Por: Marco Tulio Zanini
Trabalho há seis anos em uma empresa conhecida em seu setor e não vejo muitas perspectivas de crescimento internamente.
Recentemente, recebi um convite de uma empresa de tecnologia que vem crescendo rapidamente para atuar em um projeto novo e interessante. Fiquei animado com o salário e com as possibilidades profissionais, mas logo descobri que o escolhido para comandar a área – e a quem eu seria subordinado – é um profissional de caráter bastante duvidoso. Amigos próximos que já trabalharam diretamente com essa pessoa em outras companhias foram unânimes em classificá-lo com os piores adjetivos, inclusive contando histórias que presenciaram. Devo arriscar mesmo assim ou esperar por uma oportunidade melhor?
Gerente de projetos, 32 anos
Resposta:
Em tempos de crise as escolhas são menores, mas é preciso sabedoria na hora de decidir. Aquele que foca no curto prazo muitas vezes mata a galinha de ovos de ouro para resolver o cardápio do almoço.
Observe o que está acontecendo a sua volta: o foco no interesse financeiro no curto prazo afundou a carreira de executivos e políticos. Se eles tivessem priorizado retornos éticos no médio e no longo prazos, estariam agora na posição de líderes com legitimidade e autoridade para construir um projeto maior e melhor de país e de empresa.
Não falo só da corrupção, mas da dificuldade que muitos dos chamados líderes brasileiros possuem para, de fato, sacrificar os ganhos fáceis em nome do que é certo.
Em contextos de crise econômica, o medo toma conta das decisões e as oportunidades para executivos com perfil de psicopatia aumentaram muito. As oportunidades para quem quer cooperar para resultados sustentáveis no médio e no longo prazo, em troca, diminuem.
Santo Agostinho, em “A Cidade de Deus”, tenta responder a pergunta: Por que os justos sofrem tanto quanto os ímpios? A resposta é: Se Deus nos dá liberdade de escolha, não pode intervir na liberdade dos ímpios de fazerem as coisas erradas. Para isso, conta com os justos. Se os justos não oferecem resistência por comodismo, por interesse, para não se indispor com o outro, ou para se beneficiar dos possíveis resultados da maldade alheia, Deus está sozinho.
Chegamos aonde chegamos porque as pessoas esquecem que as escolhas econômicas são, também, escolhas morais. Ao escolher ganhar muito no curto prazo, podemos estar nos alistando em um navio pirata, com um bando de mercenários ganhando com saques. Se você decidir se alistar em um navio pirata, saiba que lá vale dedo no olho e facada nas costas.
Uma empresa que seleciona alguém mau caráter para um cargo de gestão tem uma cultura organizacional desse tipo ou não sabe selecionar. Ambos são sinais perigosos se você quer trabalhar em paz e focado em resultados sustentáveis na sua carreira.
Nessa empresa, abre-se mão da confiança e da confiabilidade e foca-se jogos ganha-perde. São estratégias perdedoras no longo prazo, pois a falta de confiança interna impede o aprimoramento da proposta de valor, que depende de cooperação e da qualidade dos vínculos.
Em uma empresa de tecnologia, que teoricamente precisa de inovação, os desafios de coordenação interna devem ser enormes. Essa escolha, portanto, mais do que simplesmente levar em conta salário e oportunidade, é uma escolha sobre quem você é, que tipo de profissional deseja ser e como pensa o seu futuro e o seu legado.
Não se esqueça, também, que Santo Agostinho afirma que, nas relações humanas, não há sofrimento maior do que estar submetido à crueldade, à lascívia ou à luxúria alheia. Nenhum salário valerá a pena sob a tutela de um tirano. Livre-se dessa possibilidade e ajude a empresa que está te chamando a entender que bons profissionais não são apenas escolhidos, mas também escolhem os chefes com quem querem trabalhar.
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