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A nova geração quer sucesso com equilíbrio

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
08 de junho de 2015 - 18:00

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Por: Letícia Arcoverde

Além de exigir transformações do mundo dos negócios para se adaptar a um novo perfil de profissional, a predominância da geração Y no mercado de trabalho significará a maior participação até hoje de mulheres com formação educacional avançada no mercado. Como as empresas, ainda comandadas predominantemente por homens, irão receber, desenvolver e dar oportunidade de crescimento para esse contingente de jovens líderes?

A discussão será um dos temas abordados no Women’s Forum For the Economy and Society, que começa hoje em São Paulo. O evento global, que promove sua terceira edição brasileira, estima reunir na capital paulista até amanhã 550 participantes de 23 países. São mulheres e homens de destaque no mundo dos negócios, governo e terceiro setor, que se encontram para debater a presença da mulher no mercado de trabalho e a integração da visão feminina ao desenvolvimento da economia global.

A inclusão da nova geração de jovens líderes é um dos pontos fortes do Women’s Forum, fundado em 2005 em Paris pelo grupo de publicidade Publicis, que seleciona a cada ano cerca de 20 mulheres de menos de 40 anos que se destacam profissionalmente e apresentam potencial para se tornarem influentes na economia e na sociedade. Neste ano, seis brasileiras farão parte da rede, chamada “Rising Women”, que já conta com mais de 120 mulheres de todos os continentes.

Uma das selecionadas deste ano, a vice-presidente de assuntos corporativos da Walmart Brasil, Daniela de Fiori, destaca a importância da iniciativa para que as novas gerações em posições de destaque sirvam como modelos para outras. A própria Daniela diz que já trocou experiências com diversas colegas que, como ela, foram “a primeira mulher” a alcançar marcos significativos na vida profissional. “Muitas mulheres que assumem posições de liderança em empresas no Brasil e no mundo não têm durante a carreira a oportunidade de ter um par ou um líder para compartilhar desafios de igual para igual”, comenta.

Daniela diz ainda que é essencial para mulheres ter mentores e “padrinhos” que apoiem seu crescimento profissional na organização. “As empresas precisam dar espaço, criar condições e tratar com igualdade para ter acesso a todo o talento disponível. Muitas já percebem o diferencial que é ter um grupo diverso”, diz.

Segundo um relatório da consultoria e auditoria PwC, que será apresentado durante o fórum, a estimativa é que, até 2020, 25% da força de trabalho global seja formada por mulheres da geração Y, nascidas entre 1980 e 1995. E elas chegam mais qualificadas do que nunca. “Essa é a geração de mulheres com maior escolaridade até hoje”, diz Ana Malvestio, sócia da PwC Brasil e líder de diversidade e inclusão. De acordo com a Unesco, elas já recebem mais diplomas universitários do que os colegas homens globalmente. No Brasil, segundo a OCDE, 55% das certificações em estudos de pós-graduação também são para elas.

O bom cenário educacional, contudo, ainda não se reflete na hierarquia das empresas. De acordo com a organização sem fins lucrativos Catalyst, apenas 4,8% das 1.000 maiores companhias americanas têm mulheres na presidência – número que tem se mantido estável nos últimos anos. Nos EUA elas também ocupam 16,9% das posições em conselhos de administração, enquanto no Brasil essa presença é menor ainda, de 7,7%.

Ao mesmo tempo, a PwC destaca em seu relatório que há nos últimos anos uma crescente preocupação dos CEOs com a escassez de talentos. Para Ana, o cenário reflete a necessidade de ampliar a discussão do espaço das mulheres nas empresas para todos os níveis, para que elas se sintam fortalecidas desde o início da carreira – algo para o qual as companhias ainda não estão preparadas. “Há muitos paradigmas que precisam ser quebrados para se entender que incluir esse assunto na estratégia da empresa é uma questão de sustentabilidade do negócio”, diz Ana.

Para a consultora, a mudança não é simples, porque exige transformações culturais e é reflexo de transformações na sociedade como um todo. “Mas as empresas têm a responsabilidade de patrocinar esse processo, demonstrando a importância dele por meio de ações concretas e constantes, como a flexibilização do horário de trabalho”, afirma.

A importância dada ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional é um ponto-chave para as novas gerações e ainda mais crucial para as mulheres. Segundo os dados da consultoria, 97% das profissionais da geração Y consideram esse aspecto importante, junto com 93% dos homens. No caso delas, 20% estão dispostas a abrir mão de uma parte da remuneração para poder trabalhar menos horas (veja dados acima). Isso reflete uma diferença em relação às mulheres de gerações como a X e a “baby boomer”. “As jovens viram que as gerações anteriores ascenderam pagando um preço muito alto. Elas querem ascensão, mas com equilíbrio”, diz Ana.

Na busca pelo sucesso, a nova geração também é mais confiante do que suas predecessoras – ainda que elas não atinjam o mesmo nível de segurança de seus colegas homens – e sabe os caminhos para chegar ao topo. Segundo dados da PwC, 51% das profissionais sentem que são capazes de subir até os cargos mais altos de seu atual empregador. Entre os homens, 61% acham o mesmo.

Isso se reflete na valorização que essas profissionais dão ao desenvolvimento profissional. A oportunidade de avanço na carreira é o aspecto mais atrativo na escolha de uma empresa para 53% delas. “O treinamento e o desenvolvimento também são itens bastante valorizados”, diz Ana. O resultado também é uma cultura que valoriza o feedback constante – mais da metade (51%) acha que o retorno sobre o trabalho deve ser dado com frequência e a grande maioria prefere ter essas conversas pessoalmente – e a vontade de atuar no exterior, um dos caminhos mais certos de aceleração na carreira corporativa. “Elas têm consciência de que precisam estar preparadas para lidar com os desafios do mundo global”, diz Ana. No entanto, enquanto a maioria das jovens visa essa experiência no futuro, atualmente apenas 20% dos profissionais expatriados por empresas são mulheres. “É uma demanda represada absurda”, diz a consultora.

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