Por: Felipe Marques, Fabiana Lopes e Daniela Machado | De São Paulo
Os resultados do Santander Brasil são mais um indício de que, apesar dos lucros crescentes, os bancos brasileiros vêm tendo cada vez mais dificuldade em manter sob controle a qualidade de seus ativos, diante da deterioração da atividade econômica. Os sinais desse maior desafio, já esperado por investidores e analistas, são semelhantes ao vistos nos números do Bradesco: o incremento nas provisões para devedores duvidosos e uma inadimplência mais evidente nas carteiras de pessoas físicas. O banco espanhol também vendeu um portfólio de crédito em atraso, o que ajudou a aliviar a pressão sobre o seu índice de calotes.
Se a piora da qualidade da carteira preocupa, o banco espanhol se beneficiou dos juros mais altos, que contribuíram para o incremento das margens, e da desvalorização do real, que trouxe crescimento mais robusto para portfólio de crédito como um todo.
Com isso, o lucro líquido contábil da filial brasileira do Santander atingiu R$ 1,266 bilhão, acima dos R$ 537 milhões registrados no mesmo período do ano passado. O lucro gerencial, que exclui toda a despesa de amortização de ágio, entre outros ajustes, aumentou 16,7% e foi de R$ 1,708 bilhão.
A carteira de crédito alcançou R$ 262 bilhões no fim do terceiro trimestre, com crescimento de 11,7% em 12 meses e de 3% na comparação trimestral. Se a variação cambial fosse desconsiderada, no entanto, o saldo teria apresentado aumento anual mais contido, de 6,7%, e uma redução de 0,1% no trimestre.
O índice de inadimplência foi de 3,2%, a mesma taxa observada no segundo trimestre. No portfólio de pessoa física, no entanto, o indicador apresentou leve piora, de 0,2 ponto percentual, de 4,4% para 4,6% na comparação trimestral.
“Estamos apresentando estabilidade da inadimplência neste trimestre. Mas, obviamente, na medida em que o ambiente econômico não melhore, nossa operação reflete a atividade econômica das famílias e das empresas”, disse o presidente do Santander, Jesús Zabalza, em teleconferência com jornalistas. Segundo o executivo, porém, o banco espera daqui pra frente estabilidade ou até uma pequena alta na inadimplência.
Contribuiu para que não houvesse uma deterioração maior no crédito, a venda de uma carteira de R$ 238 milhões, inteiramente provisionada, mas que ainda não tinha sido baixada para prejuízo. Se tivesse mantido esses ativos no balanço, haveria um impacto na inadimplência de cerca de 10 pontos bases, segundo o diretor de relações com investidores do Santander Brasil, Angel Santodomingo. “O impacto nos resultados foi marginal”, disse Neste ano, o banco já vendeu R$ 1,38 bilhão em créditos.
A margem financeira líquida do banco aumentou 14,8% em 12 meses, para R$ 5,183 bilhões e foi um dos pontos positivos destacados, por exemplo, por analistas do UBS. O avanço está relacionado ao aumento dos juros cobrados de tomadores. Por outro lado, o retorno sobre o patrimônio líquido anualizado do banco (ROE) manteve-se estável, em 12,8%. “Apesar da melhora sequencial, as despesas ainda vieram significativamente acima de nossas expectativas”, apontaram os analistas do Credit Suisse em relatório.
Na Bovespa, as units do Santander tiveram queda de 3,04%, enquanto o Ibovespa recuou 2,38% no pregão de ontem.
O desempenho do Santander no Brasil representou 19% do resultado do conglomerado espanhol, que apresentou o balanço consolidado ontem. O Grupo Santander teve lucro de € 1,68 bilhão no trimestre, ante € 1,6 bilhão um ano antes, mas a desvalorização do real pesou. A operação brasileira contribuiu com €385 milhões, levando em conta o resultado atribuível ao grupo, ficando atrás apenas do Reino Unido, com €480 milhões, com fatia de 22% no resultado total.
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