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Como não se tornar um dinossauro de escritório

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Exame
27 de janeiro de 2016 - 18:00

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Por: Mariana Amaro

Boa parte de seus bens ficará obsoleta até o fim deste ano. Pense em sua TV, em seu computador ou em seu celular. No momento em que você está lendo esta reportagem, algum lançamento está transformando seu aparelhinho recém-comprado em peça de museu.

Trata-se de uma estratégia deliberada da indústria chamada obsolescência programada. Faz parte do plano de negócios de fabricantes de telefones, de roupas ou de carros prever o envelhecimento de seus próprios produtos para que consumidores sintam a necessidade de comprar novos modelos e assim manterem-se atualizados.

Pode parecer maléfico, mas, segundo o guru do marketing Philip Kotler, é competição pura: num mercado livre, sempre aparece alguém capaz de fazer um produto ou serviço melhor. Nenhuma consultoria inventou ainda a obsolescência programada de pessoas, mas a sensação de estar defasado na carreira incomoda muitos profissionais.

“O mercado está mais exigente, e mesmo as pessoas competentes estão sendo demitidas”, diz Yvete Piha Lehman, professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo. “Isso tudo gera uma ansiedade no profissional e uma pressão para que ele se mantenha inteirado o tempo todo.”

O que outrora conferia status de sabedoria hoje é visto como indício de caducidade. “Até dez anos atrás, passar dos 40 significava ganhar respeito e reconhecimento dos colegas”, diz Yvete. “Hoje, não há mais garantias.”

Embora exista uma valorização recente de profissionais veteranos em diversas áreas onde há escassez de mão de obra qualificada, as empresas contratam e promovem rapidamente jovens para substituir os mais velhos com o objetivo de reduzir despesas. Segundo dados do Dieese, as pessoas com até 29 anos já ocupam 33% dos postos de trabalho formais.

Segundo Tom Chatfield, autor do livro Como Viver na Era Digital, trata-se de um engano traçar uma linha entre as gerações. “Existem jovens com pouco conhecimento digital e pessoas mais velhas que dominam esse universo”, afirma.

No entanto, o autor britânico diz que “a pressão que os trabalhadores sofrem é para que eles mesmos cuidem da própria carreira e do desenvolvimento de suas habilidades”.

Tradicional ou conservador são palavras que o publicitário Marcelo Ponzoni, de 47 anos, sócio da agência Rae, MP, de São Paulo, não usa nunca para se definir. Marcelo lembra quando ouviu, pela primeira vez, a palavra Twitter, cerca de sete anos atrás. Achou o site estranho, o conceito esquisito, mas tratou de fazer um perfil na rede social.

“O que quer que fosse aquilo, eu queria participar”, diz. Hoje, de posse de dois iPads (um fica em casa e o outro no trabalho), um iPhone e outros produtos da Apple, Marcelo combate a ansiedade de ficar desatualizado fazendo perguntas. “Pergunto tudo, o tempo todo, para todo mundo”, diz.

O mais aporrinhado com as questões de Marcelo é seu filho de 16 anos, que diariamente é questionado sobre as novidades que estão em seu radar. Os funcionários da agência também não escapam. “Aproveito que sou chefe e todo mundo tem de me responder”, afirma Marcelo, brincando.

“O maior problema da minha geração é que as pessoas acham que precisam mostrar que sabem de tudo”, diz Marcelo. “Elas têm medo de perguntar e mostrar que são ignorantes em alguns assuntos.”

Mania de sabe tudo

A mais importante medida para um veterano não se transformar num dinossauro de escritório é manter a conexão com os mais jovens.

“Quem ficou para trás não percebe sua situação. O grupo em que essa pessoa está inserida é que percebe e emite sinais. É preciso ficar atento a eles”, diz Bárbara Olivier, gerente da consultoria em educação LAB SSJ, de São Paulo.

Para ter certeza de que nunca ficará para trás, Lucyval de Souza Torres, de 46 anos, coordenador de retenção de tributos fiscais da operadora Claro, de São Paulo, busca se antecipar às tendências. Uma de suas estratégias é trocar de celular três vezes ao ano.

“Gosto de ter o que é mais novo no mercado”, diz Lucyval. Essa necessidade constante de atualização já quase rendeu problemas conjugais.

Durante as últimas férias em família, na praia de Pipa, no Rio Grande do Norte, o sinal fraco de internet no quarto obrigava Lucyval a escapulir, enquanto a mulher tomava banho, para ler os e-mails, ver as postagens dos amigos no Facebook e Instagram e checar as mensagens do aplicativo Whastapp perto da recepção, onde o telefone funcionava melhor.

Segundo Lucyval, esse foi o jeito que ele encontrou para se manter em dia com os jovens.

Como ocorre com produtos que ficam velhos logo após o lançamento, alguns profissionais começam a se preocupar em evitar a obsolescência antes mesmo de amadurecer. O estudante carioca de ciência da computação Leonardo Miguel, de 23 anos, já sofre dessa ansiedade.

“Fico na sala de aula pensando que o que estou aprendendo ali já não servirá para nada”, afirma Leonardo. Para Rosa Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC de São Paulo, a paranoia com atualização faz parte de um processo de adaptação ao mundo atual.

“Nos próximos anos, as pessoas conseguirão encontrar um ponto de equilíbrio”, diz Rosa. O melhor a fazer é usar o medo de ficar para trás a seu favor. O filósofo canadense Marshall McLuhan (1911-1980) costumava dizer que obsolescência não era o fim, era apenas o início de alguma coisa. Se seu conhecimento está ficando velho, aprenda algo novo.

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