Uma nova credenciadora de cartões de crédito e débito, empresa que captura as transações no varejo, trabalha para começar a operar no país até o fim do ano. O projeto é capitaneado pelos criadores da Braspag, empresa de pagamentos que atua em comércio eletrônico e que hoje pertence à Cielo, e terá como sócios o Banco Pan (antigo PanAmericano) e o BTG Pactual, apurou o Valor.
Ainda sem nome, mas chamado internamente de “Projeto Stone” (pedra, em inglês), a credenciadora será o mais novo concorrente de Cielo e de Redecard, que detêm juntas 95% desse mercado.
Neste primeiro momento, a estruturação e gestão do projeto têm à frente o executivo André Street, sócio do fundo Arpex Capital, dos fundadores da Braspag. Augusto Lins, que era diretor comercial da Redecard, teria sido chamado para ser o presidente da nova empresa. Lins já trabalhou na Hipercard e saiu da credenciadora do Itaú Unibanco no fim do ano passado.
O objetivo da nova empresa de cartões será ganhar espaço tanto no mundo físico como no comércio eletrônico. Já estaria sondando lojistas que hoje estão com concorrentes para fazer os primeiros testes.
Além de sócio, o Banco Pan foi o responsável por obter as licenças das grandes bandeiras internacionais de cartões que permitem que uma credenciadora capture transações com cartões da marca. As licenças são concedidas apenas para instituições financeiras e o Pan já conseguiu as autorizações de Visa e MasterCard para o projeto. O Valor apurou que o banco terá participação minoritária no negócio.
O complexo sistema tecnológico para o credenciamento de cartões é desenvolvido internamente junto com a PayTrue, empresa uruguaia de meios de pagamentos que atua na América Latina. A tecnologia inclui ferramentas de processamento das transações, controle da agenda de pagamentos feitos a lojistas, entre outros.
A PayTrue já presta serviços nessa linha fora do Brasil. Contudo, adaptar os sistemas internacionais à dinâmica brasileira dos meios de pagamento já se provou um desafio para credenciadoras estrangeiras que entraram no país, como Elavon e Global Payments. O pagamento parcelado sem juros, uma importante particularidade brasileira, é um exemplo.
A operação de credenciamento de cartões no Brasil é atrativa para os bancos porque costuma ter margens melhores do que a de outros serviços e produtos financeiros. A margem de lucro das duas maiores credenciadoras gira em torno de 40%. Não à toa os maiores bancos são sócios de Cielo (Bradesco e Banco do Brasil) e Redecard (Itaú, que fechou o capital da companhia no ano passado).
A Caixa Econômica Federal tem uma participação acionária pequena na Cielo, mas tem acordos comerciais para a oferta de credenciamento tanto da Redecard quanto da Cielo. Apesar de ser sócia do BTG no Pan, a Caixa não está no projeto da nova credenciadora.
O “Projeto Stone” promete ser a quinta credenciadora a ser criada no Brasil após a quebra das exclusividade entre bandeiras e credenciadoras para captura de transações, em julho de 2010. Até então, só as máquinas da Cielo passavam os cartões Visa e as da Redecard, os da Mastercard.
De lá para cá, o Santander anunciou, em 2010, uma joint-venture com a gaúcha GetNet e conquistou 4,8% do mercado, segundo dados do primeiro trimestre. No fim de 2010, o Citi fechou uma parceria com a americana Elavon. No começo de 2013, a Global Payments se associou ao Banco de Brasília (BRB). O Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) também atua no credenciamento, em parceria com a CSU Cardsystem.
O Banco Central, que recentemente ganhou poderes para regular toda a cadeia do mercado de cartões, tem sido um dos grandes incentivadores da entrada de novos concorrentes no setor. Tanto que a Cielo, hoje a única empresa do segmento com capital aberto, vem preparando os investidores para um aumento na concorrência e perda de participação de mercado.
Procurada, a Arpex Capital não retornou os pedidos de entrevistas até o fechamento da edição. O Banco Pan, o BTG, a PayTrue, a MasterCard e a Visa não quiseram comentar as informações.
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