A reinvenção do sistema financeiro do Brasil passa, diretamente, pelas tecnologias de vanguarda. E, não se trata apenas do uso efetivo do big data ou do cloud computing, e sim, da inteligência em torno dos dados em função dos clientes. “O que é novidade não é mais novidade. A tecnologia está aí, mas falta inteligência, análise e a decisão de tratar coisas diferentes de forma diferente”, analisa Juarez Zortea, presidente da Crivo TransUnion no Brasil.
“O sistema financeiro brasileiro é muito estável, funciona muito bem, porém tem dificuldades enormes. É um sistema extremamente automatizado, mas para um mercado diferente. Na verdade, o serviço financeiro existente hoje está desenhado para atender um determinado tipo de cliente que é apenas uma parte pequena do mercado”, comenta o executivo. Nos últimos anos, o País viu uma grande migração de pessoas para a classe C, possíveis clientes que, segundo Zortea, passaram por entre os dedos dos bancos pelo fato destas instituições não saberem lidar com informações “fora da caixa”. “É um mercado de pessoas que não têm histórico de crédito, mas de pessoas que consomem. São novos clientes com necessidades específicas, eles querem consumir, precisam consumir”, lembra Zortea.
São pessoas que usam celular, internet e, que, muitas vezes, recebem seus salários de maneira informal. E outro ponto importante, são usuários que não estão dispostos a pagar as atuais taxas cobradas por transações, uma vez que, para eles, tais pacotes de produtos não fazem sentido. A resposta para isso, diz Zortea, está na coleta de dados e de informações. Para o banco atual, lidar com tais dados é algo complicado, uma vez que eles não seguem nas vias “comuns”, aos quais os bancos de dados estão formatados. “A tecnologia utilizada hoje, que mantém a estrutura funcionando, também restringe a habilidade de fazer negócios e de criar produtos mais rapidamente para esse novo cliente exigente”, aponta o executivo.
“Os bancos de dados estão separados em função das aplicações, que são diferentes. Há muita dificuldade de cruzar essa informação, e mesmo quando de cruza, é preciso combinar com informações externas. Quem é que combina com os dados do Facebook?”, questiona Zortea de maneira desafiadora. Com a ligação entre dados de dentro e de fora da rede bancária é possível saber, por exemplo, se o cliente acabou de ter um filho, se ele procura uma viagem nova ou uma casa maior para morar. A partir de cada uma dessas informações, é possível se modular um tipo de produto. “O que precisa agora é uma mistura de tecnologia, com o uso de dados internos e externos, com a criação de modelos analíticos para entender o cliente na sua menor unidade, ou seja, entender quem ele é. Não pode ficar mais classificando em grupo. Os bancos precisam trabalhar em um modelo de flexibilizar a forma de entender as coisas”, diz Zortea.
No ramo de seguros, exemplifica Zortea, há maneiras tecnológicas de saber se a casa de um segurado fica perto de estações de polícia ou do corpo de bombeiros. “Se esta casa está perto dos bombeiros, o risco de incêndio é menor”, comenta Zortea. A precificação do seguro, portanto, seria menor e mais vantajosa para os dois lados.
Os exemplos são muitos e apontam todos para o mesmo lado: a especificação maior e mais refinada do segmento financeiro. Segundo o executivo, a tendência é que as instituições financeiras se aproximem do varejo “por necessidade”. Lojas de grandes marcas já perceberam que, em certas localidades, é preferível focar na venda específica de certos produtos. Para Zortea, é o que tende a acontecer com os bancos. “Vão começar a surgir canais de bancos, seguradoras e financeiras direcionados para públicos específicos. É uma tendência essa especialização”, diz Zortea.
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