Por: Talita Moreira
Apesar do aumento na oferta de crédito para empresas, as factorings ainda são a principal fonte de recursos para milhares de pequenas companhias brasileiras. O volume movimentado pelo setor, de R$ 100 bilhões, cresceu 11% no ano passado e a previsão é que avance mais 20% em 2014, segundo a Associação Nacional de Fomento Comercial (Anfac).
A concorrência com os bancos intensificou-se nos últimos anos. No entanto, mesmo com o avanço na bancarização, muitas companhias de pequeno porte ainda não conseguem atender as exigências das instituições financeiras. É sobretudo nesse espaço que as factorings – que compram recebíveis com desconto sobre o valor total – ainda navegam quase sozinhas.
“Ainda existe no Brasil uma lacuna financeira para suprir a necessidade das pequenas e médias empresas. Há muita competição com os bancos, mas falta crédito”, afirma João Costa Pereira, presidente da BrasilFactors, controlada pelo BicBanco, pelo FIMBank e pelo IFC (braço do Banco Mundial que investe no setor privado).
No sistema bancário tradicional, o total de desembolsos para empresas superou R$ 1,6 trilhão de janeiro a novembro do ano passado, segundo o Banco Central (BC).
Em muitos casos, as pequenas empresas encontram nas factorings taxas parecidas com as dos bancos. Pesquisa concluída no fim de 2013 pelo Sinfac-SP, sindicato que reúne as empresas paulistas de fomento mercantil, aponta que 52,75% das factorings do país operam com um fator médio de desconto de 3% a 4% ao mês. Na máxima, a taxa pode chegar a 7% para um pequeno grupo, segundo o levantamento..
Para atender a demanda sem comprometer mais capital, as maiores factorings passam por um processo de transformação, com a migração do modelo tradicional de fomento mercantil para os fundos de recebíveis (Fidc) e securitizadoras, o que também tem vantagens fiscais. Alguns dos principais nomes do setor – como SRM e Silverado – já adotam esse caminho.
Em novembro, o patrimônio líquido de Fidc de fatorings somava R$ 6,2 bilhões, com alta de 16,75% em relação ao mesmo mês de 2012, aponta a consultoria Uqbar. O número de fundos subiu de 122 para 129 nesse intervalo.
A transição, entretanto, é lenta. Dados do Sinfac-SP mostram que apenas 2,13% das factorings do país constituíram Fidc e outras 3,19% formaram sociedades de propósito específico para securitização de recebíveis. Mais da metade (56,39%) pretende continuar no modelo tradicional e não tem planos de adotar essas atividades.
É o caso do Grupo Centerpar, de Bauru (SP), que atende empresas no interior paulista. “Por enquanto, não temos planos de trabalhar com Fidc. Talvez daqui a uns dois anos”, afirma Divaldo Disposti, coordenador-geral, acrescentando que o grupo quer ter mais tempo para entender as regras do mercado de capitais. Ele não revela o volume negociado pela companhia.
Tamanho, nesse caso, importa. A escala será determinante para selecionar quais factorings poderão constituir fundos e mantê-los, observa Arturo Profili, sócio da Capitânia, gestora de recursos, que investe em cotas de Fidc. Para ele, o segmento é restrito a empresas de fomento mercantil com carteiras de pelo menos R$ 100 milhões.
Na avaliação de Profili, das cerca de uma centena de factorings que migraram ou estão em transição para o modelo de fundos ou securitização, só 20% têm condições de sobreviver no mercado de capitais.
A maioria das factorings tem até cinco funcionários e negocia valores baixos, diz o presidente do Sinfac-SP, Hamilton de Brito Jr. Conforme a pesquisa, 57,15% giram em média até R$ 1 milhão por mês, grande parte em operações de curtíssimo prazo. Quase 90% das carteiras vencem em até 60 dias.
Duplicatas (46,31%) e cheques pré-datados (36,84%) ainda são, de longe, os ativos mais negociados. “Muitas companhias têm problemas de gestão, de organização, de estoques. É nessas atividades que atuamos”, afirma Lemos, da Anfac.
“Quando as empresas recorrem a nós, é porque já estão fora dos bancos”, diz Disposti, do Grupo Centerpar. Por isso mesmo, diz ele, quando a economia desacelera, as factorings ganham espaço. Foi o que aconteceu na segunda metade do ano passado, quando a procura pelos serviços da companhia aumentou. O volume de operações em atraso também cresceu: saltou de 2% a 3% para 5%.
As dificuldades também se refletiram nos Fidcs. O volume de provisões para devedores duvidosos (PDD) nos fundos lastreados em créditos originados de factorings cresceu 64% entre novembro de 2012 e o mesmo mês do ano passado, segundo a Uqbar. As parcelas em atraso representavam 22% do patrimônio dos Fidc.
Costa, da BrasilFactors, afirma que a separação existente no Brasil entre bancos e factorings não se reproduz em outros mercados. “No exterior, é comum que os bancos tenham suas próprias factorings para prestar serviços e oferecer capital de giro”, observa.
Para executivos do setor, a falta de uma regulação específica, que defina os limites de atuação, prejudica as empresas de fomento mercantil. Há mais de 12 anos, o Congresso discute um projeto de lei sobre o tema. Também está previsto que o BC passe a supervisionar as factorings. Até agora, porém, a tramitação não foi concluída. “Esperamos conseguir a aprovação em 2014. Isso acabaria com a insegurança jurídica do setor”, diz Brito, do Sinfac-SP. (Colaborou Vinícius Pinheiro)
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