Por: Lucy Kellaway
Recentemente visitei uma produtora de mídia na zona leste de Londres. Ela estava cheia de pessoas descoladas sentadas em torno de grandes mesas sob um teto de concreto.
“Há um burburinho incrível aqui”, disse o homem que me mostrou o lugar. Concordei obsequiosamente, embora não tivesse percebido nada do tipo. Naquele templo de gente descolada, ninguém falava. Todos trabalhavam em silêncio.
Desde então, toda vez que visito um escritório fico de ouvidos atentos e toda vez tem sido a mesma coisa – nenhum som, salvo o crepitar suave dos teclados de computador. Os trabalhadores em escritórios parecem não conversar mais.
Então decidi dar uma volta pela redação do “Financial Times”. Quase todo mundo olhava para uma tela, todos mudos. Na redação inteira vi apenas dois grupos de pessoas conversando e ambos discutiam coisas do trabalho.
Isso não era assim. Há duas décadas, todo dia de trabalho começava com um bate-papo compulsório de 15 minutos sobre o que havia passado na televisão na noite anterior. Todos aqueles que haviam estado de férias, tido um filho ou feito qualquer outra coisa digna de nota, traziam fotografias e as mostravam para todos. Podíamos conversar sobre as grandes questões do dia e sobre o que tínhamos almoçado. Acima de tudo, fofocávamos uns sobre os outros. Em qualquer momento de pausa, era perfeitamente normal as pessoas saírem em busca de alguém na redação para conversar.
Nesse dia, debrucei-me sobre a mesa de um colega, como fazia antigamente. “Por que as pessoas não conversam mais nos escritórios?”, perguntei a ele. Porque elas trabalham demais, respondeu ele, olhando para o seu relógio. Isso é o que todo mundo vai dizer a você – mas acontece que não é verdade.
Há poucas evidências de que as pessoas estão trabalhando demais a ponto de não conseguirem conversar umas com as outras. Segundo o Bureau of Labor Statistics, os trabalhadores de escritórios nos Estados Unidos passam menos de três horas por dia ocupados com o trabalho produtivo. O resto do tempo, eles passam devorando sites de notícias da internet e procurando, on-line, por outro emprego. Das cinco horas gastas todos os dias, apenas 15% são dedicadas a conversas.
O que nos impede de conversar não é o fato de sermos mais ocupados, e sim porque queremos parecer que somos. Andar por aí com ar de ocupado é uma coisa que dá status. Inclinar-se na cadeira e entreter um colega com uma história engraçada não só não dá status algum, como também pode afetar a carreira.
Os prédios de escritório também estão fazendo sua parte para acabar com a conversa no trabalho. Os melhores papos costumavam ocorrer entre duas pessoas atrás de uma porta fechada. O escritório aberto e sem salas não favorece a conversa, e quando combinado com as modernas estações de trabalho, é fatal. Seu vizinho não só será alguém que você mal conhece, como provavelmente também estará usando fones de ouvido. Mesmo que você tentasse começar uma conversa, ele não ouviria você.
A maioria dos escritórios possui espaços comuns onde as conversas deveriam acontecer. Mas até mesmo esses espaços não favorecem uma deliciosa fofoca porque geralmente eles estão cheios de pessoas com crachás pendurados no pescoço e mantendo conversas sérias.
Nesses ambientes inóspitos, aqueles que gostam de um bom papo estão sendo expulsos. Antes, cada departamento tinha umas duas personalidades que faziam pouca coisa a mais que isso, mas a cultura corporativa prevalecente exige que todos se comportem da mesma maneira insossa que os outros. Não há mais espaço para quem conversa.
E não é só o fato de a conversa estar sendo desencorajada. Também há menos o que conversar. Ninguém mais vê os mesmos programas de TV e se as pessoas querem que as outras saibam o que elas fizeram nas férias, elas colocam tudo no Facebook.
O maior responsável pelo fim da conversa é o mais óbvio: a internet. Ela nos permite enrolar no trabalho, ao mesmo tempo em que faz parecer que estamos muito ocupados.
E pior: ela tornou a conversa obsoleta. O e-mail nos ensinou há muito tempo que é mais fácil digitar uma mensagem para alguém sentado a alguns metros, do que nos levantar da cadeira e ir conversar com essa pessoa.
Como a conversa era a coisa mais interessante do convívio no escritório, isso é mais do que preocupante: é uma tragédia.
Para ter certeza, liguei para a pessoa que me mostrou aquela produtora de mídia e perguntei se alguém conversava lá. É claro que sim, respondeu ele. As pessoas conversam o tempo todo. Quando eu disse que não ouvi ninguém conversando quanto estive lá, ele riu e então disse algumas das palavras mais tristes que já ouvi: “Fazemos isso no Slack”.
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