Por: Karin Parodi
Trabalho em uma empresa de médio porte. Nos últimos dois meses, a maior parte das mulheres que ocupavam cargos de liderança deixaram a companhia. Em nenhum dos casos a justificativa foi abertamente relacionada a gênero, mas percebi relações indiretas que as motivaram a deixar a empresa e tocar projetos próprios. Já senti que não sou tão valorizada quanto meus pares homens, mas pensei que isso pudesse ser apenas uma impressão. Os gestores, por sua vez, não parecem ter percebido a “coincidência” de, em tão pouco tempo, terem perdido praticamente todas as profissionais em cargos de destaque- nem querem lidar com isso. Gosto do que faço, mas me sinto mal pela empresa nem ao menos reconhecer o problema e talvez não tenha espaço para crescer aqui. O que devo fazer?
Gerente, 31 anos Resposta:
Você está familiarizada com o termo “acaciano”? Vem de um personagem do Eça de Queirós que aparece no livro “O Primo Basílio”, o Conselheiro Acácia. O sujeito só falava obviedades, e, para esconder a falta de originalidade, ele as dizia de um modo pomposo, pseudointelectual. Hoje, dizer que as organizações precisam tanto de homens como de mulheres é acaciano. Afirmar que os dois sexos agregam resultados de forma diferente e complementar é uma obviedade.
Perceba, com isso, como é grave a situação da empresa na qual você atua. Tão grave que ela ainda é incapaz de reconhecer algo óbvio. Seus líderes estão em total desalinho com o mercado ao não desenvolver e reter a liderança feminina. Minha pergunta-chave é a seguinte: como você, sendo mulher, pode pensar em continuar a trabalhar em uma empresa assim? Onde a escalada até o topo é muito mais árdua para as mulheres do que para os homens, senão impossível? Aliás, eu faria essa pergunta mesmo aos homens da sua empresa. O destino dela, por esses indicativos, não me parece promissor.
Muitos estudos têm sido publicados sobre os ganhos de uma equipe com equilíbrio de gêneros. Alguns chegam a correlacionar maior lucro com maior participação feminina em seus quadros de liderança. Com base nessas métricas, é crescente o número de empresas criando espaço e programas de mentoria para otimizar e incentivar a retenção da mulher em posições executivas. Não se trata de ser politicamente correto, e sim de estratégia competitiva.
Algumas características como a capacidade de desempenhar diferentes papéis e o talento para a interação social são acentuadamente femininas, mas também podem ser encontradas em homens. Elas impactam muito positivamente na gestão de pessoas e equipes, no trabalho colaborativo, na capacidade de influenciar e no autodesenvolvimento.
Às vezes, a culpa por não reconhecer a verdade acaciana é da organização e, outras vezes, é da gestão. No seu caso, fica evidente a responsabilidade da organização. Mas, e você? Será que não está compartilhando a culpa por hora.Já foi provado que muitas mulheres, quando se veem em situações em que não se sentem totalmente preparadas.
Sabotam a si mesmas. Além disso, investem muito menos do que deveriam em networking e não buscam um mentor. Ou seja, deveriam arriscar mais.Vá buscar um mentor, seja ele de dentro da empresa ou de fora, se isso não for possível. Ele precisa conseguir inspirá-la, ter a habilidade de orientá-la, manter com você discussões frequentes sobre a carreira. Para escolhê-lo, pense em um profissional mais experiente do que você, que será um facilitador do aprendizado. Ou seja, um conselheiro sensível e de confiança. Com ele (ou ela, é claro e acaciano), você tem de dividir questões como as oportunidades e ameaças no seu ambiente de negócios, os relacionamentos externos e parcerias que podem ser construídas, os possíveis cenários futuros, as barreiras a superar, a navegação na cultura organizacional, escolhas para o desenvolvimento profissional e ações práticas a serem implementadas.
Essa troca precisa acontecer em um ambiente de confiança, comprometimento e confidencialidade totais. Não espere, contudo, respostas prontas. Esse é um processo que será construído com muita reflexão e amadurecimento da sua parte. Encare-o como um trabalho desafiador e prazeroso.
Se, depois disso feito, a empresa insistir em sua cegueira, o melhor a fazer é buscar outras opções. Não haverá futuro para você neste ambiente e você já estará bem preparada para enfrentar mares não navegados.
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