Por: Emma Jacobs
São muitas as histórias de pessoas que se sentem presas a uma camisa de força corporativa, sonhando com uma vida cheia de significado e criatividade. No entanto, para alguns isso não funciona, porque uma vez estabelecidos no emprego dos sonhos, eles descobrem que a rotina corporativa trabalhava a seu favor. Como bumerangues, os “foragidos” logo retornam ao estilo de vida anterior.
Quando Nick Davies conseguiu um emprego na consultoria Accenture, após terminar a universidade, ele achou que a experiência em uma grande empresa demonstraria que ele era um “indivíduo de credibilidade”. Depois de um tempo, no entanto, ele acabou achando a grande estrutura corporativa sufocante e frustrante.
Davies mudou para uma consultoria menor, mas logo ficou desiludido com o setor. “Me perguntava se ficaria apenas produzindo relatórios para executivos-chefes que não tinham confiança para tomar decisões sozinhos”, afirma.
Seu descontentamento foi reforçado pelo fim do relacionamento com a namorada. Assim, em 2009, ele decidiu dar uma pausa na carreira e passar um tempo esquiando na Suíça. Sem nenhum plano claro, ele começou a trabalhar como instrutor de esqui. Uma conversa ao acaso em um bar o levou a comprar uma escola de esqui que passava por dificuldades financeiras. “Pensei que se pudesse transformá-la em um bom negócio eu teria uma história positiva para contar a um futuro empregador”, reflete Davies, 36 anos.
Mesmo assim, apesar de ter dobrado os lucros operacionais da escola em dois anos, ele sentia falta do antigo mundo corporativo. “Eu tinha outros objetivos na vida, como formar uma família e comprar uma casa própria. Eu não tinha mais 22 anos e precisava pensar no futuro. Não podia ficar morando em um quarto com cama de solteiro pelo resto da vida. Aquilo não me faria feliz.”
Além do mais, Davies sentia que o mercado de esqui na Europa estava saturado e era cada vez mais difícil manter a lucratividade. “Se eu fosse mesmo aventureiro, teria aberto uma companhia de esqui na Mongólia, mas não queria isso”. Ele voltou então para Londres e para a carreira corporativa. Acabou conseguindo emprego em uma companhia de marketing.
Davies vê como positivo o tempo em que trocou o terno pelo casaco de neve e o óculos de proteção. “Vivi grandes aventuras e enriqueci muito a minha vida. Não me arrependo.”
O executivo também acredita que a experiência lhe deu mais autoconfiança: se acontecer alguma coisa com seu emprego, ele tem certeza que conseguirá algo em outro lugar. Ele não vê sua fuga do mundo corporativo para as montanhas cobertas de neve como um fracasso.
Michael Bracey, por sua vez, sentiu-se embaraçado ao retornar para a City de Londres após passar uma temporada como fotojornalista. “Fiquei um pouco envergonhado porque não deu tão certo. Alguém pode pensar que fracassei.” Ele passou da faixa dos 20 anos trabalhando no setor bancário, mas sempre quis fazer “algo mais significativo do que ficar atrás de uma mesa por 30 anos e receber um aperto de mão no fim”. Ele acha que essa ideia e a vontade de “criar um legado” foi em parte alimentada pela morte prematura da irmã aos 16 anos de idade.
Infeliz por estar em um setor sob pressão após a crise financeira, ele decidiu fazer uma pausa e se tornou fotojornalista freelancer. Sua renda era bem menor que a anterior. Portanto, quando seu sócio o deixou, ele teve dificuldades para pagar a hipoteca da casa e, em pânico, voltou para a City de Londres para trabalhar no Royal Bank of Scotland (RBS).
Ele reflete sobre sua ingenuidade no passado: “Eu provavelmente não fui realista em minhas expectativas e achei que iria correr o mundo tirando fotografias. Mas quando você está no negócio, vê que não tem contatos na imprensa. É um mundo duro e competitivo”. Mesmo assim, ele ainda acredita que foi a melhor coisa que já fez. Hoje, Bracey tem uma empresa que faz fotografias em casamentos nos fins de semana e está montando um projeto internacional de fotojornalismo em seus momentos de folga.
Além disso, ele acredita que o tempo que passou fora da City o deixou inquieto e com pensamentos do tipo: “a grama do vizinho está ficando bem mais verde”. “Agora eu posso me concentrar na carreira bancária”, diz o executivo.
Rosie, que tem 25 anos mas prefere não revelar o sobrenome, gosta mais de seu emprego em um banco de investimentos hoje, depois de ter feito uma pausa e trabalhado em um grupo de ensino sem fins lucrativos. “Senti falta de uma grande rede e do suporte que você tem em um ambiente multinacional”, diz ela. “Eu adoro a agitação e o estímulo. Todos são muito competentes e motivados no setor bancário.”
Mesmo assim, a pausa lhe permitiu pensar nos valores que ela considerava importantes. Posteriormente, criou a livingrosy.com, uma empresa da área de bem-estar, que ela mantem operando juntamente com o emprego no banco. “Hoje eu gosto do setor bancário e acredito que existem maneiras de se ter uma atividade filantrópica ou criativa se o seu trabalho regular não permite isso.”
Jane Clarke, diretora da empresa de psicologia empresarial Nicholson McBride, alerta para os “falsos dilemas”. Eles ocorrem quando alguém imagina que entre suas opções de carreira estão trabalhos cheios de fantasia e de sensibilidade. “As pessoas deveriam tentar integrar as duas coisas”. Ela também aconselha um duro esforço de autoanálise: “Às vezes, as pessoas deixam um emprego corporativo achando que o problema está na situação, e não nelas. O estresse poderá muito bem acompanhá-las na nova empreitada.”
A diretora lembra de um banqueiro extenuado que sonhava em virar um rato de praia. Após um exame de consciência, ele percebeu que se trocasse o banco pela praia continuaria ocupado e estressado, só que bem mais bronzeado.
Entretanto, pode ser difícil voltar ao velho setor quando você decide por isso. Recrutadores disseram a Nick Davies que não podiam fazer nada com seu currículo. “Sei que cresci como desenvolvedor de negócios, mas eu precisava convencer os outros disso. É muito difícil fazer isso se você não consegue marcar uma reunião com as pessoas.” Ele acabou conseguindo o novo emprego por intermédio de um amigo e recomenda a todos que não fechem nenhuma porta.
Michael Bracey concorda. Sua volta à City de Londres dependeu de muitos contatos pessoais com velhos amigos e também da atualização de suas habilidades. Ele também acha que é possível transformar os buracos no currículo em coisas positivas. “Mont ar uma empresa do zero pode mostrar que tenho capacidade de adaptação”.
Clarke diz que isso é mais do que simplesmente vender-se para um possível empregador, mas também para si próprio. “As pessoas bem sucedidas tratam todas as experiências como positivas. Elas pensam em como posso tirar proveito da situação.”
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