Por: Felipe Datt

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou, neste mês, um programa para estimular o investimento em inovação e aumentar a competitividade dos negócios de micro, pequenas e médias empresas.

Estão no radar do MPME Inovadora empreendedores que já fizeram algum esforço de inovação no passado, e que precisam se enquadrar em ao menos um requisito: as empresas devem estar localizadas em parques tecnológicos ou incubadoras, ter parceiros de venture capital em sua composição societária, devem possuir ou ter solicitado o registro de patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), ou já ter realizado investimentos em serviços tecnológicos por meio do Cartão BNDES nos últimos três anos.

O programa tem orçamento de R$ 500 milhões e prazo de vigência até 2015, com taxa de juro fixa de 4%. O objetivo é apoiar o plano de negócios, a implantação ou modernização e os investimentos no desenvolvimento de novos produtos e processos. O limite do financiamento por cliente por ano é de R$ 20 milhões, com prazo para pagamento de 10 anos e carência de 3 a 48 meses. “O BNDES criou esse programa para apoiar a inovação na pequena empresa e ajudá-la a colocar seu produto no mercado. As micro, pequenas e médias empresas estão em um segmento que olhamos com carinho”, diz Andrea Varela, do departamento de relacionamento com agentes financeiros e outras instituições do BNDES.

O aumento da participação desse nicho na tomada de recursos fez com que o banco de fomento elegesse os pequenos negócios uma prioridade na nova política operacional, lançada em fevereiro. Os números explicam esse cenário. Os desembolsos totais para esse segmento totalizaram R$ 63,54 bilhões em 2013, um crescimento de 26% na comparação com os R$ 50,12 bilhões do ano anterior. Apenas no ano passado, foram 1,10 milhão de operações. Neste ano, oferta e demanda continuam aquecidas. Apenas no primeiro bimestre, os desembolsos para as PME somaram R$ 11,53 bilhões, alta de 14,98% na comparação com igual período do ano passado. O segmento respondeu por 41% das liberações totais do BNDES no bimestre.

O lançamento de programas como o MPME Inovadora faz parte da estratégia do banco em desenhar linhas de financiamento e produtos que atendam as necessidades específicas das micro e pequenas empresas. Um dos carros-chefe desse nicho ainda é o Cartão BNDES, que consiste em uma linha de crédito rotativo e pré-aprovado de até R$ 1 milhão por banco emissor destinada à compra de mais de 241 mil itens novos, que vão de veículos e maquinário até computadores. Em 2013, os desembolsos superaram R$ 10 bilhões – totalizando R$ 38,4 bilhões desde o lançamento do produto, em 2003 -, em um total de 760 mil operações.

Uma empresa que tomou recursos com o banco recentemente foi a Carob House. Constituída em 2002 em Campina Grande do Sul, região metropolitana de Curitiba (PR), a empresa se especializou em uma novidade no mercado brasileiro: produtos à base de alfarroba, fruto de uma árvore nativa na costa do Mediterrâneo. Mais notadamente, no chocolate feito com esse fruto, sem a adição de cacau, proteína animal ou glúten. A inovação na utilização do pó processado dessa leguminosa para a fabricação de doces rendeu à empresa duas patentes do INPI, e o pedido para outras quatro, à espera de aprovação.

O sucesso dos produtos levou a empresa, em 2012, a buscar recursos no BNDES para financiar seu crescimento. “O atendimento à demanda estava limitado devido ao nosso espaço físico e nossos recursos próprios não permitiam investir no aumento da estrutura”, diz a diretora-executiva da Carob House, Eloísa Helena Orlandi.

A solução foi levantar R$ 1,5 milhão com o banco de fomento, via BNDES Automático e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), para a ampliação da área de produção de 200m² para 850m², e para a aquisição de maquinário. “Dobramos nossa quantidade de maquinário, aumentamos a produção e reduzimos o prazo de entrega de 8 a 10 dias para 48 horas. O próximo passo será ampliar a fábrica para 2.500 m², em um projeto que terá início no final de 2014″, diz.

Outra empresa que financiou suas operações via BNDES foi a Água Mineral Límpida, do Ceará. A história da empresa está intimamente ligada à de seu proprietário, Vicente Guilherme Rios, que, em 2002, perfurou um poço de água mineral em seu pequeno sítio em Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza. Para transformar a descoberta em um negócio, ele vendeu uma micropanificadora, a casa e um carro, e recorreu ao seu primeiro financiamento junto ao BNDES, de R$ 100 mil, via Finame, montando uma pequena fábrica para envasamento da água.

De lá para cá, o negócio decolou. Atualmente, a fábrica tem capacidade de produção de 1.800 garrafões de 25 litros por hora, que já atendem 80 municípios no Estado. “Também montamos uma segunda fábrica, de água adicionada de sais, e uma terceira apenas para a produção dos garrafões. Foram mais quatro financiamentos via Finame, que totalizam R$ 2 milhões, para a construção das novas unidades e a compra de maquinários e caminhões”, diz Camila Fragoso, gerente-administrativa da Água Mineral Límpida e filha do proprietário. No ano passado, a empresa faturou R$ 1,98 milhão.

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