Por: Talita Moreira e Vinícius Pinheiro
Os “eventos de maio” afetaram a confiança e adiaram o processo de retomada do crédito na economia. A afirmação é do presidente-executivo do Itaú Unibanco, Candido Bracher, em uma referência ao agravamento da crise política com a divulgação da delação premiada dos donos do frigorífico JBS.
“Agora provavelmente a demanda vai ser retomada em um ritmo mais lento no segundo semestre deste ano”, disse Bracher, em teleconferência com analistas sobre os resultados do banco. A expectativa do Itaú é que a carteira de crédito encerre o ano no piso das estimativas feitas pelo banco, que variam entre estabilidade e um crescimento de 4%.
O maior banco privado brasileiro encerrou o primeiro semestre com um saldo de financiamentos de R$ 587,3 bilhões. Sem considerar a variação cambial favorável no período, o volume representou uma queda de 1% em relação a março. Em 12 meses, a retração é de 4,2%.
“A demanda por crédito e serviços bancários foi afetada, mas não tão seriamente dada a intensidade dos eventos”, disse Bracher. Para ele, a relativa estabilidade nos mercados após o nervosismo nos primeiros dias pode ser atribuída à boa percepção e à expectativa de continuidade da equipe econômica.
Com o crédito mais fraco, a margem financeira do Itaú registrou queda de 1% em relação ao segundo trimestre do ano passado. A receita menor, contudo, foi mais do que compensada pelas despesas de provisão baixas e descontos nas operações de financiamento, que diminuíram 29,4% no mesmo período.
A melhora na qualidade da carteira de crédito do banco, que apresentou queda da inadimplência em todas as linhas, ajudou o lucro a aumentar 10,7% no segundo trimestre, para R$ 6,169 bilhões. Os investidores reagiram bem aos números. As ações preferenciais (PN) do Itaú, as mais negociadas, fecharam em alta de 3,20%, a maior entre os grandes bancos listados na bolsa. Para os analistas do Credit Suisse, a manutenção da margem financeira no trimestre em um cenário de queda da taxa básica de juros (Selic) foi um dos destaques do resultado.
A expectativa do banco é de manutenção das margens ao longo deste ano, mas a queda da taxa básica de juros (Selic) deve colocar pressão sobre as receitas caso o crédito não volte. “Se os ativos não crescerem, vai ser difícil aumentar os resultados no próximo ano”, disse Bracher.
Para o presidente do Itaú, ainda não está muito claro quais segmentos podem responder primeiro à recuperação da economia. “A retomada pode vir antes no crédito para pessoas físicas. Os empréstimos corporativos vêm em um segundo momento”, afirmou.
Com o lucro em queda e sem demanda por crédito, o Itaú segue acumulando capital. O índice de capital principal do banco, considerando a aplicação integral das regras de Basileia 3, as aquisições dos negócios de varejo do Citigroup no país e a participação na XP Investimentos, ficaria em 13,5% no segundo trimestre, bem acima do mínimo regulatório.
O Itaú considera alternativas para lidar com o excesso de recursos no balanço, entre elas o aumento de dividendos, mas não contempla novas aquisições no momento. “É claro que consideraria [aquisições] se aparecesse algo muito bom e com boa margem, mas não estamos pensando”, afirmou. (Colaborou Álvaro Campos)
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