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Financiamento imobiliário enfrenta estagnação nos EUA

por: Afonso Bazolli
em: Crédito
fonte: Financial Times
17 de agosto de 2014 - 14:04

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Por Tracy Alloway | Financial Times, de Nova York

Jamie Dimon, diretor-presidente do J.P. Morgan Chase, sabe identificar uma empresa quebrada. Em uma conferência telefônica realizada com investidores na semana retrasada para discutir os lucros do banco no segundo trimestre, ele alertou que o J.P. Morgan poderá deixar de conceder financiamentos imobiliários garantidos pela Administração Federal de Habitação (FHA, a agência do governo responsável pelo setor), depois de ter pago mais de US$ 600 milhões em multas por causa de US$ 200 milhões em hipotecas com problemas emitidas durante a bolha imobiliária.

“Perdemos uma quantidade tremenda de dinheiro com a FHA. A verdadeira questão para mim é se deveríamos participar dos negócios da FHA”, disse Dimon ao explicar a queda das concessões de empréstimos imobiliários que podem ser segurados pela agência.

Os comentários de Dimon são emblemáticos de uma tendência que se verifica em Wall Street. O crédito à habitação está estagnado enquanto os bancos e outras instituições financeiras lidam com novas regras e as consequências do maior “crash” imobiliário da história dos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, os empréstimos a muitas empresas americanas aumentaram, ajudando a engrenar a máquina de securitização de Wall Street, que estava adormecida, enquanto o mercado de bônus corporativos se mostra aquecido. Antes, o grande negócio dos bancos e outras instituições financeiras era a concessão e o empacotamento de empréstimos habitacionais, agora é o crédito corporativo que os está mantendo ocupados.

“Criamos esse mercado onde as grandes empresas podem conseguir crédito – em alguns casos mais barato que antes da crise – e ao mesmo está muito difícil para indivíduos e entidades menores obter crédito”, diz Peter Tchir da Brean Capital.

A tendência divergente entre os mercados de hipotecas residenciais e crédito corporativo se mostra no momento em que um número crescente de investidores, analistas e autoridades reguladoras soam o alarme sobre um possível aquecimento excessivo do endividamento comercial e dos empréstimos.

No mesmo dia em que Dimon falou com os investidores, Janet Yellen, a presidente do Federal Reserve (Fed), disse em um pronunciamento que nas “dívidas corporativas de classificação mais baixa, as avaliações parecem exageradas e as emissões estão aquecidas”.

As vendas de bônus “junk” emitidos por companhias com baixas classificações de crédito já somam US$ 210,8 bilhões este ano – o maior período de vendas desde pelo menos 2000, segundo dados da Dealogic. Os empréstimos alavancados concedidos a companhias com avaliação “junk” (de maior risco) estão em US$ 361,5 bilhões até agora, segundo dado da S&P Capital IQ, após um recorde de US$ 606,9 bilhões em 2013 como um todo.

Os bônus lastreados em empréstimos habitacionais não dominam mais o mercado de dívida dos EUA. O volume de bônus corporativos em circulação alcançou US$ 9,9 trilhões, superando facilmente o dos títulos lastreados em hipotecas residenciais, de US$ 8,1 trilhões, incluindo aqueles garantidos pelas financiadoras habitacionais do governo dos EUA

Wall Street acostumou-se a produzir em abundância obrigações de dívida garantidas (CDOs, na sigla em inglês) consistidos de bônus hipotecários; agora, caminha para a criação de um volume recorde de obrigações de empréstimos garantidas (CLO, na sigla em inglês), que agrupam empréstimos alavancados. Pelo menos dez novos gestores de CLOs venderam negócios este ano, enquanto dezenas de instituições de distribuição canalizada passaram a criar títulos lastreados em hipotecas comerciais.

“O mercado comercial e o mercado de empréstimos alavancados, que estão sendo parcialmente financiados pelo mercado de CLOs, são como estacionamentos abarrotados de empréstimos habitacionais”, diz Chris Flanagan do Bank of America Merrill Lynch.

Os investidores têm sido atraídos pelos maiores rendimentos oferecidos pelas aplicações em crédito corporativo. O setor também vem se saindo melhor que o esperado depois da crise de 2008, uma vez que companhias pressionadas foram capazes de aproveitar as baixas taxas de juros para fazer refinanciamentos, enquanto produtos como os CLOs apresentaram taxas de “default” muito baixas em comparação às securitizações compreendidas de empréstimos habitacionais.

Banqueiros afirmam que uma combinação de vários fatores os está impedindo de conceder empréstimos habitacionais e de transformar crédito habitacional em bônus possíveis de serem vendidos. A reforma no setor habitacional continua parada em Washington, os detalhes de muitas das novas regras de concessão de empréstimos ainda não foram finalizados e há uma preocupação persistente com ações judiciais.

“Não dá para emprestar e ganhar um ponto-base ou dois, e ter de pagar 40 pontos-base em custos legais. Este é o aspecto econômico atual dos negócios”, diz um banqueiro que pediu para não ter o nome revelado. “As regras estão sendo reescritas no meio do caminho ao longo do processo todo.” O aquecimento do mercado de crédito corporativo não passou despercebido das autoridade reguladoras, que no ano passado emitiram diretrizes para limitar a concessão de empréstimos alavancados pelos bancos.

Alguns banqueiros e analistas temem, em silêncio, que o crescimento dos mercados de crédito corporativo possa sobrepujar a recuperação da economia real, mas a maioria concorda que o “boom” deverá prosseguir enquanto as taxas de juros permanecerem tão baixas. Flanagan, do Bank of America Merrill Lynch, diz: “Isso poderá continuar por algum tempo, mas em algum momento chegaremos ao ponto em que haverá um descolamento grande demais dos fundamentos básicos, de maneira parecida com o que ocorreu no mercado imobiliário residencial antes de 2008″.

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