Por: Gilberto Guimarães
Tenho 47 anos e há 12 trabalho em uma multinacional do setor químico como diretor de operações. Há um ano, devido à aquisição de duas companhias menores, teve início uma reestruturação interna. Muita coisa já mudou e, para ajudar na adaptação, fui indicado para sessões de coaching – assim como outros diretores. Após alguns encontros, comecei a refletir sobre meu momento de vida e de carreira. Concluí que não existe mais sintonia com a empresa. Estou desanimado em relação aos novos desafios, mas ao mesmo tempo confuso, pois dependo do salário. Devo abrir o jogo com o coach, com meus superiores? O que devo fazer?
Diretor, 47 anos
Resposta:
É muito comum que, depois de algum tempo em uma mesma empresa, no mesmo cargo, as pessoas comecem a se questionar sobre suas escolhas e futuro. Feliz ou infelizmente, a maioria acaba se acostumando com as situações, por piores que sejam.
O receio das mudanças e uma certa dose de inércia acabam prevalecendo e somos levados a permanecer em empregos que já não nos despertam paixão ou que não nos levarão a lugar algum. As empresas fazem crer aos seus profissionais que vão cuidar da carreira deles. Quase nunca isso acontece. Salvo raras exceções, a maioria não deve esperar muito dos empregadores e deve gerenciar a evolução de suas carreiras. Além disso, na implantação de processos de reestruturação, sobretudo quando elas são originadas por fusão ou incorporação, é normal que a maioria dos envolvidos se sinta insegura e sob pressão. Toda mudança enfrenta resistências.
As pessoas rejeitam mudanças para evitar possíveis perdas, sobretudo as não materiais, como poder, reconhecimento, segurança, autoestima etc. A única forma de superar as resistências é buscar o máximo envolvimento das pessoas. Administrar erradamente as oposições, ansiedades e expectativas pode gerar perspectivas irreais e fazer com que as resistências e a falta de motivação se consolidem. Muitas empresas optam então por programas de aconselhamento ou de coaching. Esses programas, naturalmente, levam o participante a refletir sobre forças e fragilidades, preferências e competências e a definir sonhos e desejos. É usual chegar a questionamentos e incertezas.
O programa deve terminar com um plano de ação, um projeto de carreira. Como fazer isso? Os “quarenta” é o período dos grandes dilemas. Mudar ou não de função, cargo, empresa? Tirar o pé ou pisar fundo? Vida dura na grande cidade ou tranquilidade no interior? E por que não atuar por conta própria?
Nessa idade ainda se pode pegar uma bifurcação, mas ficará difícil depois. Alguns aproveitam e relançam a carreira. Outros percebem que não chegarão mais ao cargo dos sonhos. Aos “quarenta”, é preciso distanciar-se do dia a dia da empresa e descobrir as motivações mais profundas, refletir sobre o que fazer para tentar reencontrar o prazer que se tinha aos “trinta”. Portanto, gaste tempo para fazer um balanço de suas competências e realizações. Defina seu projeto. Bem estabelecido, ele deve ser discutido e aprovado pelo seu círculo familiar e pelas pessoas que lhe conhecem bem e nas quais você confia.
Aí sim, e só então, você poderá abrir o jogo com seus chefes e parceiros. Falar antes, sem ideias estruturadas, é inútil. Reclamar sem propor uma alternativa será visto como imaturidade. Não ajuda, e talvez até atrapalhe. Quando for comunicar seus sentimentos, conte também suas decisões, escolhas, propostas e sugestões. Peça novas oportunidades e desafios e, se nada acontecer, aí chegou a hora de buscar alternativas externas. Depois dos “quarenta” os degraus podem parecer altos e o fôlego curto. Para ultrapassar este momento decisivo as competências técnicas já não são mais suficientes. Agora é preciso saber controlar emoções, compreender os outros, convencer, passar mensagens e antecipar. Claro, é também preciso ter uma rede de contatos.
Finalmente, não esqueça que os “quarenta” são definitivamente o momento em que se tem mais valor para o mercado de trabalho; é o momento da fusão do conhecimento com a experiência, mas ainda com muita ambição.
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