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Os ricos também financiam

por: Afonso Bazolli
em: Crédito
fonte: Valor Econômico
19 de março de 2013 - 16:05

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Por: Antonio Perez

Sou dono de uma fortuna, logo não tenho por que pegar dinheiro emprestado. Certo? Não mais. A redução dos juros para níveis civilizados tornou obsoleta a velha lógica que sempre guiou a vida financeira dos brasileiros endinheirados. Com uma taxa Selic a 7,25% ao ano, os milionários começam a achar mais vantajoso tomar crédito que pôr a mão no bolso para adquirir bens de valor elevado – imóveis de altíssimo luxo, aviões, helicópteros etc – e até mesmo para realizar investimentos.

O volume de crédito no segmento de private banking – que abriga clientes que têm mais de R$ 1 milhão só para aplicações – cresceu 33,2% no ano passado (até setembro, último dado disponível), mais do que o dobro do visto no caso do crédito para pessoa física em geral. “O mercado ficou aquecido especialmente no segundo semestre, quando os juros já estavam bem mais baixos”, diz Luiz Severiano Ribeiro, diretor do private banking do Itaú. “Nossa carteira de crédito no private cresceu 50% no ano passado. Na parte imobiliária, o volume dobrou.”

A perspectiva dos executivos de bancos ouvidos pelo Valor é a de que o ritmo de expansão dos empréstimos no “private” siga em dois dígitos nos próximos anos. O estoque de crédito no segmento era de R$ 12,75 bilhões em setembro, o que representa apenas 2,6% dos ativos totais sob gestão (R$ 496,2 bilhões). Nos grandes bancos globais, a relação entre ativos e crédito no segmento, em geral supera 10%, dizem executivos do setor. “Em outros países nos quais atuamos, os empréstimos representam 15% dos ativos”, afirma Maria Eugênia López, diretora do private banking do Santander, que registrava, até setembro, um crescimento de 40% nas concessões de crédito para milionários. “No Brasil, começamos a oferecer crédito no private apenas em 2010. O volume geral é baixo e ainda há muito espaço para crescer.”

Segundo João Albino Winkelmann, diretor do Bradesco Private, o crédito passou a ser uma solução real. “Tem sido habitual o cliente tomar um empréstimo-ponte, uma fiança ou um crédito imobiliário ao invés de efetuar o resgate de uma posição vencedora”, diz.

O combustível que alimenta a ascensão do crédito entre os endinheirados é a queda dos juros para o menor nível da história, afirmam os especialistas. Na era da Selic nas alturas, como o custo de contrair dívida era muito elevado, o cliente pegava o próprio dinheiro para investir ou adquirir um bem. Afinal, poucas aplicações financeiras dariam um retorno maior que a taxa do empréstimo. Com a Selic em 7,25%, o cenário é outro. Muitos investimentos – seja em ativos reais, como imóveis, ou em aplicações – provavelmente têm potencial para remunerar o investidor com uma taxa igual e, em muitos casos, superior à da linha de crédito.

“Os clientes podem pagar o que quiserem à vista, mas percebem que não há motivo para desmontar uma carteira de investimentos que rende mais que o custo da dívida”, afirma Gabriel Porzecanski, diretor de private bank do HSBC, cujo carro chefe tem sido empréstimos para aquisição de imóveis, sobretudo nos Estados Unidos.

Afinal, por que se desfazer de parte de uma carteira de ações, que pode render 12%, 15%, 18% ao ano, para comprar um helicóptero se é possível contar com uma linha de crédito de, por exemplo, 9% ao ano? E por que gastar R$ 5 milhões na compra de um imóvel e ficar sem dinheiro na mão para aproveitar uma oportunidade de investimento que pode dar um retorno de 15% e 20%? “Basicamente, é uma questão de liquidez, de ter dinheiro para investir rapidamente”, diz Maria Eugênia, do Santander.

E já existem casos de investidores que, mesmo podendo se dar ao luxo de sacar milhões sem perder a liquidez, preferem tomar crédito para fechar um negócio. É o conceito da “alavancagem financeira”, em que se usa dinheiro dos outros para enriquecer ainda mais, diz o planejador financeiro Fabiano Calil, que presta consultoria na área de gestão de fortunas. A lógica é simples. A pessoa toma um empréstimo no “private” com a taxa de, por exemplo, 9,5% ao ano, para aproveitar uma oportunidade de negócio, como a compra de terreno em uma região promissora. Daqui a dois, três anos, vende o bem por um valor que equivale a um ganho de 15% ao ano. O investidor, então, liquida o empréstimo e embolsa a diferença. É óbvio que se trata de uma aposta. Não há garantia nenhuma de que o investimento vai render mais que o custo da dívida. Mas como o juro é mais baixo, o risco de não dar certo fica menor.

Tradicionalmente discretos quando o assunto é gestão de fortunas, os executivos de bancos recusam-se a revelar quanto cobram dos clientes private. Falam apenas de “taxas muito competitivas”. Como parte expressiva do crédito concedido tem, além da garantia do bem adquirido, os milhões depositados no banco, o risco de inadimplência é praticamente zero. E sem risco de calote, o juro cobrado é bem menor. “Várias operações são feitas com essa garantia dupla, e as taxas são realmente atraentes”, afirma Calil. “Eu mostro cada vez mais para as famílias que atendo que vale a pena usar o crédito como forma de gerar mais riqueza.”

Dependendo do tamanho do patrimônio, os executivos dos bancos e consultores também estimulam as pessoas a formar uma empresa cujo único propósito é cuidar do dinheiro da família, a chamada “holding familiar”. A vantagem é poder tomar crédito como uma pessoa jurídica, que usufrui de empréstimos com juros até mais baixos que a taxa Selic. Um exemplo é uma linha do BNDES com taxa anual abaixo de 3% para empresas comprarem aeronaves de fabricantes nacionais, diz Maria Eugênia, do Santander. “É algo que oferecemos em 2012 a alguns clientes e que deve crescer muito este ano”, diz. “A parte de financiamento com aeronaves tem sido, junto com os imóveis, um grande atrativo no segmento”, afirma Ribeiro, do Itaú.

Das cinco linhas do “private”, a que mais cresceu em 2012 (até setembro) é a de “empréstimos diversos”. São operações de curto prazo, um dinheiro sem o “carimbo” da destinação, que o cliente do private passou a tomar com a queda dos juros. O volume concedido nessa linha avançou 153% e atingiu R$ 3,79 bilhões, o que representa 29,7% do estoque de crédito do segmento private.

Do bolo total de R$ 12,7 bilhões, a maior fatia é do agronegócio (44,7%), cujas concessões avançaram 31,6% no ano passado (até setembro), para R$ 5,63 bilhões. A atração de produtores rurais – que tomam crédito como pessoa física – ao private é em grande parte obra do Banco do Brasil (BB). “Em 2012, o volume de empréstimo no private do BB cresceu mais de 80% “, afirma Rogério Lot, diretor da unidade de private banking da instituição. “E estamos apenas no começo. O cliente do private, em especial o produtor rural, começa a se familiarizar com o crédito”.

O otimismo dos bancos com o avanço dos empréstimos aos endinheirado faz sentido, diz o planejador Calil. Enquanto a classe C bateu no teto do endividamento e machuca com a lança da inadimplência o balanço dos bancos, os ricos ainda têm muito espaço para se endividar. E, para eles, dinheiro para pagar as dívidas não é problema.

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