Confira a seguir um trecho do segundo capítulo do livro “The School of Life” que trata dos perigos da armadilha de investimento no emprego
Muito frequentemente, a perspectiva de mudar para um emprego que você ama parece muito difícil, porque envolve um período de redução humilhante. Haverá – pelo menos por um tempo – uma queda de salário, você terá de adquirir novas habilidades, poderá ter de voltar a morar com os pais, haverá um período de relativa incompetência. Outras pessoas de sua idade estarão muito à frente nesta linha de trabalho em particular, você se condenará a, talvez, alguns anos de baixo status.
Pode parecer humilhante e lento e é o contrário da norma para pessoas ambiciosas – que têm uma gana natural de agir imediatamente, ver resultados rápidos e tangíveis e fazer progresso óbvio.
A ideia de mais treinamento pode parecer muito desanimadora. A armadilha do investimento no emprego está à espreita quando outra carreira parece muito atraente a princípio, mas o investimento em tempo e dignidade necessários para chegar lá é tão negativo que a pessoa deixa a ideia de lado e desiste – a um grande custo eventual.
Ironicamente, a armadilha do investimento no emprego é mais potente quando somos jovens. Imagine alguém de 20 anos: essa pessoa planeja uma carreira em engenharia química e está no caminho para obter as qualificações certas. Escolheu matérias em particular na escola, fez os cursos certos na universidade, tem alguma experiência de trabalho relevante, conheceu algumas pessoas que já estão no tipo de emprego que deseja.
Já fez um grande investimento, mas agora começa a pensar muito seriamente que deveria estar considerando um tipo totalmente diferente de carreira. Talvez, para encontrar um emprego que possa amar, deveria pensar em se tornar paisagista ou biólogo marinho. Provavelmente, significará um investimento de pelo menos dois anos de sua vida.
Aos 22, dois anos realmente parecem um tempo muito longo. São dez por cento da vida do indivíduo até o momento. Psicologicamente, é até maior do que isso. Aos 20, você talvez só tenha sentido que era “você’’ desde os 16 anos – antes, estava na névoa da infância e adolescência e não tinha uma ideia real do que sua vida poderia ser. Então, dois anos parecem ser metade de sua existência. É um grande compromisso.
O que é tão difícil – e, ainda assim, essencial – de entender é como as coisas serão no futuro, aos, digamos, 56 anos. A partir dali, dois anos têm um significado muito diferente. São apenas um vigésimo (ou 5%) dos 40 anos entre os 16 (e começando a realmente se interessar pelas possibilidades do trabalho) e o clímax da meia-idade.
Ao longo do tempo, a duração de mais estudos fica relativamente menor contra o cenário de toda uma vida de trabalho, enquanto as consequências de não ter estudado mais ficam cada vez maiores.
Algo semelhante acontece em torno do que podemos chamar de Armadilha do Investimento no Amor. Você talvez esteja com alguém por alguns anos e, embora às vezes tudo pareça estar bem, você sente que, em geral, não é uma relação muito boa.
No entanto, você fica porque o investimento necessário para encontrar um parceiro mais adequado é assustador. O presente é grande demais e o futuro longuíssimo – que, na verdade, será de longe a maior parte de nossas vidas – não traz o peso que realmente deveria.
Há dois grandes motivos. Um é que o longo futuro está ligado a uma narrativa de declínio. A ideia de envelhecer não é algo que aceitemos e com o qual nos empolguemos. Temos medo de envelhecer. Normalmente, não ficamos ansiosos para ter 56 ou 67 – e, assim, achamos fácil, até atraente, evitar pensar no que serão nossos interesses e necessidades nesses futuros estágios da existência.
Vivemos em uma cultura muito impressionada com a juventude. Somos constantemente lembrados de por que é bom ser jovem e raramente estimulados a pensar no que poderia ser atraente ou interessante em ficar mais velhos. Então, não investimos imaginativamente em pensar no que nos ajudará a viver bem na meia-idade.
Para combater essa tendência, deveríamos desenhar linhas do tempo para nos forçar a ver que o período dos 16 aos 24 anos é bastante curto em comparação com aquele entre os 24 e os 48 ou entre os 48 e os 72.
Na utopia cultural, quando temos 22 anos frequentemente veríamos filmes e leríamos livros sobre as vidas de pessoas de meia-idade. Periodicamente nos lembraríamos de que os 50 e poucos anos normalmente são o ponto alto da vida profissional das pessoas, o período em que conquistam e ganham mais.
Faríamos isso para construir nosso envolvimento imaginativo com nossa própria existência futura, para que pesássemos investimentos agora não com relação a nossas experiências mais recentes, mas considerando uma imagem mais precisa do formato de toda uma vida.
O outro fator essencial – que torna fatalmente fácil descontar o longo prazo – é que normalmente vivemos em bolhas de fuso horário.
Passamos a maior parte de nossas vidas em volta de grupos de pessoas que têm aproximadamente a nossa idade, então não temos experiência intergeracional suficiente. Não somos atraídos para o mundo interno e a experiência de pessoas consideravelmente mais velhas do que nós e, assim, não temos a noção total da realidade de sua fase de vida.
Precisamos ter uma estratégia mais ativa. Temos de incentivar as pessoas a tentar nos explicar suas experiências de vida. Precisamos fazer perguntas instigantes, sondar e dar seguimento. Temos de pedir para que entrem em mais detalhes.
Precisamos perguntar especificamente como sua visão mudou ao longo dos anos, o que passaram a ver de forma diferente e por que. E deveríamos fazer isso não com apenas uma pessoa, mas de forma geral e periódica.
Pode parecer muito estranho – mas, pensando bem, é realmente razoável e prático – pensar que, para abrir caminho rumo a um emprego que possamos amar, uma das coisas que talvez precisemos fazer é passar um tempo desenvolvendo relacionamentos com pessoas mais velhas, e não necessariamente envolvidas nas carreiras que estamos considerando.
O objetivo é mais geral. Estamos em busca de ajuda para levar muito a sério algo crucial e, ainda assim, incrivelmente fácil de descontar: a realidade de nossas futuras décadas de vida.
Estamos em busca de formas de nos ajudarmos a pensar mais completa e realisticamente sobre o futuro, para que possamos tomar grandes decisões com a visão mais clara.
Talvez, só então poderemos avaliar adequadamente o valor de um investimento difícil, mas importante que irá – a um custo que possa parecer valer a pena – nos ajudar a encontrar uma carreira na qual realmente podemos acreditar.
CADASTRE-SE no Blog Televendas & Cobrança e receba semanalmente por e-mail nosso Newsletter com os principais artigos, vagas, notícias do mercado, além de concorrer a prêmios mensais.