As fofocas e os vexames, antes restritos ao cafezinho, agora vão para o ambiente público. Uma em cada três pessoas já foi vítima de agressão virtual. Como lidar com ela?
Por: Camila Guimarães, Rafael Barifouse e Thais Lazzeri
Fazia quase dez anos que o gerente Marcelo da Silva Fraga trabalhava na empresa de seguros SulAmérica, em Porto Alegre, quando começou a receber mensagens anônimas ofensivas, com palavrões, em seu e-mail corporativo. “Fiquei sabendo da festa dos anos 70, e que você estava bem viadinho (sic), com uma piruca (sic) muito ridícula”, dizia uma delas. Marcelo foi até a direção da empresa e contou sobre as mensagens, que rapidamente se espalharam pela caixa postal de colegas de trabalho. Com o apoio da SulAmérica, ele conseguiu judicialmente que o provedor de internet rastreasse a conta-fantasma. Ela fora criada num computador da própria empresa, no Departamento de Informática. O usuário, que estava de férias, negou ter criado a conta. Qualquer um poderia ter sentado em sua mesa durante sua ausência.
Dias depois, Marcelo recebeu pelo correio um envelope amarelo, com seu nome como destinatário e sem remetente. Dentro, havia um pó branco. Imediatamente Marcelo levou o envelope para uma delegacia e pediu a análise. Segundo seu advogado, o pó foi identificado como cocaína. “Estavam armando contra ele”, afirma Marco Túlio de Rose, advogado de Marcelo. Mais uns dias se passaram, e Marcelo recebeu a notícia de que fora chamado pelo Departamento de Recursos Humanos. A caminho de lá, viu um grupo de outros gerentes e diretores fazendo uma festa.
A comemoração tinha balões e serpentina. Testemunhas disseram depois que a festa fora organizada para “comemorar a vitória dos que queriam o afastamento de Marcelo” e que “pessoas ligadas à diretoria participaram”. As testemunhas foram ouvidas durante o processo que Marcelo abriu na Justiça contra a SulAmérica, alegando ter sofrido assédio moral. Ele ganhou uma indenização de R$ 20 mil por dano moral. A relatora do processo considerou que a “empresa não tomou as medidas adequadas para punir o infrator” e que a festa, organizada por diretores, ofendeu a honra de Marcelo. Nunca ficou provado quem criou a conta falsa de e-mail nem quem enviou o envelope.
Essa seria apenas mais uma história de assédio moral corporativo, não fosse um detalhe: o uso do e-mail como forma de atingir a vítima. O assédio moral virtual é a evolução das piadas ofensivas de colegas e chefes abusivos que sempre existiram. Fazer fofoca e futricas é tão antigo quanto a humanidade. As habilidades de falar mal dos outros e criar situações humilhantes dentro do ambiente de trabalho apareceram já nas pequenas oficinas da Idade Média. No mundo moderno, tais atos ganharam um nome (assédio moral) e passaram a ser punidos na Justiça. Agora, as conversas maldosas deixaram a salinha do café, os corredores escuros e ganharam visibilidade: estão na internet – onde todo mundo pode ver.
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