Companhia usava limites de cartões de terceiros para emprestar a público sem acesso a crédito, depositando o valor da fatura antes do vencimento; nas últimas semanas, porém, pagamentos não têm sido feitos
A fintech VirtusPay deixou de honrar parte dos pagamentos devidos a donos de cartões de crédito, que emprestavam o limite de seus cartões para a empresa. Criada há cinco anos, a VirtusPay tem como principal negócio parcelar compras realizadas no comércio eletrônico em boletos para quem não tem crédito. Com os limites dos cartões cedidos, a empresa comprava cédulas de crédito bancário e usava esses recursos para financiar as compras.
Já a pessoa que emprestava o limite, recebia como benefício milhas, além de estreitar o relacionamento com o banco. Um dia antes da prestação do cartão vencer, a Virtus Pay depositava o dinheiro para que o portador quitasse a fatura do cartão. Há pelo menos uma semana, a empresa deixou de fazer parte desses pagamentos.
Um grupo de Telegram reúne mais de 700 pessoas em torno do tema. No Reclame Aqui, há centenas de reclamações. Uma planilha indica que o não pagamento supera os R$ 7 milhões. Poucos dias antes, a Virtus avisou aos cedentes que deixaria de prestar o serviço de aceleração de pontos – justamente o que incentivava as pessoas a emprestarem seus limites.
Ao Estadão/Broadcast, a VirtusPay disse, em nota, estar “comprometida para resolver todos os problemas em curso o mais breve possível”. Disse ainda que “alguns pagamentos já começaram a ser efetuados e a expectativa é finalizar o processo até o fim desta semana”.
Havia pessoas que emprestavam os limites de quatro cartões. Pelo menos um cliente emprestava o limite de 26 cartões. “Como a empresa tinha investidores de alto calibre e um histórico de anos de funcionamento, muitos clientes que emprestavam seus limites entenderam que a VirtusPay tinha capacidade de gestão”, diz Pedro Henrique Romanelli Sampaio, sócio Romanelli Sampaio Advocacia, que pretende representar os interessados, caso a empresa não acerte os pagamentos nos próximos dias.
Segundo fontes, a empresa tem fundos para ressarcir os pagamentos, está priorizando os de vencimento mais antigo e tem a expectativa de conseguir um novo aporte em meio a um momento difícil para o setor.
Investidores de peso
Entre os investidores da fintech há gestoras respeitadas. Comandada por Gustavo Câmara, um dos cofundadores da 99, recebeu aportes da Vox Capital em 2019. Em novembro, fez uma emissão de R$ 100 milhões em títulos de dívida (debêntures), comprados por grandes gestoras, como Verde Asset e Ibiúna, entre outras.
Em comunicado divulgado em seu site, a Vox Capital afirmou que deixou de ser sócia da Virtus em junho, mesmo com prejuízo. “A partir de meados de 2021, a VirtusPay deixou de fornecer documentos e informações suficientes para que tivéssemos uma visão clara do cumprimento de todas as regras de governança exigidas por nós”, escreveu a gestora. A Vox havia investido um total de R$ 6 milhões na Virtus. Em julho, deixou a sociedade por um valor simbólico: R$ 1.
‘Passo maior do que a perna’
Como dezenas de outras fintechs e startups, a VirtusPay foi prejudicada pela piora do cenário econômico mundial neste ano. A crise, porém, veio após a empresa ter crescido rapidamente, saindo de 10 milhões de operações, em 2020, para 75 milhões, em 2021. No entanto, como lida com um público com dificuldade de ter acesso a crédito, a companhia sofreu com as dificuldades financeiras desses consumidores.
“Deram um passo maior que a perna. Investiram bastante em crescimento, aquisição de clientes e marketing, e acho que esse investimento não veio acompanhado de um investimento em governança”, diz Gilberto Ribeiro, sócio e diretor de operações da Vox Capital, que perdeu R$ 6 milhões com a Virtus Pay. “Isso é normal em startups. Como se lida com essas dores de crescimento é que muda de startup para startup.” Para ele, não houve má fé por parte dos fundadores.
A PayU, empresa que presta serviços à Virtus e que também tem sido procurada pelos clientes, pronunciou-se por meio de nota. A empresa disse que sua relação com a fintech é estritamente comercial, e que oferece “uma forma segura e adequada para que os clientes da empresa realizem pagamentos e transações com cartões de crédito”.
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