Está difícil entender o comportamento de chefes e colegas gringos? Veja dicas simples e eficientes para se sentir mais à vontade numa empresa estrangeira
Por: Claudia Gasparini
Se muitas vezes já é difícil para um executivo brasileiro se adaptar à cultura de uma empresa criada e gerida por seus conterrâneos, que dirá se alinhar aos valores e códigos de comportamento de uma companhia estrangeira.
Isso porque as diferenças entre as nacionalidades — sentidas até numa simples viagem a lazer para outro país — tornam-se especialmente delicadas quando o assunto é trabalho, diz Josué Bressane, sócio-diretor da consultoria Falconi Gente.
As peculiaridades aparecem com clareza no estilo de gestão de cada companhia. “De forma geral, multinacionais asiáticas, como as coreanas, costumam ser muito rígidas e exigir dedicação sem limites do funcionário”, exemplifica ele. “As norte-americanas, por outro lado, podem ser bastante centralizadoras e dar pouca autonomia às subsidiárias, enquanto as europeias tomam decisões mais lentamente, após longas discussões em vários comitês”.
O choque cultural também se manifesta nos detalhes do dia a dia. Da linguagem usada em reuniões à etiqueta nos almoços de negócios, as diferenças podem causar mal-entendidos e até conflitos. Se o executivo brasileiro não busca um alinhamento mínimo à cultura vigente, suas chances de crescimento e até de sobrevivência na empresa podem ser prejudicadas.
Mas como realmente compreender os códigos de comportamento da companhia estrangeira e, o mais importante, incorporá-los à sua rotina de trabalho?
O primeiro passo, diz Bressane, é observar a face que a empresa mostra para o mundo externo. É o que se faz no diagnóstico da cultura de qualquer organização, até se for brasileira: ler a sua declaração de valores, missão e visão. “Embora no passado isso fosse mera formalidade, hoje é um assunto levado a sério pelas empresas e diz muito sobre seu posicionamento”, explica.
Ainda para essa avaliação mais superficial, vale analisar o portfólio de produtos ou serviços da companhia, bem como suas aparições na mídia e nas redes sociais. Observe como ela se dirige à imprensa e qual é seu “tom de voz” nas interações com o público em geral na internet.
Em seguida, é preciso partir para um estudo mais sofisticado da cultura organizacional. Se você acabou de ser contratado, use os 100 primeiros dias para falar pouco e ouvir muito, orienta Bressane. Não deixe escapar nada: da forma como os estrangeiros se dirigem aos superiores à sua postura corporal em almoços, cafés e momentos de descontração.
Independentemente do seu tempo de casa, é natural ter dificuldades para se adaptar à cultura alheia. Confira as seguintes dicas para se sentir mais à vontade:
1. Estude a língua dos fundadores da empresa, seja ela qual for
Segundo Leonardo Freitas, sócio-diretor da Hayman-Woodward, empresa especializada na entrada e saída de pessoas físicas e jurídicas do Brasil, faz toda a diferença estudar a língua dos fundadores — mesmo que seja tão incomum quanto o polonês ou o armênio, ou que o inglês seja usado como “idioma universal” para a comunicação interna.
Falar pelo menos o básico da língua abrirá (muitas) portas: será possível travar diálogos mais amigáveis com eles, além de fazê-los se sentir à vontade na sua presença. Além disso, o idioma de um povo é uma janela privilegiada para a sua cultura. Expressões coloquiais, ditados e até características da gramática podem trazer percepções surpreendentes sobre a forma de pensar do estrangeiro.
2. Mergulhe na cultura pop do país (dica: mire a TV)
Cinema, literatura, música e artes visuais dizem muito sobre o espírito de uma nação. Mas há uma fonte de que é obrigatório beber se você realmente quiser entender o comportamento das pessoas no cotidiano: a cultura pop.
Dos noticiários aos programas de auditório, a televisão é uma excelente fonte para observações nesse sentido. “É uma ótima forma de descobrir o que eles acham engraçado, triste, absurdo, bonito”, diz Bressane. Também vale prestar atenção aos comerciais de TV para conhecer como as empresas daquele país se dirigem aos seus consumidores e clientes — um tipo de insight que contribuirá diretamente para o seu trabalho na multinacional.
3. Descubra quem são os ídolos deles
Outra dica interessante é investigar quais são as celebridades mais cultuadas no país de origem da empresa. Quem são as personalidades mais populares nos esportes, na política e no entretenimento? Quais são as suas características mais marcantes? Por que são tão adoradas?
As respostas a essas questões podem dizer muito sobre os valores e as crenças daquele país. Na Coreia do Sul, por exemplo, os melhores professores ganham salários milionários e são vistos como “popstars”, o que reflete diretamente a importância da educação para os coreanos.
4. Se possível, visite o país em questão
Você trabalha numa empresa estrangeira mas fica sediado no Brasil? Se puder, faça pelo menos uma viagem para a terra natal dos fundadores. De acordo com Bressane, a experiência in loco permite uma imersão privilegiada na cultura do país. Aproveite a visita para conhecer a matriz, e assim sentir o clima dos escritórios.
Se a viagem não for possível imediatamente, até um passeio virtual em ferramentas como o Google Street View tem o seu valor, diz Freitas. “Preste atenção às ruas, aos monumentos e aos detalhes da cidade”, sugere ele. A arquitetura e a organização do espaço urbano dão importantes pistas sobre a mentalidade dos locais.
5. Seja humilde
Não há nada de surpreendente ou condenável em não conhecer de antemão os códigos de comportamento de um outro país. Quando não compreender alguma coisa ou não souber como agir numa determinada situação, simplesmente pergunte a um colega ou gestor, orienta Freitas.
A humildade também é fundamental para reconhecer as diferenças culturais como algo rico e fascinante — e não como motivo para se sentir superior ou inferior perante o estrangeiro. “Esteja pronto para aceitar que uma atitude que parece natural para você talvez seja muito ofensiva para o outro, e vice-e-versa”, diz Bressane. “Esqueça os estereótipos sobre cada nacionalidade e esteja aberto para conhecer e respeitar um outro modo de ser”.
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