seguida, os participantes escolheram palavras como “competitivo”, “imaginativo” ou “extrovertido” de uma lista de adjetivos para descrever cada uma dessas identidades. Também relataram se acreditavam que eram a mesma pessoa em todos os papéis

As pessoas que relataram sentir ser a mesma pessoa em todos os papéis usavam mais ou menos o mesmo conjunto de adjetivos em todas as listas. As que se descreveram como diferentes em seus diversos papéis usaram menos adjetivos em comum.

Em seguida, os participantes receberam 12 situações como, por exemplo, se devolveriam a um caixa na mercearia troco recebido em excesso. As pessoas que usaram os mesmos adjetivos em vários papéis estavam mais propensas a agir com ética do que as que identificaram ter menos traços em comum, descobriram os pesquisadores.

Ter a mesma percepção de si mesmo em todas as identidades dificulta a compartimentação do mau comportamento, diz Touré-Tillery.

“Se eu acredito ser a mesma pessoa em todas as minhas identidades, então caso faça algo que me dê mal-estar sobre a minha pessoa, isso provavelmente repercutirá em todas as minhas identidades” ela diz. “Tudo o que é antiético amplifica a sensação de ser uma pessoa ruim”.

Ajustando a autopercepção, mas será que essa sobreposição – ou a ausência dela – impulsiona o comportamento ético ou está meramente ligado à moralidade?

Para responder a essa pergunta, Touré-Tillery e Light foram um passo adiante: em uma série de experimentos, elas manipularam até quanto que as pessoas viam suas identidades como semelhantes ou diferentes.

Como no experimento anterior, a equipe pediu aos participantes para listarem seus papéis. Porém, em vez de combinar esses papéis com os adjetivos, alguns participantes tinham que descrever as formas pelas quais agem e pensam de maneira semelhante nos papéis, enquanto que outros tinham que se concentrar nas diferenças.

Mais uma vez, foi pedido aos participantes que refletissem em como reagiriam a situações como receber troco em excesso na mercearia. O grupo que teve que pensar sobre como agem e pensam de forma semelhante em todas as identidades era mais propenso a relatar que fariam a escolha ética do que o grupo que havia se concentrado nas diferenças.

Esses resultados mostram que a forma como uma pessoa liga as facetas da sua identidade é claramente importante em termos do que dizem que farão ao se deparar com um dilema moral. “Mas queríamos também observar um comportamento real – o que as pessoas realmente fazem comparado ao que dizem que vão fazer?”, Touré-Tillery diz.

Assim, em dois experimentos finais, os participantes que se concentraram nas semelhanças ou os que se concentraram nas diferenças entre suas personalidades tiveram que jogar cara ou coroa depois de prever o resultado do jogo. Em um experimento, simplesmente informaram se acertaram o que haviam previsto. Mas em um segundo, recebiam uma recompensa de 25 centavos cada vez que informavam ter acertado o que haviam previsto.

Sem o incentivo, quase todos relataram as mesmas proporções de previsões corretas e incorretas. Mas quando havia um prêmio, 82% das pessoas que relataram diferenças em suas identidades informaram previsões mais corretas. As pessoas que tinham refletido sobre as semelhanças informaram pontuações semelhantes independentemente de haver ou não uma recompensa. Isso sugere que as pessoas que estavam se sentindo consistentes em suas identidades agiram com mais honestidade.

Implicações na vida real

É difícil prever como alguém vai pensar em si mesmo nas várias identidades e, como os pesquisadores demonstraram nesse estudo, esse pensamento pode mudar de acordo com as circunstâncias. Sendo assim, a generalização dos resultados em recomendações para formuladores de políticas, angariadores de fundos, entre outros, deve ser abordada com cautela, explica Touré-Tillery.

Além disso, as organizações devem estar atentas também por outras razões. Por exemplo, essas descobertas talvez possam ajudar as empresas a decidir implementar ou não políticas que visam melhorar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal dos seus empregados: sentir-se à vontade para trazer as identidades familiares para o ambiente de trabalho pode ajudá-los a se tornarem mais moralistas no trabalho.

“Ao permitir que eles fundam suas vidas profissionais e pessoais”, diz Touré-Tillery, “você os ajuda a fundir suas identidades como pais e trabalhadores, de forma que possam se comportar de maneira mais moral em todos os aspectos”.

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