Por: Lucy Kellaway
Na semana passada, durante um evento social para altos executivos de bancos, acabei me vendo em uma rodinha com seis homens batendo papo sobre trivialidades. Ao dar uma olhada nas pessoas do grupo, percebi que cinco seguravam copos de água com gás, enquanto apenas uma delas havia se juntado a mim e aceitado a taça de champanhe oferecida pelo garçom.
Cometi o erro de comentar sobre a abstinência do grupo, já que tive como resultado uma conversa cheia de divagações sobre a adesão deles ao “janeiro seco”, a campanha em voga na Grã-Bretanha para cortar o consumo de álcool por um mês após as festas de fim de ano.
Depois de um tempo, o homem com a taça de champanhe declarou que havia decidido se abster de algo muito mais difícil do que o álcool. Sua promessa de Ano-Novo havia sido se abster do excesso de trabalho, não apenas pelos 31 dias de janeiro, mas pelo resto da vida. Ele não suportava mais participar de reuniões sem sentido e receber e-mails às 23h. Nas primeiras semanas do ano, ele havia produzido tanto quanto antes, mesmo tendo trabalhado em média não mais de sete horas por dia e aproveitado o resto do tempo para seu próprio bem-estar.
Não deveria haver nada de extraordinário nisso. Afinal, ele era graduado o suficiente para definir seus próprios horários. A razão pela qual me impressionei com essa história é que, nos últimos 20 anos, profissionais com altos salários viram-se presos dentro de um eterno inverno de trabalho praticamente ininterrupto – e achando isso não apenas normal, mas motivo para admiração. Mesmo assim, aqui havia alguém no topo de um setor competitivo dominado por “workaholics” tentando impressionar os rivais ao dizer como trabalhava pouco, e não muito.
É possível que isso seja o começo de algo bem grande. Tanto Bertrand Russell quanto John Maynard Keyes previram isso nos anos 30. Demorou a chegar, mas talvez esteja, enfim, nos alcançando.
No ano passado, passei dois meses fazendo um documentário de rádio sobre cargas excessivas de trabalho. Saí por aí entrevistando pessoas que optam por trabalhar o tempo inteiro e especialistas que haviam estudado o fenômeno.
O que encontrei foi mais ou menos o que eu previa: os profissionais trabalham muitas horas por quatro motivos. Alguns o fazem por competitividade ou para acompanhar o ritmo de vida dos colegas. Também há aqueles que o fazem porque são ineficientes e passam tanto tempo distraídos na internet que depois precisam ficar até mais tarde para terminar suas tarefas. Alguns poucos o fazem porque adoram a sensação de encarar a pressão no trabalho – que pode ser mais fácil e gratificante que a da vida real. Mas quase todos o fazem, pelo menos em parte, pelo status inerente. Somos o que fazemos. E quanto mais fazemos, mais somos.
Algo que não esperava, contudo, veio de uma entrevista com a escritora Margaret Heffernan. Ela me contou que nos círculos da elite executiva dos Estados Unidos a situação começou a mudar. Assim como é vulgar gabar-se sobre o quanto se consome, agora começa a tornar-se vulgar gabar-se sobre o quanto se trabalha. Há pessoas na vanguarda, sustentou ela, que começam a vangloriar-se da mesma forma que o executivo de banco de minha rodinha fazia. Menos horas igual a mais status.
Na ocasião, gostei da teoria dela, mas não vi sinais de que fosse verdadeira. O que vi, em vez disso, foram os amigos de meus filhos começando a trabalhar em consultoria e firmas de advocacia. Não apenas pareciam trabalhar mais do que nunca como também pareciam menosprezar qualquer um que saísse do trabalho às 18h.
Agora, contudo, começo a me perguntar se Heffernan não pode estar certa. Há anos, os empregadores na Suécia (país que nunca foi fã do trabalho desmedido) vêm testando a jornada de seis horas. Há sinais de que os anglo-saxões viciados em trabalho veem a ideia com aprovação, em vez de superioridade.
Recentemente, o jornal “The Independent” promoveu uma pesquisa na internet perguntando se uma experiência similar na Grã-Bretanha tornaria todos mais produtivos e felizes. Cerca de 95% disseram que sim. A empresa britânica de marketing Agent testou a ideia em um experimento que acaba de ser altamente elogiado na revista americana “Fast Company”.
Acabo de concluir um teste interessante por conta própria. Observei os perfis de executivos, advogados e altos funcionários de bancos em um site de encontros. Todos precisavam responder quantas horas trabalhavam por semana. Não consegui encontrar um só que admitisse trabalhar mais de 40 horas.
Naturalmente, uma coisa é gabar-se diante de possíveis parceiros (presumivelmente querendo distância de relações com alguém que nunca sai do escritório) sobre quanto tempo livre eles têm. Mas e na frente de colegas de trabalho?
O executivo de banco da rodinha era um excêntrico ou um criador de tendências? Enquanto ele falava, eu estudava o rosto dos beberrões de água com gás a quem ele se dirigia. Um deu uma bufada e disse: “Boa sorte”, mas os outros quatro o olharam com um misto de ressentimento e pura inveja. Em outras palavras, sua ostentação funcionou de forma magnífica.
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