Por: Gilberto Guimarães

Trabalho há 20 anos na área de TI, mais especificamente na prestação de serviços para grandes grupos empresariais. Durante esse período, passei pelas maiores companhias do setor e ocupei diversos cargos. Adquiri, portanto, experiência o suficiente para conhecer os desafios, oportunidades e peculiaridades do mercado. Tenho sentido cada vez mais o desejo de pedir demissão e abrir minha própria empresa, mas não sei se é a coisa certa a fazer. Meu maior receio é ter que passar boa parte do tempo envolvido em questões formais e burocráticas, e não no negócio em si. Além disso, a ideia de concorrer diretamente com meus atuais e antigos colegas de trabalho me deixa um pouco desconfortável. Devo seguir meu desejo de empreender ou continuar fazendo o que gosto, sem essa pressão extra?

Diretor, 41 anos

Resposta:

Ser empresário é muito diferente de ser um profissional contratado que atua no mercado. Claro que para fazer essa transição sua experiência e competência serão muito importantes, mas representam apenas uma parte do negócio.

Uma empresa pressupõe a execução de três tipos de tarefas, que exigem competências e preferências comportamentais específicas. É preciso saber e gostar de vender, ter competência para executar e produzir os produtos ou serviços vendidos, e ser organizado para administrar e controlar a empresa.

Não imagino alguém que possa ser bom e ter prazer em todas essas três tarefas. Por isso, é fundamental ter um sócio ou parceiro, alguém que tenha competências e preferências complementares às suas. Mais do que passar boa parte do tempo envolvido em questões burocráticas, como você disse, vai ser ainda mais difícil ter que vender os seus serviços, definir preços, negociar e se expor. Ou seja, estabelecer valor sobre si próprio e fazer a entrega do serviço vendido. Isso pode ser bem complicado.

Além disso, seu faturamento estaria restringido pela quantidade de horas que você poderia dedicar a essa entrega. Esse fator somente aumentaria se você conseguisse elevar o preço de sua hora – e isso não depende de você, mas de seus clientes. Talvez fosse mais fácil se você representasse um produto ou serviço. Nesse caso, poderia multiplicar a quantidade de horas trabalhadas pela existência de outros profissionais que trabalhariam para você. O consultor é aquele que vende suas próprias horas e o empresário é quem “vende” as horas dos outros.

O empresário de sucesso é aquele que tem a capacidade de saber antecipar e de pensar na frente. Não se trata de adivinhação. O futuro é uma consequência do que já está acontecendo. Nada é por acaso ou acontece de repente. Tudo é precedido por sinais, eventos e acontecimentos. O bom empresário é aquele que sabe enxergar tudo isso e, a partir daí, avaliar e prever o que virá em seguida – não aquele que apenas reage ao que já aconteceu.

Como é impossível estar vigilante e atento a tudo, é preciso estabelecer prioridades, interesses e definir aquilo que se precisa conhecer. Então, passar a se manter informado, acompanhar o assunto em detalhes e manter uma vigília estratégica.

É como quando o proprietário da casa onde você mora de aluguel há muitos anos pede de volta a chave do imóvel. De repente, naquele mesmo caminho que faz diariamente da casa para o trabalho, você começa a ver muitas placas de “vende-se” ou “aluga-se” que já estavam lá, mas que você não notava, porque achava que não precisava.

Você vê o que quer ver, ouve o que quer ouvir. Portanto, para estar vigilante é fundamental definir qual é o seu projeto de vida e os seus objetivos. Desse modo, pode-se ficar atento e monitorar aquilo que é importante para a vida, empresa, carreira e projeto.

A isso tudo, é preciso acrescentar a capacidade de suportar o risco e a incerteza, que são parte inerente da vida empresarial. Cabe a você fazer essa reflexão e decidir se sai em busca da realização de seu desejo ou se continua na segurança de seu emprego.

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