Por: Sidnei Oliveira
Uma simples fofoca pode atingir proporções comprometedoras e prejudicar não somente a vítima do comentário maldoso, mas também a trajetória profissional de quem se dispõe a criar e reproduzir o comentário.
Segundo uma pesquisa realizada com 39 profissionais, através de atendimentos de coaching, aponta que 80% das demissões nas empresas foram originadas por problemas como fofocas, falta de postura e desrespeito nas relações de trabalho onde “brincadeiras” de mau gosto expõem as pessoas e comprometem o resultado da equipe.
“‘Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo.’ Na sabedoria de Freud sobre o que o sujeito fala, essa fala revela mais de si próprio do que do outro”, comentou Waleska Farias, Coach e Consultora de Carreira e Imagem, que ainda lembrou, “com o advento do conceito de assédio moral, dependendo da extensão do comentário, o profissional fofoqueiro pode até ser demitido por justa causa, pois esse tipo de comportamento fere o código de ética da empresa e ameaça as relações de trabalho, colocando em risco a saúde do ambiente na empresa.”
Para Waleska, a fofoca tem como objetivo lesar o outro profissional, prejudicando seu desenvolvimento na empresa. “É comum determinadas pessoas, por se acharem incapazes e terem necessidade de autoafirmação, tentarem promover-se à base de fofoca para conquistar atenção e mobilizar grupos, mas esse tipo de recurso não se sustenta ao longo do tempo e pode, inclusive, comprometer a reputação do profissional fofoqueiro”, disse a consultora.
Mas a jornalista Melissa de Miranda acha injusto pressupor que a fofoca parte de uma compensação da própria incapacidade ou de intenção genuína de ferir outro profissional. “Ainda que isso ocorra, a meu ver, esse comportamento está enraizado na nossa cultura – e vem ganhando ainda mais palco com a internet. É uma cultura midiática. Devemos atacá-la, e não fazer isso apenas com o indivíduo”, comentou a jornalista.
Ainda segundo Melissa, há uma necessidade constante por destaque, que é reflexo de uma geração incentivada a se autoafirmar. “De certa forma, é como nós da geração Y aprendemos a nos comunicar. O problema dessa promessa de holofotes e atraente liberdade de expressão – YouTube está aí para isso! – é que ela traz também a falta de filtro”, explicou a jornalista, que também comentou que as empresas precisam promover mais ações que estimulem a reflexão, pois muitos novos profissionais ainda agem pelo impulso, sem processar as próprias atitudes.
Concordo com a Melissa, a fofoca é uma manifestação cultural que, no Brasil, assume contornos singulares diante das características de extroversão com que estabelecemos nossos relacionamentos.
Em uma pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia, liderada pelo prof. John Graham, em uma simples negociação a palavra “você” é utilizada pelos brasileiros até três vezes mais do que pelos japoneses e alemães e o dobro quando comparado com americanos. Outra curiosidade da pesquisa é que o brasileiro não utiliza a estratégia do silêncio superior a 10 segundos quando está em uma conversa. Nós simplesmente não concebemos uma conversa com pausas silenciosas tão grandes.
Creio que é nessa hora que completamos as conversas com as informações adicionais “não solicitadas”, também conhecidas como fofoca.
No entanto, Waleska ainda alerta, que nesses novos tempos, ter boa capacitação técnica e chancela acadêmica não é garantia de uma trajetória profissional de sucesso. “As empresas estão cada vez mais atentas ao comportamento dos profissionais. Sem um bom referencial de conduta, não há muita chance de crescer na organização. De acordo com o posicionamento da empresa, a excelência das ações conta tanto quanto ou mais que as qualificações técnicas. Currículos admitem e maus hábitos demitem” concluiu a consultora.
Mesmo sendo um traço cultural, isso não minimiza as consequências negativas que essa prática traz para os relacionamentos, seja em qualquer lugar, em especial nas organizações, onde o maior prejudicado é o próprio profissional que, quando faz fofoca, é sempre avaliado como alguém com objetivos questionáveis.
CADASTRE-SE no Blog Televendas & Cobrança e receba semanalmente por e-mail nosso Newsletter com os principais artigos, vagas, notícias do mercado, além de concorrer a prêmios mensais.