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Escolas de negócios devem olhar para o público acima de 50 anos

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
04 de novembro de 2015 - 18:00

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Por: Stela Campos

As grandes escolas de negócios ainda não despertaram para o fato de que os seus futuros alunos não serão os jovens da chamada geração milênio, nascidos a partir de 1980, mas sim os profissionais na faixa dos 50 anos de idade ou mais. Essa é a opinião de Santiago Iñiguez, reitor da espanhola IE Business School, uma das dez melhores escolas de negócios do mundo, segundo o jornal britânico “Financial Times”. “A população mundial está envelhecendo e a expectativa de vida está subindo com os avanços da medicina. Isso vai criar um novo mercado consumidor que chegará também à área de ensino executivo”, disse aoValor, em recente visita ao país.

Para o reitor, os profissionais acima de 50 anos têm mais recursos, experiência e estão mais bem preparados para iniciar novos negócios e ensinar como especialistas. “Temos dados que comprovam que os executivos seniores querem continuar se educando, mesmo quando, teoricamente, deixam o mercado de trabalho”, afirma. Ele diz que, na Espanha, a idade da aposentadoria subiu de 65 para 67 anos e pode ainda mudar para 70. “Nessa faixa etária, existem talentos que podem atuar de diversas formas.”

Iñiguez ressalta que sua escola já está começando a ter esse público como alvo em alguns cursos de especialização, como o de liderança, que inclui o “mindfulness” (meditação com atenção plena). “Está comprovado cientificamente que esse tipo de técnica pode ajudar a regenerar o tecido neural, o que é muito importante nessa fase da vida. Um bom programa nessa linha ajuda os executivos a desenvolver seus cérebros e a se sentirem mais jovens, de alguma forma.”

Para o reitor, esse é um mercado de futuro para o ensino executivo que deve crescer significativamente nos Estados Unidos, na China e no Japão. Outra tendência irreversível na educação, em sua opinião, é o ensino on-line. “Quase todas as grandes escolas de negócios do mundo já têm algo nessa linha, seja integral ou no modelo conhecido como ‘blended’, parte presencial e parte a distância”. O IE foi umas das instituições pioneiras nesse tipo de ensino, tendo investido € 12 milhões em 2002 na criação do IE Learning Net, uma unidade voltada para a formação on-line. Neste ano, a escola foi considerada a melhor do mundo em cursos nessa modalidade pelo “Financial Times”.

O reitor prevê que em dez anos todas as escolas de negócios terão ensino on-line. “Já vemos Harvard e o MIT entrando nesse campo. É uma mudança no aprendizado muito importante”. Em sua opinião, a vantagem no caso dos cursos executivos é que esse modelo diminui para as empresas os gastos com viagens. Além disso, o profissional não precisa se ausentar do trabalho para estudar. Pelo ponto de vista do aluno, ele diz que a experiência de aprendizado é muito intensa e cria um tipo de interação com comunidades virtuais mais forte. “Quando o executivo estuda presencialmente, ele troca endereços de e-mail no fim do curso com colegas de outros países, mas o contato muitas vezes para por aí. No curso on-line, os laços de comunicação virtual são mais dinâmicos e duradouros.”

A grande questão do ensino on-line, segundo Iñiguez, é a qualidade. “Existe uma mudança importante no papel do professor, que passa a ser um tutor. Todo o sistema de aprendizagem vai ter que mudar e isso leva tempo”. Para ele, o eventual preconceito em relação aos cursos a distância por parte dos empregadores pode ser derrubado quando se trata de uma instituição de renome e com uma boa reputação.

Sobre a atuação da escola espanhola no Brasil, o reitor diz que vem gradativamente ampliando a sua participação. De 32 estudantes em 2012, a estimativa é que a instituição receba 43 no próximo ano. Também está em curso o fechamento de uma nova parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV). “O mercado de ensino executivo cresceu muito para nós nos últimos cinco anos, especialmente pela entrada de mais empresas espanholas no país que já nos conhecem”, diz. Ele ressalta, entretanto, que o mercado local não é fácil para escolas estrangeiras. “Existem barreiras burocráticas e culturais.”

Iñiguez afirma que, quando se trata de escolas estrangeiras, as empresas querem enviar seus executivos para o exterior em vez de pagar para que estudem nas unidades daqui – ainda que o ensino seja o mesmo. “Se for para ficar, a preferência é pelas escolas brasileiras. A quantidade de cursos de gestão oferecida no país é grande e o custo é bem menor”. Ele diz que essa preferência por escolas locais acontece também na Itália. “No Brasil, as pessoas querem cursos em português, não em inglês ou espanhol. Portanto, a língua é outra barreira importante.”

O reitor enfatiza, porém, que o mercado de ensino de gestão está em expansão no Brasil, o que deve abrir espaço para todo tipo de competidor. “O tamanho das escolas brasileiras é impressionante”, enfatiza. Em sua opinião, existe uma rejeição aos estrangeiros relacionada à lealdade com as marcas tradicionais locais, mas as alianças ajudam a quebrar esse preconceito. “Todo mundo que pretende atuar no setor de serviços no Brasil precisa buscar um parceiro local para começar. O mercado de ensino segue a mesma lógica.”

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