Por: Vinícius Pinheiro

Especializado no crédito a pequenas e médias empresas, um dos segmentos que mais sofreu com a crise econômica, o Banco Daycoval tinha tudo para ter um ano difícil em 2016. Mas a queda na inadimplência e a melhora nas margens em meio à retração da oferta de crédito permitiram à instituição ter o melhor resultado da história.

O banco da família Dayan teve lucro recorrente de R$ 422,8 milhões, alta de 17,3% em relação a 2015. O retorno sobre o patrimônio líquido foi de 15,4% no ano passado, acima dos 13,5% de 2015.

Enquanto os grandes bancos ainda sofrem com os altos índices de inadimplência nos créditos concedidos a empresas de menor porte, o Daycoval começou a sentir uma melhora nessa carteira a partir do segundo semestre do ano passado. Além da menor inadimplência e garantias melhores nas novas “safras” de empréstimos, a concorrência menor permitiu ao banco cobrar mais na hora de conceder crédito, segundo Ricardo Gelbaum, diretor de relações com investidores do Daycoval.

O executivo diz que o banco tem um modelo diferente das instituições de maior porte. Os financiamentos a empresas são concentrados no curto prazo, com metade da carteira vencendo em 90 dias. “Olhamos operação por operação e não refinanciamos. Quando um crédito dá problema, provisionamos e executamos as garantias”, afirma. Com essas características, o banco sentiu antes dos concorrentes os efeitos da crise, segundo Gelbaum.

O índice de atrasos acima de 90 dias na carteira do banco encerrou o ano em 0,7%, queda de 1 ponto percentual no trimestre e também abaixo do patamar de 0,9% do fim de 2015. A chamada inadimplência antecedente, de atrasos a partir de 14 dias, também registrou queda expressiva no trimestre, de 2,7% para 1,6%.

A carteira de crédito do Daycoval, incluindo avais e fianças, encerrou o ano em R$ 14,386 bilhões, alta de 7,1% no trimestre e de 2,2% no ano. A aquisição de parte da carteira de pequenas e médias empresas do Citibank, fechada em outubro passado, contribuiu para o aumento.

Com a melhora na inadimplência, as despesas de provisão para perdas com crédito recuaram 4,8% no ano, para R$ 622,4 milhões. Apesar da redução, a chamada PDD ainda se mantém em níveis altos para os padrões do banco, segundo Gelbaum.

Na carteira de crédito consignado, o saldo de provisões subiu de 2,8% para 3,3% do total. Esse aumento é em parte explicado pelos empréstimos concedidos a servidores no Rio de Janeiro. “Da carteira de R$ 120 milhões no Estado, provisionamos a metade em razão dos atrasos”, diz.

Apesar da melhora no cenário no fim de 2016, o banco mantém a cautela. “Queremos estar prontos para qualquer cenário”, afirma Gelbaum. O Daycoval encerrou o ano com R$ 3,1 bilhões em caixa e com um índice de capital nível 1, considerado de melhor qualidade, de 15,9%, bem acima do mínimo exigido pela regulação.

A demanda dos clientes por crédito neste início de ano têm sido fraca. “O efeito da queda dos juros ainda não foi sentido, e variáveis como o desemprego ainda devem piorar antes de melhorar”, afirma. A sinalização para a economia, porém, é positiva para o ano, com a perspectiva de aprovação das reformas. “Achamos que a partir do segundo trimestre haverá uma tendência de crescimento, mas não sabemos de quanto será”, diz.

O diretor do Daycoval também espera uma pressão maior nas margens após os bons resultados nos últimos trimestres. “Já há sinais de que os concorrentes voltaram a olhar o crédito”, afirma.

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