Pesquisa realizada pela ACNUR e Vagas.com indica que apenas 14,9% dos refugiados possuem emprego formal no país
Ingressar no mercado de trabalho é um desafio ainda maior para quem é refugiado: No Brasil, 55% das pessoas refugiadas estão sem emprego, aponta pesquisa “Mercado de Trabalho para Pessoas Refugiadas no Brasil”, realizada pelo Colettivo, pilar de Diversidade, Equidade e Inclusão da Vagas, em parceria com o Fórum Empresas com Refugiados, iniciativa da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e do Pacto Global da ONU no Brasil, com a ONG Visão Mundial e participação da empresa Belgo Arames.
A pesquisa ouviu 289 pessoas refugiadas por meio de uma pesquisa online enviada por e-mail e por meio de entrevista presencial. Os refugiados eram dos seguintes países: Venezuela, República Dominicana, Colômbia, El Salvador, Cuba, Haiti, Angola, Nigéria, Moçambique, Marrocos e Afeganistão.
Em relação aos refugiados que estão trabalhando a pesquisa mostra que:
16,3% estão atuando de maneira informal,
14,9% de maneira formal,
10,7% não estão trabalhando e não procuram emprego
Em relação aos que estão trabalhando, outro dado que chama atenção é que mais da metade (55,4%) não está atuando em suas áreas de formação ou experiência.
“São profissionais excelentes, alguns com vasta experiência na área de atuação em seus países de origem, mas ao chegarem no Brasil, eles têm grandes dificuldades para se recolocar no mercado. É necessário uma atuação mais ativa das empresas no desenvolvimento de ações afirmativas,” afirma Renan Batistela, especialista em diversidade, equidade e inclusão na Vagas.
Os desafios começam na procura pelo emprego
Os desafios para conquistar um emprego começam desde o momento em que os profissionais refugiados começam a procurar por oportunidades. Cerca de 41,2% dos entrevistados enfrentaram dificuldades nesse processo. Barreiras como o idioma, falta de acesso a oportunidades, discriminação, obstáculos na revalidação de diplomas, entre outros fatores, dificultam a inserção no mercado de trabalho. Além disso, poucas empresas possuem programas específicos para a inclusão de pessoas refugiadas.
Neste cenário, a promoção de ações e programas internos nas empresas voltados à inserção desse público é fundamental para ampliar a presença desses profissionais no mercado de trabalho e eliminar preconceitos, uma vez que existe muita desinformação acerca da contratação de refugiados, afirma Paulo Sérgio de Almeida, oficial de meios de vida e inclusão econômica do ACNUR.
“Contratar pessoas refugiadas traz diferentes benefícios para as empresas, além de ajudar na reconstrução de suas vidas no Brasil. Tais contratações aumentam a diversidade, o engajamento das equipes e reforça a agenda ESG das companhias. Promover a integração socioeconômica das pessoas refugiadas é um passo fundamental no caminho para uma sociedade mais inclusiva, justa e sem preconceitos.”
Algumas empresas estão apostando nessas políticas de inclusão, como é o caso da União Química que contratou neste ano 9 refugiados afegãos neste ano, e a Belgo Arames que possui 21 funcionários refugiados da Venezuela, Colômbia e Haiti.
“Do ponto de vista do negócio, sabemos que abraçar a diversidade é contribuir também para a alavancagem de resultados. É um processo em que todo mundo sai ganhando,” diz Luciana Macedo, gerente de diversidade, inclusão e responsabilidade social na Belgo Arames.
No entanto, Macedo afirma que é importante investir na inclusão dessas pessoas, de forma completa.
“É preciso levar em conta toda e qualquer dificuldade que possa exigir na adaptação de uma pessoa migrante ou em situação de refúgio no mercado de trabalho formal em nosso país. Não basta contratar, precisa acolher e incluir.”
Preconceito no ambiente de trabalho
Em meio aos discursos e processos de inclusão, há um elemento que ainda atua de forma implícita: o preconceito. O estudo mostra que quase metade (43,9%) das pessoas refugiadas acredita que a discriminação é um problema significativo no mercado de trabalho, outros 40,8% afirmaram que não e 15,2% disseram não ter certeza.
Mesmo assim, quando questionadas se já haviam sido eliminadas de um processo seletivo pelo fato de serem pessoas refugiadas, a grande maioria das pessoas refugiadas disse que não.
72,3% disse que não,
12,5% disseram já ter sofrido xenofobia no processo seletivo,
15,2% disseram que não tem certeza.
Quando questionadas explicitamente se já haviam sofrido algum tipo de discriminação no ambiente de trabalho por ser uma pessoa refugiada, a maioria (67,8%) disse que não, contra uma considerável parcela (26%) que disse que sim, enquanto uma pequena fatia de 6,2% disse não ter certeza.
“As empresas precisam procurar letramento. Procurem o ACNUR, façam parte do Fórum, porque é um lugar onde você vai conseguir entender como são essas pessoas refugiadas e como contratá-las,” diz Batistela.
Workshops para refugiados
Para ajudar a mudar essa realidade, a Vagas, empresa de tecnologia para Recrutamento e Seleção, desenvolveu um workshop sobre criação de currículo, que visa a recolocação de profissionais de grupos minorizados no mercado de trabalho e, em parceria com o ACNUR (Alto Comissariado da ONU para Refugiados) e a ONG Visão Mundial, já capacitou mais de 230 pessoas refugiadas, principalmente da Venezuela e do Afeganistão.
Criado em 2022, os workshops são realizados em diversas cidades brasileiras e os profissionais refugiados assistem a palestras com dicas sobre o mercado de trabalho brasileiro, como preparar um bom currículo no site de empregos Vagas.com, a importância de se ter um emprego formal, entre outros temas.
“Criamos uma hashtag para que os refugiados coloquem em seus currículos. Assim as empresas clientes da Vagas podem usar a hashtag do ACNUR e do Visão Mundial, ajudando as companhias a encontrar com facilidade os profissionais refugiados disponíveis no mercado,” diz Batistela.
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